Leia 10 cr?nicas de Luis Fernando Verissimo publicadas no GLOBO
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 22h18)O escritor Luis Fernando Verissimo morreu, neste sábado (30), aos 88 anos, em Porto Alegre, Rio Gran
Leia 10 cr?nicas de Luis Fernando Verissimo publicadas no GLOBO
O escritor Luis Fernando Verissimo morreu,estrategias para jogar roleta neste sábado (30), aos 88 anos, em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. O cronista havia sido internado em estado grave devido a um princípio de pneumonia. Nos últimos anos, Verissimo também tratou um cancer na mandíbula, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) que o deixou com sequelas e foi diagnosticado com doen?a de Parkinson. Trajetória: de ‘filho do Erico’ a comentarista consagrado da realidade nacionalMestre: 12 livros imperdíveis de Luis Fernando Verissimo, autor das 'Comédias da vida privada' Nascido em 1936 e filho do escritor Erico Verissimo, o autor era conhecido como um dos mais importantes cronistas contemporaneos no Brasil. Ele estreou nas páginas do GLOBO ainda em fevereiro de 1999, com a brilhante conjuga??o de ironia e reflex?o que construiu uma legi?o de f?s das mais variadas idades. Com textos bem humorados, repletos de críticas e reflex?es, o cronista navegava por temas que iam desde a política nacional até a cobertura da Copa do Mundo. Abaixo, leia 10 artigos publicados pelo escritos ao longo dos 25 anos em que foi colunista do GLOBO. Luis Fernando Verissimo, mestre do humor e da cr?nica 1 de 15 Luis Fernando Verissimo nasceu em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no dia 26 de setembro de 1936 — Foto: Marizilda Cruppe / Agência O Globo 2 de 15 Erico Verissimo com seu filho Luis Fernando Verissimo, na Rua da Praia, 1957 — Foto: Arquivo / Agência O Globo Pular X de 15 Publicidade 15 fotos 3 de 15 Foi publicitário, revisor de jornal e até saxofonista em conjuntos musicais. Publicou mais de 80 títulos — Foto: Marizilda Cruppe / Agência O Globo 4 de 15 Luis Fernando Verissimo em frente à residência onde a família vive desde 1941 — Foto: Leo Martins / Agencia O Globo Pular X de 15 Publicidade 5 de 15 O escritor Luis Fernando Verissimo ganhou o Prêmio Faz Diferen?a na categoria Prosa. — Foto: M?nica Imbuzeiro / Agência O Globo 6 de 15 Luis Fernando Verissimo em 2019 — Foto: Foto: Ricardo Jaeger Pular X de 15 Publicidade 7 de 15 Em janeiro de 2021, o escritor sofreu um AVC em casa, que afetou suas fun??es cognitivas enquanto se recuperava de uma cirurgia. — Foto: M?nica Imbuzeiro 8 de 15 Luis Fernando Verissimo com f?s na Festa Literária de Paraty. — Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo Pular X de 15 Publicidade 9 de 15 Luis Fernando Verissimo na Flip, em Paraty — Foto: André Teixeira / Agência O Globo 10 de 15 Ed Mort: todas as histórias de Luis Fernando Verissimo — Foto: Divulga??o Pular X de 15 Publicidade 11 de 15 Luis Fernando Verissimo e sua esposa, Lúcia, em um evento no Copacabana Palace. — Foto: Marcos Ramos 12 de 15 Zuenir Ventura, Luis Fernando Verissimo e Ziraldo no ensaio do musical Barbaridade — Foto: Leo Martins / Agencia O Globo Pular X de 15 Publicidade 13 de 15 Luís Fernando Verissimo e Fernanda Montenegro no lan?amento do livro de 40 anos de carreira de Marília Kranz — Foto: Divulga??o / Paulo Jabur 14 de 15 Luis Fernando Verissimo entrevistou o jogador Ronaldinho Gaúcho no Kempinski Falkenstein Hotel — Foto: Ivo Gonzalez Pular X de 15 Publicidade 15 de 15 Glória Maria e Luis Fernando Verissimo em um evento nos EUA — Foto: Divulga??o Escritor tornou-se referência por seus textos na imprensa, romances e tirinhas 