3 anos de pandemia de covid-19: o que esperar da doen?a daqui em diante no Brasil
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 20h57)1 de 5 Nos últimos meses, as políticas de preven??o coletivas viraram sugest?es e orienta??es in
3 anos de pandemia de covid-19: o que esperar da doen?a daqui em diante no Brasil
1 de 5 Nos últimos meses,capa dvd cassino royale 1967 as políticas de preven??o coletivas viraram sugest?es e orienta??es individuais — Foto: Getty Images via BBC
No dia 11 de mar?o de 2020, o biólogo etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organiza??o Mundial da Saúde (OMS), fez um discurso que entraria para a história.
Num momento em que haviam sido registrados 118 mil casos e 4,2 mil mortes por covid-19 em 114 países, ele anunciou que estávamos, de fato, em uma pandemia.
"Essa é a primeira pandemia causada por um coronavírus. [...] Nós estamos soando o alarme em alto e bom som", declarou.
Três anos, 676,5 milh?es de casos e 6,8 milh?es de mortes depois, o mundo se encontra num momento completamente distinto da crise sanitária.
Com o desenvolvimento de vacinas, testes e remédios em tempo recorde, o coronavírus deixou de representar uma amea?a mortal para a maioria das pessoas — apesar de ainda ser um problema grave e preocupante para os grupos mais vulneráveis, como idosos e indivíduos com o sistema imunológico comprometido.
E o próprio Brasil é um exemplo dessa mudan?a de cenário: a taxa de mortalidade, que chegou a 201 por 100 mil habitantes em 2021, caiu para 36 no ano passado e, neste primeiro trimestre de 2023, encontra-se em três, segundo o painel do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass).
Nesse período, a letalidade caiu de 2,9% para 0,7%.
Mas como chegamos até aqui? E o que esperar da covid-19 para os próximos anos? A BBC News Brasil ouviu pesquisadores para entender as perspectivas futuras desta doen?a e o que precisa ser feito para diminuir ainda mais o impacto dela na sociedade.
Casos, hospitaliza??es e mortes: apesar de alívio nos números, acompanhamento é primordial
Até o momento, 2021 foi o pior ano da pandemia no Brasil. No auge, o país chegou a registrar um total de 21 mil mortes por covid em uma única semana.
Desde ent?o, as estatísticas nunca mais chegaram a patamares t?o elevados — apesar do crescimento em interna??es e mortes registrado no início de 2022, relacionado ao espalhamento da variante ?micron.
Se os dados continuarem na tendência atual, o país deve fechar o ano de 2023 com menos da metade das mortes que foram notificadas em 2022 — que, por sua vez, já havia registrado 84% menos óbitos em compara??o com 2021.
2 de 5 O Brasil chegou a ter 21 mil mortes por covid-19 em uma única semana de abril de 2021 — Foto: Getty Images via BBC
O alívio no cenário epidemiológico, inclusive, levou a mudan?as importantes na forma como as estatísticas s?o apresentadas.
Recentemente, o Ministério da Saúde e o próprio Conass deixaram de publicar boletins diários sobre os números da pandemia e passaram a divulgar relatórios semanais.
O estatístico Leonardo Bastos, pesquisador da Funda??o Oswaldo Cruz (FioCruz), vê a mudan?a com bons olhos.
"Os boletins diários s?o por vezes um tanto ruidosos, já que eles podem trazer dados incompletos de acordo com o dia e a disponibilidade de profissionais para atualizar os sistemas", avalia.
"Quando os dados est?o consolidados por semana, fica mais fácil fazer as análises e entender as tendências de casos, hospitaliza??es e mortes", complementa.
Mesmo diante desse maior espa?amento das estatísticas, o especialista entende que é vital manter ativa a vigilancia sobre o coronavírus — assim como ocorre para vários outros patógenos, como os causadores de gripe ou dengue.
"Nossos sistemas s?o bons para detectar os casos mais graves de infec??es respiratórias, que exigem hospitaliza??es. Mas precisamos desenvolver recursos capazes de flagrar os quadros mais leves, que sinalizam o início de uma potencial nova onda", diz Bastos, que também integra o Observatório Covid-19 BR.
O pesquisador ainda destaca uma última tendência que deve se confirmar nos próximos anos: a sazonalidade do coronavírus, ou os períodos do ano em que o número de infec??es e óbitos tende a subir.
"Os três primeiros anos da pandemia foram um tanto conturbados. Mas com a situa??o relativamente mais controlada, será possível observar esse comportamento sazonal do patógeno", acredita Bastos.
"Assim como acontece com outros vírus respiratórios, a tendência é que os casos de covid aumentem nos períodos mais frios do ano, conforme nos aproximamos do inverno. Porém, isso é algo que ainda precisa ser confirmado", completa.
Vacina??o: doses atualizadas para alguns, refor?o urgente para os demais
Entre os especialistas, n?o há dúvidas de que o momento mais favorável da pandemia que vivemos agora está relacionado a dois fatores principais: a vacina??o e o grande número de infectados pelo coronavírus.
