Do sucesso à demiss?o: saiba por que algumas empresas têm se incomodado com os ‘blogueiros CLT’
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14 Sep 2025(atualizado 14/09/2025 às 09h38)O fen?meno dos “blogueiros CLT” tem ganhado destaque nas redes sociais, mas também tem gerado inc?mo
Do sucesso à demiss?o: saiba por que algumas empresas têm se incomodado com os ‘blogueiros CLT’
O fen?meno dos “blogueiros CLT” tem ganhado destaque nas redes sociais,àdemiss?osaibaporquealgumasempresastêganhadores da mega sena 31/12/2016 mas também tem gerado inc?modo para algumas empresas.
A psicóloga Thamiris Castro, de 30 anos, foi demitida após seus vídeos sobre a rotina no trabalho viralizarem no TikTok.
A influenciadora e profissional de marketing Geovanna Pedroso, de 23 anos, sofreu represálias de colegas e chefes por produzir conteúdo digital.
Especialistas defendem que as empresas devem valorizar o que os colaboradores já sabem fazer, em vez de gastar tempo e dinheiro em algo sem retorno.
Virou mania nacional criar conteúdo nas redes sociais sobre a própria rotina. Em novembro, o g1 mostrou como esse hábito passou a fazer parte da vida do trabalhador, com o surgimento dos “blogueiros CLT”.
Mostrar os perrengues do dia a dia deu fama a uma por??o de novos influenciadores que passaram a tirar uma grana extra com a internet. Mas, recentemente, uma nova faceta desse fen?meno apareceu: o inc?modo das empresas com quem cria conteúdo, que tem levado inclusive a demiss?es.
A psicóloga Thamiris Castro, de 30 anos, atuou por quase dois anos em presídios no Rio de Janeiro. Em abril do ano passado, decidiu publicar uma trend nas redes sociais compartilhando curiosidades sobre sua profiss?o.
Depois que seus vídeos sobre a rotina no trabalho viralizaram no TikTok, ela passou a registrar o dia a dia sem roteiro, ilumina??o ou filtros. Em junho deste ano, cerca de um ano e dois meses após o primeiro vídeo, acabou sendo demitida.
Thamiris desconfia que o uso das redes sociais tenha influenciado, já que sua chefe come?ou a segui-la nas redes sociais uma semana antes do desligamento.
“Nunca recebi advertência, ninguém disse que eu estava errada. Depois que aconteceu, pensei: se fosse um problema, poderiam ter me dado a chance de escolher. Faltou diálogo, poderia ter havido uma conversa ou negocia??o, mas isso n?o aconteceu”, afirma.
A psicóloga explica que teria ajustado o conteúdo se tivesse sido avisada: “Talvez eu n?o parasse, mas mudaria algumas coisas, como n?o mostrar crachá ou citar casos específicos. O combinado n?o sai caro”, explica.
1 de 3 Thamiris Castro atuava como psicóloga de presídio e compartilhava a rotina nas redes sociais. — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodu??o Redes Sociais
?? Legalmente, a empresa n?o pode proibir ou limitar as publica??es dos empregados nas redes sociais. Mas o trabalhador também n?o pode divulgar informa??es sigilosas ou que prejudiquem a imagem da empresa.
Inclusive, o trabalhador pode até ser demitido por justa causa em casos de má conduta nas redes sociais, especialmente quando as publica??es afetam a reputa??o da empresa. (entenda mais sobre o tema)
A aten??o nas redes n?o se restringe aos “blogueiros CLT”. A influenciadora e profissional de marketing Geovanna Pedroso, de 23 anos, trabalhou por cerca de quatro anos em sua área, passando por agências, consultorias e empresas de tecnologia.
Em 2019, come?ou a produzir conteúdo digital como hobby, focado em comportamento, moda e inova??o. Enquanto estudava e trabalhava, mantinha um “segundo turno” como criadora e, com o tempo, acabou se profissionalizando.
“Sempre foi uma válvula de escape. Eu mostrava os produtos que comprava, como blush e iluminador. Muitas meninas se identificaram e come?aram a me seguir para acompanhar minha rotina”, conta a influenciadora.
“Sempre levei como um hobby, nunca como um trabalho principal. Gravava vídeos à noite ou nos fins de semana, sempre depois do expediente”, diz Geovanna.
Mesmo sem expor seu emprego nas redes, Geovanna conta que sofreu represálias de colegas e chefes. “Cheguei a ouvir piadas em reuni?es, como: ‘vamos fazer igual à Geovanna, postar uma publi agora, porque se a gente for demitido, pelo menos teremos alguma garantia’.”
2 de 3 Geovanna Pedroso é uma das influenciadoras impactadas pela onda de demiss?es dos "blogueiros CLTs". — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodu??o Redes Sociais
“Quando ouvi o primeiro comentário nesse tom pejorativo, senti medo. Me senti coagida e percebi que talvez minha posi??o dentro da empresa estivesse amea?ada”, relata.