1 - ‘IN ENGLISH’ 23 de fevereiro de 1999 Iam writing this in English to set an example. I think the Brazilian press has the patriotic duty to start publishing news and opinion in English so the people at IMF can know what is going on here on a daily basis without having to wait for reports and resumes. With the troublesome Portuguese out of the way, they can assess our situation directly by reading our newspapers and make the necessary decisions more quickly. Mr. Stanley Fischer wont have to shout “Terezinha!”, like the late “Little Farm”, every time he wants Teresa What's-Hername to make a bad translation or clarify a language poinf for him, before telling us what to do. (Sorry, Stanley. Inside joke. “Little Farm”, or “Chacrinha”, was a TV personality who... Forget it. It has nothing to do with our present fix or with you). A good part of our newspapers is already printed in English anyway, specially the real-estate advertising sections (“Manhattan Business Flats” etc.) and it is a well known fact that the Economy sections have been written in Greek for years. Most people in Brazil won’t understand what they are reading but that will be for their own good, as the news gets worse and worse, and it will help to avoid panic. I plan to write in English from now on, reverting to Portuguese only in the case of untranslatable words like “marketing”, “currency board” etc. and hope that the responsible press will follow my lead. (Resumo para quem ainda usa língua obsoleta. Estou escrevendo em inglês porque acho que a imprensa brasileira tem o dever patriótico de passar a usar uma língua que o FMI entenda, para o Stanley Fischer n?o ter que gritar “Terezinha!”, como o Chacrinha, toda vez que precisar daquela Teresa Qual-Quercoisa para uma má tradu??o ou para esclarecer uma dúvida do português, antes de nos dizer o que fazer. Boa parte dos nossos jornais já é escrita em inglês, com o os anúncios de imóveis (“Manhattan Business Flats” etc.) e todos sabem que as se??es de economia s?o escritas em grego há anos. A maioria dos brasileiros n?o entenderá o que está lendo mas isto será para o seu próprio bem, já que as notícias tendem a ficar cada vez piores, e ajudará a evitar o panico. Pretendo escrever em inglês daqui por diante, só recorrendo ao português no caso de palavras intraduzíveis como “marketing”, “currency-board” etc. e espero que a imprensa responsável siga meu exemplo. Perd?o, revis?o). 2 - Uma nuvem inédita no céu de Nova York 11 de setembro de 2001 (em Nova York) N?o havia uma nuvem no céu de Nova York pela manh?. Era um perfeito dia pré-outonal nesta cidade, que fica particularmente bem no outono, e nosso programa incluiria caminhada matinal pelo Central Park para comemorar o fim do calor e das chuvas que pegamos desde a nossa chegada, no domingo. Mas todos os planos e possivelmente todas as vidas do mundo mudaram em pouco mais de meia hora. Antes das 9h, uma nuvem que ninguém poderia prever ou imaginar cobria a ponta sul da ilha de Manhattan, onde as torres ardiam. Uma nuvem que aumentou com a queda dos dois arranha-céus e ainda perdura no ar enquanto escrevo. Estamos longe do sul de Manhattan, e o que se vê nas ruas aqui por perto é apenas incredulidade, gente que mora fora da cidade se comunicando com suas casas, já que todas as saídas da ilha foram fechadas, e uma certa calma resignada, como se a tragédia fosse fen?meno natural — talvez porque as cenas que dar?o a verdadeira dimens?o do horror, a dos mortos entre os escombros das torres destruídas, ainda n?o foram ao ar. é difícil saber neste momento o que a nuvem inédita, cujo único precedente para