Esses dois eventos permitiram criar um bom nível de imunidade — com isso, mesmo que o vírus consiga invadir o organismo, as células de defesa s?o capazes de conter o problema antes que ele se transforme em algo mais sério na maioria das vezes.
Segundo os dados compilados pelo portal CoronavirusBra1, mais de 183 milh?es de brasileiros (ou 86% da popula??o) tomaram pelo menos uma dose do imunizante que protege contra o coronavírus.
O problema está na continuidade da campanha. Apenas 175 milh?es (82% do total) completaram o esquema inicial de duas doses.
Para piorar, só 125 milh?es (59%) voltaram aos postos de saúde para tomar o refor?o (ou a terceira dose), t?o necessário para diminuir o risco de pegar a variante ?micron.
"é natural que, com o passar do tempo, a prote??o conferida pela vacina diminua. Por isso, é essencial estar com o esquema de doses atualizado para garantir uma boa imunidade", explica a pediatra Isabella Ballalai, da Sociedade Brasileira de Imuniza??es (SBIm).
A médica conta que as doses de refor?o funcionam como uma espécie de "lembrete", para fazer com que o sistema imunológico siga com uma boa capacidade de combater o coronavirus.
3 de 5 Apenas 59% dos brasileiros tomaram a dose de refor?o, essencial para resguardar contra a variante ?micron — Foto: Getty Images via BBC
Diante desse cenário de baixas coberturas, o Ministério da Saúde lan?ou recentemente uma nova campanha para melhorar as estatísticas da vacina??o contra a covid.
E há dois objetivos principais nesse esfor?o. Primeiro, garantir que toda a popula??o atualize a caderneta de vacina??o e tome a segunda, a terceira ou a quarta dose atrasadas. Nesses casos, s?o aplicadas as vacinas monovalentes, usadas desde o início da campanha.
A segunda parte da iniciativa envolve os imunizantes bivalentes, que trazem uma prote??o ampliada contra as variantes mais recentes do coronavírus, como a ?micron.
Por ora, essas doses atualizadas est?o disponíveis apenas para grupos mais vulneráveis, como idosos, indivíduos que moram em institui??es de longa permanência, pacientes com o sistema imunológico comprometido, indígenas, ribeirinhos, quilombolas, gestantes, puérperas (mulheres que tiveram um filho nos últimos 45 dias), trabalhadores da saúde, pessoas com deficiência, popula??o privada de liberdade e funcionários do sistema prisional.
"A vacina bivalente é uma conquista muito grande e mostra que somos capazes de atualizar a formula??o dos imunizantes de acordo com o surgimento das novas variantes", considera Ballalai.
Ainda que a chegada das vacinas bivalentes sinalize o primeiro passo sobre o futuro das campanhas de imuniza??o contra a covid, a estratégia para os próximos anos ainda n?o está clara.
N?o se sabe, por exemplo, se todos — ou alguns grupos em específico — precisar?o tomar um refor?o a cada ano, ou se a prote??o conferida pelas doses disponíveis hoje será suficiente por um tempo extra.
Só a observa??o da realidade e as pesquisas que est?o em andamento poder?o determinar a periodicidade das campanhas — e quem será contemplado nelas.
"A tendência é que tenhamos uma vacina??o anual, ou eventualmente até duas vezes ao ano, para alguns públicos. Mas isso é algo que ainda precisa ser definido", completa Ballalai.
Preven??o: a transi??o do esfor?o coletivo para a iniciativa individual
Outro fen?meno que marcou os meses mais recentes da pandemia foi a mudan?a nas políticas públicas que tentam conter as cadeias de transmiss?o do coronavírus.
Num período em que as vacinas ou os remédios n?o estavam disponíveis e a taxa de mortalidade permanecia em alta, a única alternativa de governos e institui??es de saúde era determinar o lockdown e pedir que as pessoas permanecessem em casa.
As máscaras, obrigatórias a todos em qualquer local público, eram uma maneira de se proteger — ou diminuir o risco de espalhamento do patógeno pelos indivíduos que estavam infectados.
Com o passar do tempo, a realidade se modificou. "Foi a partir daí que as recomenda??es de preven??o deixaram de ser coletivas para ganharem um aspecto mais individualizado", comenta a infectologista Sylvia Lemos Hinrichsen, professora do Departamento de Medicina Tropical da Universidade Federal de Pernambuco.
Isso, claro, tem a ver com o tópico anterior: a cria??o de um bom nível de imunidade por meio da vacina??o (e do número de indivíduos infectados) permitiu com que as exigências da lei fossem substituídas por sugest?es e orienta??es de saúde pública.
4 de 5 Nos piores momentos da pandemia, o lockdown era a única saída para enfrentar a subida de casos, hospitaliza??es e mortes — Foto: Getty Images via BBC
Atualmente, o Centro de Controle e Preven??o de Doen?as (CDC) dos Estados Unidos preconiza que a preven??o da covid-19 deva estar de acordo com o nível de transmiss?o do coronavírus em cada regi?o e o risco individual de desenvolver as formas mais graves da doen?a.