Em setembro de 2023, a empresa promoveu um corte de funcionários e ela foi desligada. O trabalho como influenciadora n?o foi citado como motivo, mas outros colegas que também produziam conteúdo digital acabaram demitidos.
Desde ent?o, sua carreira no marketing foi interrompida e a internet virou sua única fonte de renda. A nova fase, porém, é marcada pela instabilidade. “Consigo me manter, mas n?o tenho seguran?a financeira. Em alguns meses fecho boas publicidades e ganho bem. Em outros, fico no limite”, diz.
Diferentemente dos grandes influenciadores, Geovanna n?o tem contrato com uma agência de marketing que a apoie na carreira. Por isso, busca sozinha parcerias e publicidades. “O que era um hobby acabou virando uma obriga??o”, conclui.
?? “Blogueiros CLTs” podem ser aliados
Para Geovanna, muitas empresas ainda veem os funcionários que produzem conteúdo como uma amea?a — especialmente quando esses trabalhadores conquistam mais visibilidade do que a própria marca.
Ela acredita que falta compreens?o no ambiente corporativo sobre o novo perfil dos trabalhadores e como os “blogueiros” podem ser aliados, ajudando as próprias empresas.
“Acredito que seja mais por uma quest?o de proteger a imagem e os interesses da empresa. Mas, muitas vezes, essas conversas n?o se alinham. Se a empresa está bem estruturada, n?o precisa enxergar esse funcionário influenciador como amea?a”, explica.
Para Leandro Oliveira, diretor da Humand no Brasil e especialista em gest?o de pessoas, essa postura defensiva mostra falta de maturidade para lidar com a era digital e, principalmente, a perda de uma oportunidade estratégica.
“A empresa que enxerga isso como risco está perdendo espa?o. Está desperdi?ando uma for?a de trabalho que já existe internamente e que poderia ser um catalisador em áreas normalmente difíceis de alcan?ar”, afirma.
Segundo o especialista, algumas empresas ainda cultivam a ideia de n?o ter presen?a ativa nas redes sociais. Mas, como muitos clientes est?o no ambiente digital, é fundamental repensar essa estratégia.
Outro ponto levantado por Leandro é valorizar o que os colaboradores já sabem fazer, em vez de gastar tempo e dinheiro em algo sem retorno. Ou seja: em vez de contratar um influenciador de fora, aproveitar o próprio trabalhador e remunerá-lo por isso.
“é uma quest?o de bom senso: se a empresa deseja que ele produza conteúdo, n?o pode esperar que fa?a isso apenas no tempo livre. O ideal é reconhecer esse esfor?o como parte da cultura da organiza??o e remunerá-lo”, refor?a.
Leandro ainda critica o modelo de comunica??o “top-down”, em que tudo parte do alto escal?o e n?o há espa?o para protagonismo dos trabalhadores da base. “Empresas que n?o criam canais de escuta e participa??o interpretam mal a visibilidade desses colaboradores”, diz.
Para Dado Schneider, doutor em comunica??o pela PUC/RS, nem mesmo o conceito de “blogueiros CLT” é exatamente novo. O fen?meno apenas ganhou novos formatos com a expans?o da era digital.
Segundo ele, há diferentes perfis de influenciadores CLT:
Os que promovem a empresa de forma espontanea;Os que usam o nome da empresa para fortalecer a imagem pessoal;Os que apenas seguem tendências, sem estratégia definida.
“Os costumes mudam mais rápido do que nossa capacidade de entender e regular. Por isso, muitas empresas preferem simplificar: se a pessoa é blogueira, afastam logo, para n?o incomodar os demais”, explica.
Schneider compara os influenciadores à proibi??o de telas em salas de aula. Para ele, o Brasil tem a tendência de simplificar demais: em vez de buscar solu??es, prefere simplesmente eliminar o “problema”.
“Essas pessoas come?aram a divulgar as empresas ou a se promover por meio delas, e alguns cresceram tanto que a primeira rea??o foi afastá-los, quando, na verdade, poderiam estar ajudando muito”, afirma.
Além disso, as empresas ainda n?o conseguem acompanhar o ritmo das transforma??es digitais. Para o especialista, o principal motivo das demiss?es nem sempre é a quebra de regras, mas ressentimentos internos.
“A maior parte das demiss?es dos ‘blogueiros CLT’ acontece por inveja ou ciúme profissional. Alguns realmente passam dos limites, mas a maioria mais ajuda do que atrapalha”, diz o especialista.
Há ainda o alerta para o risco enfrentado pelos criadores de conteúdo demitidos, que podem ter dificuldade de se recolocar no mercado, especialmente em setores mais conservadores. Isso acontece por causa da chamada “l(fā)ista negra”.
Ou seja: quando um trabalhador é desligado, empregadores do setor se comunicam, relatam o motivo e o incluem em uma lista para n?o contratá-lo.