os americanos é a fuma?a que pairou sobre Pearl Harbor durante dias depois do ataque japonês, prenuncia. As TVs mostraram cenas de palestinos comemorando os atentados. Todas as especula??es sobre sua autoria envolvem o fundamentalismo mu?ulmano, e o efeito mais direto do terror será, provavelmente, uma mudan?a radical do posicionamento americano no conflito entre judeus e palestinos, que tinha evoluído, na transi??o de Clinton para Bush, de envolvimento cauteloso para distanciamento cauteloso. Se as especula??es estiverem certas, o distanciamento perdeu sentido: a guerra do Oriente Médio foi trazida, espetacularmente, para cá. Os Estados Unidos passaram por duas guerras mundiais sem serem atacados, descontado o bombardeio do seu território havaiano. Com o fim do confronto com a Uni?o Soviética, e da própria Uni?o Soviética, acabou o pavor de uma guerra nuclear. Mas a nuvem cobrindo os destro?os do World Trade Center n?o foi a única cena inédita deste dia do qual, confesso, eu estou esperando acordar a qualquer momento. Inédito também foi ver americanos e visitantes olhando para o céu ao ouvir ruídos de avi?es, sem saber se s?o amigos ou inimigos. 3 - épico 26/09/2013 O futebol de cal?ada era com narra??o, e o próprio jogador fornecia a narra??o. Jogava e descrevia sua jogada ao mesmo tempo, e nunca deixava de se autoentusiasmar. “Sensacional, senhores ouvintes!” (Naquele tempo os locutores tratavam o público de “senhores ouvintes”). “Sensacional! Mata no peito, p?e no ch?o, faz que vai mas n?o vai, passa por um, por dois... Fáu! Foi fáu do béque! O juiz n?o deu! O juiz está comprado, senhores ouvintes!” Fáu era “foul” e béque era “back”, na língua daquela terra estranha, o passado. E o juiz, claro, era imaginário. Tudo era imaginário no futebol de cal?ada, a come?ar pela nossa genialidade. A bola era de borracha, quando n?o era qualquer coisa remotamente redonda. O bola número cinco oficial de couro ganha no Natal n?o aparecia na cal?ada, tá doido? Estragar uma bola de futebol novinha jogando futebol? Mas éramos gênios na nossa própria narra??o. “Lá vai ele de novo. Cabe?a erguida! Passa a bola e corre para receber de volta... Que lance! O passe n?o vem! N?o lhe devolvem a bola! Assim n?o dá, senhores ouvintes ... Só ele joga nesse time!” A narra??o dava um toque épico ao futebol. Lembro que na primeira vez em que fui a um campo, acostumado a só ouvir futebol pelo rádio, senti falta de alguma coisa que n?o sabia o que era. Tudo era maravilhoso, o público, o cheiro de grama, os ídolos que eu conhecia de fotografias desbotadas no jornal ali, em cores vivas... Mas faltava alguma coisa. Faltava uma voz me dizendo que o que eu estava vendo era mais do que estava vendo. Faltava a narrativa heróica. Faltava o Homero. Na cal?ada éramos os nossos próprios heróis e os nossos próprios Homeros. “Aten??o. Ele olha para o gol. Vai chutar. Lá vai a bomba. O goleiro treme. Ele chuta! A bola toma efeito. Entra pela janela. E lá vem a m?e, senhores ouvintes! A m?e invade o campo. Ele tenta se esquivar. Dá um drible espetacular na m?e. Dois. A m?e pega ele pela orelha. Pela orelha! E o juiz n?o vê isso!” Mesmo se nem tudo merecesse o toque épico. 