O órg?o até disponibiliza gratuitamente um arquivo em inglês e espanhol para o "planejamento pessoal da covid-19", que cada um pode preencher com informa??es de acordo com as necessidades próprias.
Nesse mesmo manual, o primeiro passo das estratégias preventivas é "conversar com o profissional de saúde para saber se você tem um alto risco de ficar gravemente doente".
A partir dessa informa??o, é possível desenvolver as a??es necessárias para cada caso. Um indivíduo com alto risco pode, por exemplo, sempre usar máscaras em locais fechados e cheios de gente, ou suspeitar dos sintomas assim que aparecerem. A partir daí, ele pode buscar um servi?o de saúde, fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento — o que diminui o risco de hospitaliza??o e morte.
Além desses cuidados individualizados, as entidades nacionais e internacionais de saúde seguem recomendando outras medidas básicas, como lavar as m?os com regularidade, ventilar bem os ambientes fechados e preferir reuni?es em lugares abertos.
Esses cuidados, aliás, n?o protegem apenas contra o causador da covid-19, mas também s?o efetivas contra vários outros patógenos que provocam infec??es, como o influenza e o vírus sincicial respiratório.
"Além de manter as regras básicas de higiene e etiqueta respiratória, é importante que as pessoas continuem a observar os sintomas típicos da doen?a [febre, coriza, tosse, espirros, dor no corpo…] e busquem o diagnóstico", acrescenta Hinrichsen.
"Se o exame confirmar a covid, vale evitar o contato com outros indivíduos e fazer o isolamento para n?o transmitir os vírus adiante", complementa.
Variantes: na fronteira entre a calmaria e a vigilancia
Nos últimos três anos, o coronavírus passou por uma série de mudan?as em sua estrutura.
Essas muta??es genéticas, que aumentaram o potencial do patógeno de se transmitir ou driblar a imunidade, levaram ao surgimento das variantes de preocupa??o (VOC, na sigla em inglês).
Até o momento, cinco linhagens do agente infeccioso foram classificadas como VOC: a alfa, a beta, a gama, a delta e a ?micron.
Cada uma delas provocou uma nova onda de casos, hospitaliza??es e mortes em alguns países ou no mundo inteiro.
A gama, por exemplo, surgiu no Estado do Amazonas e foi co-responsável por um dos piores momentos da pandemia registrados até o momento no Brasil e na América do Sul (embora n?o tenha sido t?o impactante em outras partes do globo).
5 de 5 A ?micron foi a última linhagem do coronavírus a ser classificada como uma 'variante de preocupa??o' — Foto: Getty Images via BBC
A última vers?o do vírus a ser classificada como VOC foi a ?micron, em novembro de 2021.
De lá para cá, nenhuma outra linhagem causou uma preocupa??o t?o grande na comunidade científica.
Mas isso n?o quer dizer que a ?micron tenha permanecido intocada nesses últimos tempos.
"Quase todas as variantes que circulam desde o final de 2021 s?o descendentes da linhagem B.1.1.529, a ?micron ancestral", explica o virologista Anderson Brito, pesquisador do Instituto Todos Pela Saúde.
"No Brasil, tivemos surtos causados pela ?micron BA.1 no início de 2022. Em maio do ano passado, vimos uma nova subida das infec??es causada por BA.2, BA.4 e BA.5", exemplifica.
"Em outubro, passamos por surtos da BQ.1, que descende da BA.5. E agora enfrentamos a XBB, uma variante derivada da BA.2", completa.
Essa sopa de letras e números refor?a um aspecto importante: o estudo e a vigilancia das muta??es que aparecem no coronavírus é essencial para detectar linhagens perigosas antes que elas se espalhem demais.
"Investimentos em pessoal, treinamento, equipamentos e principalmente na coordena??o das a??es s?o essenciais para que o Brasil seja capaz de realizar uma vigilancia gen?mica ampla, representativa e em tempo oportuno, n?o só das variantes do coronavírus, como também de vários patógenos, como os vírus de dengue, zika e outros que geram grandes impactos à saúde pública, mas s?o negligenciados", diz Brito.
Mas será que existe o risco de novas VOCs aparecerem daqui em diante?
"Quanto mais o vírus infecta seus hospedeiros, mais chances ele tem de adquirir novas muta??es vantajosas para a dissemina??o dele", responde o virologista.
"Em popula??es com imunidade, seja por vacinas ou infec??es prévias, o coronavírus tem enfrentado barreiras para se disseminar. Com isso, devido ao seu poder de adapta??o via muta??es, ele só tem conseguido se manter em circula??o sob a forma de variantes com maior transmissibilidade e/ou maior capacidade de evadir parte de nossas defesas imune", continua.
E a melhor ferramenta para evitar um cenário pessimista, em que novas VOCs provocam ondas de casos e mortes por covid, está, mais uma vez, na vacina??o.
"As vacinas representam uma vitória contra o coronavírus, e dificilmente viveremos cenários tristes como o de abril e maio de 2021, quando a variante gama ceifou milhares de vidas todos os dias no Brasil", conclui o pesquisador.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/cql78kyj3k3o
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