4 - Fiu-fiu 03/08/2014 Lan?aram agora um celular à prova d’água, que você pode usar no chuveiro. Ou em qualquer outro lugar embaixo d’água. No mar, por exemplo. — Bem, n?o me espere para o jantar... — Onde você está? — Sabe a nossa pesca submarina? — O que houve? — Pensei que fosse uma garoupa e era um tubar?o. E ele está vindo na minha dire??o. — Você ainda está embaixo d’água?! — Estou. — E o seu arp?o? — O tubar?o engoliu! — Ligue para a Guarda Costeira! S?o cada vez mais raros os lugares em que você pode se ver livre de celulares, e agora nem as piscinas est?o seguras. Os celulares s?o práticos e se tornaram indispensáveis, eu sei, mas empobreceram a vida social. Existe coisa mais melancólica do que uma mesa de quatro pessoas, num restaurante, em que três est?o dedilhando seus smartphones e uma está falando sozinha? Ou um casal em outra mesa, os dois mergulhados nos respectivos celulares sem nem se olharem, o que dirá se falarem — a n?o ser que estejam trocando mensagens silenciosas entre si, o que é ainda mais triste? Os celulares podem ser perigosos de várias maneiras, mesmo que n?o derretam o cérebro, como se andou espalhando há algum tempo. Imagino uma velhinha que ganhou um celular dos netos sem que estes se dessem ao trabalho de explicar seu funcionamento para a vovó. N?o contaram, por exemplo, que o celular dado assobia quando recebe uma mensagem. é um assovio humano, um nítido fiu-fiu avisando que alguém ligou, e que pode soar a qualquer hora do dia ou da noite. E imagino a vovó, que mora sozinha, dormindo e, de repente, acordando com o assovio. Um fiu-fiu no meio da noite! A vovó, se n?o morrer imediatamente do cora??o, pode ficar apavorada. Quem está lá? Um ladr?o ou um fantasma assoviador? E o assovio tem algo de galante. A vovó pode muito bem sair da cama, sem saber se está acordada ou sonhando, e caminhar na dire??o do fiu-fiu sedutor, como se tivessem vindo buscá-la. Alguém pensou nas vovós solitárias quando inventou o assovio? O fato é que n?o há mais refúgio. Nem castelos anti-smartphones com um fosso em volta. Eles agora podem atravessar o fosso. 5 - O clima 01/04/2018 Oi. — Como, “oi”? — Oi. Olá. Tudo bem? — Nós nos conhecemos? — N?o. Eu só quis ser cortês. — Como, “cortês”? — Agradável. Cordial com um concidad?o. Temos muitas coisas em comum. — O que, por exemplo? — Bom... Somos dois bípedes da mesma espécie. Dois mamíferos brasileiros, com mais ou menos a mesma idade, esperando um ?nibus. Tivemos uma m?e... — Epa. — Cada um teve a sua, claro. E um pai. — E daí? — Estamos na mesma parada de ?nibus. Talvez esperando o mesmo ?nibus. Eu quis ser simpático e... — Como, “simpático”? — Simpático. Civilizado. Afinal, antes de mais nada, somos dois seres humanos... — Iiih. Lá vem aquele papo de direitos humanos. — Você é contra direitos humanos? — Pra bandido, sou. “Humano” virou sin?nimo de bandido. Humano, tem que fuzilar. E “civilizado” é sin?nimo de frouxo. Aposto que você n?o concorda. — N?o. — Eu sabia. Você tem um jeitinho de civilizado. Cuidado. Quando os comunistas voltarem ao poder no Brasil, v?o pegar os civilizados primeiro. — Por que a gente n?o escolhe um assunto no qual podemos concordar? Futebol. Cada um tem seu time, mas todos torcemos pela sele??o do Tite. N?o é mesmo? Também podemos concordar sobre o clima. O outono está chegando, o clima está ótimo... — Tá brincando? O clima nunca esteve t?o ruim no Brasil... E lá vem o meu ?nibus. — O meu é outro. — Eu já imaginava. — Ent?o... Felicidade. — Como, “felicidade”? 6 - Os seis minutos 10/07/2014 A primeira coisa a fazer, já que o Thiago Silva n?o poderia jogar, era apresentar o David Luiz ao Dante. Os dois conversariam, talvez num jantarzinho, trocariam confidências e fotos das crian?as, e combinariam como jogar contra os alem?es. Aparentemente, isto n?o aconteceu. Quando David Luiz e Dante finalmente se conheceram, se apertaram as m?os (“muito prazer”, “muito prazer”, “precisamos nos encontrar!”) já estava cinco a zero para a Alemanha. Outra coisa: houve uma confus?o nas convoca??es. O Felip?o chamou o Fred do ano passado, um dos melhores jogadores da Copa das Confedera??es, e quem apareceu foi o Fred deste ano, claramente um impostor. Ninguém se lembrou de checar sua documenta??o. E o Felip?o n?o poderia saber que tinha convocado o Fred errado. Outro azar: a partida ter terminado em 7 a 1. Até os 7 a 1 foi um desastre, um vexame, um escandalo — tudo que saiu nos jornais. Mas ainda estava dentro dos limites do concebível. Era cruel, era difícil de engolir, mas era um escore até com precedentes, inclusive na história das Copas. Mas se os alem?es tivessem feito mais três gols, apenas mais três, entraríamos no terreno do fantástico, do inimaginável, da galhofa cósmica. A única rea??o possível a um 10 a 1 seria uma grande gargalhada, que nos salvaria do desespero terminal. Nada mais teria sentido no mundo, portanto nada mais nos afligiria, e todos estariam perdoados, inclusive o Felip?o e a CBF, absolvidos pelo ridículo. Mas n?o tivemos nem a ben??o de perder de 10. Proponho o seguinte consolo: vamos descontar aqueles seis minutos em que o alem?es fizeram quatro gols como uma invas?o do sobrenatural. Uma espécie de catatonia coletiva, de origem desconhecida, que paralisou nosso time. Os quatro gols marcados durante os seis minutos de inconsciência só de um lado, portanto, n?o valeram. O escore real, livre de qualquer interven??o extrafutebol, foi 3 a 1. Um escore respeitável, com o qual todos poderemos viver. FINAL E Argentina e Alemanha far?o a grande final, no domingo. Todos torcendo pela América contra a Europa, nossos irm?os continentais contra os nossos algozes, nossos co-colonizados contra os senhores do mundo etc. A esta altura, só nos resta a hipocrisia. 7 - Outra carta da Dorinha 01/09/2018 Recebo outra carta da “ravissante” Dora Avante. Como se sabe, Dorinha diz que só Deus sabe sua idade e confia na sua discri??o. Mas ela garante que n?o é t?o velha assim: pegou o Getulio Vargas no colo, é verdade, mas ele já era presidente na ocasi?o. E diz que é completamente “fake” a história de que foi a primeira brasileira a fazer “top-less”, até ser corrida da praia pelo padre Anchieta. Sua carta veio, como sempre, escrita com tinta lilás em papel roxo, cheirando a “Ravage Moi”, um perfume proibido pela Igreja a n?o ser para certos bispos. Eis a carta: “Caríssimo. Beijíssimos! Sim, sou eu, ou um fac-símile razoável. Depois da última plástica sobrou muito pouco do original. A “saison” me pegou desprevenida (sem marido e, pior, sem cart?o de crédito) e tive que enfrentar o inverno em Angra dos Pobres, que é como chamamos Miami. No avi?o havia trezentas crian?as a caminho do Disneyworld. Cada vez entendo menos as críticas a Herodes, claramente um injusti?ado pela História. Estou em miss?o para o nosso grupo de carteado e press?o política, as Socialaites Socialistas, que lutam pela instala??o no Brasil de um comunismo dos últimos dias, com a volta do tzarismo. Com as elei??es presidenciais se aproximando no Brasil e com muita conversa sobre taxar grandes fortunas, estou examinando o terreno para um possível exílio do grupo, dependendo do resultado do pleito. Eu deveria saber que meu arqui-inimigo e péssimo roteirista, o Destlno, me seguiria até a Flórida. Conheci um americano chamado Clyde, inclusive no sentido bíblico, numa vers?o condensada, pois fomos rapidamente de Atos a Apocalipse quando descobri que Clyde n?o era um milionário americano como eu pensava mas se chamava Argemiro e era do Espírito Santo. Acho que, ven?a quem ven?a, ficaremos no Brasil. Onde, pelo menos, cada vez que você diz “Jesus” n?o aparece um cubano e diz “Sí?” Da tua preocupada Dorinha.” 8 - Ter ou n?o ter 03/07/2016 Vida, tome nota, é o nome que se dá à passagem de ainda n?o ter idade para n?o ter mais idade. às vezes me pego pensando no que vou ser quando crescer e me dou conta de como minhas op??es diminuíram. N?o tenho mais idade para ser nada. Só me animo quando escolhem um novo Papa, e todos na lista de prováveis candidatos est?o perto dos 80. Ser Papa é uma das poucas coisas a que ainda posso aspirar. Mas n?o sou nem cardeal. Aliás, nem religioso. Minha única credencial para o cargo é a idade. Devo ter deixado minha fé no bolso da fatiota azul, de cal?as curtas, com que fiz minha primeira comunh?o. Invejo quem tem fé, mas minha religi?o particular é uma espécie de panteísmo urbano (devo??o por pastéis de carne e boas livrarias e a cren?a de que há, sim, um deus: o oboé, que, além de ser um instrumento maravilhoso, é o que afina todos os outros). E penso com saudade dos bons tempos em que, em vez de n?o ter mais idade, ainda n?o a tínhamos. E sonhávamos com tudo o que viria, quando tivéssemos. Entrar em filme proibido até 14 anos. Beber e fumar. (O importante n?o era a bebida e o cigarro, era a pose que os adultos faziam bebendo e fumando. Eu n?o via a hora de ficar adulto para poder bater com a ponta do cigarro na minha cigarreira prateada. Ficar adulto era adquirir a pose). Ainda n?o ter idade significava n?o beijar como beijavam nos filmes proibidos até 14, já que nos proibidos até 18 ninguém sabia o que acontecia. Já ter idade significava poder ficar acordado até mais tarde, ganhar a chave da casa, eventualmente até deixar crescer um bigodinho. Ainda n?o ter idade era como ficar pinoteando no partidor, indócil, como um cavalo esperando a largada. N?o ter mais idade é ficar com esta impress?o que até um ato de revolta por tudo o que n?o fizemos quando tínhamos idade e agora n?o dá mais, n?o seria apropriado para a nossa idade. Vida é essa lenta transforma??o de uma frase, de ainda n?o ter idade a n?o ter mais idade. Ou de poder ser, teoricamente, tudo que se sonhasse no futuro, ou só poder ser, teoricamente, Papa. E por pouco tempo. 9 - O futuro no passado 24/07/2016 Poucas previs?es para o futuro feitas no passado se realizaram. O mundo se mudava do campo para as cidades, e era natural que o futuro idealizado ent?o fosse o da cidade perfeita. Mas o helicóptero n?o substituiu o automóvel particular e só recentemente come?ou-se a experimentar carros que andam sobre faixas magnéticas nas ruas, liberando seus ocupantes para a leitura, o sono ou o amor no banco de trás. As cidades n?o se transformaram em laboratórios de convívio civilizado, como previam, e sim na maior prova da impossibilidade da coexistência de desiguais. A ciência trouxe avan?os espetaculares nas lides de guerra, como os bombardeios com precis?o cirúrgica que n?o poupam civis, mas n?o trouxe a democratiza??o da prosperidade antevista. Mágicas novas como o cinema prometiam ultrapassar os limites da imagina??o. Ultrapassaram, mas para o território da banalidade espetaculosa. A TV foi prevista, e a energia nuclear intuída, mas a revolu??o da informática n?o foi nem sonhada. As revolu??es na medicina foram notáveis, certo, mas a preven??o do cancer ainda n?o foi descoberta. Pensando bem, nem a do resfriado. A comida em pílulas n?o veio — se bem que a nouvelle cuisine chegou perto. Até a coloniza??o do espa?o, como previam os roteiristas do “Flash Gordon”, está atrasada. Mal chegamos a Marte, só para descobrir que é um imenso terreno baldio. E os profetas da felicidade universal n?o contavam com uma coisa: o lixo produzido pela sua vis?o. Nenhuma previs?o incluía a polui??o e o aquecimento global. Mas assim como os videntes otimistas falharam, talvez o pessimismo de hoje divirta nossos bisnetos. Eles certamente falar?o da Aids, por exemplo, como nós hoje falamos da gripe espanhola. A ciência e a técnica ainda nos surpreender?o. Estamos na pré-história da energia magnética e por fus?o nuclear fria. é verdade que cada salto da ciência corresponderá a um passo atrás, rumo ao irracional. Quanto mais perto a ciência chegar das últimas revela??es do Universo, mais as pessoas procurar?o respostas no misticismo e refúgio no tribal. E quanto mais a ciência avan?a por caminhos nunca antes sonhados, mais leigo fica o leigo. A volta ao irracional é a birra do leigo. 10 - O tomate 31/07/2016 Cristov?o Colombo examinou o tomate que o indígena acabava de lhe dar e exclamou: — Um pomo d’oro! O tomate reluzindo ao sol da América recém-descoberta pareceu ao almirante uma ma?? selvagem. Colombo perguntou ao indígena para que servia aquilo. — Saladas — respondeu o nativo. — Refogados. Molhos. Colombo pensou na sua avó italiana, que cozinhava o espaguete que Marco Polo trouxera do Oriente, mas sempre reclamava que faltava alguma coisa. Colombo descobrira, além da América, o que faltava na macarronada da nonna . O índio quis saber o que Colombo lhe daria em troca do tomate, e Colombo lhe deu uma mi?anga. Que outras novidades o índio tinha para oferecer? A batata. Colombo teve uma premoni??o de fritas, noisettes e rotis, botou a batata na algibeira e deu em troca um espelhinho. O que mais? O fruto do cacaueiro, de onde sairia o chocolate, com importante repercuss?o na história do mundo, principalmente da Suí?a e da Bahia. E Colombo trocou o cacau por outro espelhinho. O que mais? Fumo. Em breve todos estariam experimentando as delícias do tabaco, e o novo hábito se espalharia. Como um brinde, o índio incluiu no pacote a planta da coca, que daria um barato ainda maior. O que mais? Milho. Aipim. Papagaios. E essa argola que você tem no nariz. é de ouro? Manda. E Colombo ordenou a seus homens que recolhessem todas as argolas de ouro que encontrassem e, se fosse preciso, trouxessem os narizes junto. Em troca, ofereceu mais contas, que o índio recusou. Ofereceu mais mi?angas. Moedinhas. Chaveiros. Vales-transporte. O índio recusou tudo. E como era impossível derrotar os invasores pelas armas, o índio amaldi?oou Colombo, e praguejou. Que a batata tornasse a sua ra?a obesa, o chocolate enchesse suas artérias de colesterol, o fumo lhe desse cancer, a cocaína o enlouquecesse, e o ouro destruísse a sua alma. E que o tomate se transformasse em ketchup. Mais recente Próxima Morre Luis Fernando Verissimo, mestre da cr?nica e do humor, aos 88 anos Inscreva-se na Newsletter: Seriais Inscrever :root { --news-contextualizada-font: OGloboTitleFontBold,OGloboTitleFontFallback; --news-contextualizada-primary-color: #1e4c9a; } Luis Fernando Verissimo Mais do Globo .post-notifier-pushstream{ display:none}.bstn-fd .bastian-card-mobile,.bstn-item-shape,.tag-manager-publicidade-banner_feed_esppub--visivel .tag-manager-publicidade-banner_feed_esppub{ background-color:#fff;contain:layout paint style;margin:16px 0 0;overflow:hidden}.feed-media-wrapper{ margin:24px -24px 0}.bstn-fd-item-cover{ background-color:#ccc;background-position:50%;background-size:cover;height:0;overflow:hidden;padding-top:56.25%;position:relative;width:100%}.bstn-fd-cover-picture{ position:absolute;top:0;left:0;height:100%;width:100%}.bstn-fd-picture-image{ color:transparent;height:100%;width:100%}.feed-post-body{ padding:24px 24px 0}.feed-post-link{ 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