“Isso sempre existiu, principalmente com profissionais vistos como ‘perigosos’ ou ‘inc?modos demais’. Acho essa prática injusta: o trabalhador tem o direito de errar em uma empresa e dar certo em outra. Mas, infelizmente, acontece”, conclui.
?? Nova fonte de renda
Para Jéssica Palin Martins, especialista em saúde emocional corporativa, as redes sociais s?o apenas mais uma forma de renda extra, o que n?o deveria ser visto como problema, desde que n?o prejudique o desempenho profissional.
“Tem gente que vende produtos de beleza, faz trufas, bolos no pote, trabalha como gar?om à noite. Rede social é só mais uma forma de renda extra. Se n?o atrapalha a entrega, está tudo certo”, explica a especialista.
Segundo ela, o problema aparece quando n?o há entrega de resultados ou quando a exposi??o serve para atacar a própria empresa: “Se estiver tudo acordado e for positivo, ótimo. Caso contrário, é justo reavaliar”, diz.
N?o há proibi??o legal para que um funcionário CLT tenha renda extra como influenciador digital. No entanto, é importante verificar se o contrato de trabalho prevê algum impedimento. (entenda mais sobre o tema)
?? Dá para virar o jogo?
Yuri Santos trabalhou como assistente de social media e aparecia com frequência nos conteúdos da própria empresa. Após quase dois anos, foi desligado — prefere n?o detalhar o motivo por quest?es de sigilo contratual.
“Eu era uma figura pública dentro da empresa e também nas minhas redes. Quando saí, muita gente se surpreendeu”, diz o jovem de 23 anos, formado em marketing.
Yuri afirma que, antes desse emprego, n?o era uma pessoa ativa nas redes. “Existe um antes e depois de entrar nessa empresa. Eu n?o gostava de aparecer, mas passei a curtir e a produzir conteúdo. Gosto de gravar vídeos e aprendi tudo isso lá dentro”, completa.
3 de 3 Yuri Santos compartilhava o trabalho nas redes sociais e foi desligado após dois anos. — Foto: Arquivo Pessoal/Reprodu??o Redes Sociais
Se há um ponto positivo é que a visibilidade que conquistou abriu novos caminhos: após o desligamento, usou LinkedIn e Instagram para anunciar a saída e, com isso, atraiu novas oportunidades. Hoje, já está empregado em uma marca do setor de beleza.
Além do novo emprego CLT, Yuri mantém um perfil pessoal ativo nas redes e ainda administra, com amigas, uma segunda conta sobre cultura, moda e entretenimento.
“é uma jornada tripla. Gravo nos fins de semana, edito à noite e programo os posts. às vezes durmo só 1h da manh? para acordar às 6h. Mas eu amo essa rotina”, conta Yuri, que ainda n?o pensa em largar a CLT para ser influenciador.
Já a psicóloga Thamiris Castro foi surpreendida por uma onda de apoio dos seguidores e viu aumentar a procura por atendimentos após a demiss?o. Ela passou a atender pacientes que a conheceram pelas redes sociais e encontrou uma nova fonte de renda.
“Foi terapêutico. Eu achava que minha exposi??o podia ser um problema, mas foi justamente o que me aproximou dessas pessoas. Atendo jovens que assistem aos meus vídeos e se identificam com minha linguagem”, afirma.
Além dos atendimentos, ela também orienta estudantes, cobrando um valor simbólico por conversas, entrevistas acadêmicas e palestras. Thamiris ainda n?o sabe o rumo da carreira, mas, por enquanto, quer aproveitar o momento na internet.
“Ainda tem muita coisa se encaixando na minha cabe?a. é um momento de descobertas e também de cuidado. Trabalhar em casa tem me trazido novas possibilidades, ent?o vou seguir assim enquanto fizer sentido e enquanto eu estiver gostando”, conta.
? O que o trabalhador N?O pode compartilhar
Carolina Dostal, diretora regional da Associa??o Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-SP), alerta que é essencial ter alguns cuidados ao publicar conteúdos relacionados ao trabalho nas redes.
?? N?o publicar dados confidenciais da empresa;?? Evitar compartilhar produtos ou servi?os que s?o lan?amentos;?? N?o postar a tela do computador;?? N?o divulgar reuni?es estratégicas;?? Evitar abordar assuntos polêmicos;?? Tomar cuidado com erros de português;?? N?o compartilhar notícias falsas;?? N?o falar mal do patr?o ou da empresa publicamente;?? N?o compartilhar fofocas do trabalho;?? N?o publicar conteúdos que s?o contra ao posicionamento da companhia;?? Evitar qualquer informa??o que possa prejudicar a imagem do empregador.
“O trabalhador precisa estar alinhado com a empresa, compartilhando os mesmos valores e a mesma cultura”, explica Carolina Dostal. Para ela, os empregadores devem enxergar o funcionário influenciador como um benefício.
A especialista defende que o empregador ofere?a treinamento aos funcionários que publicam conteúdos relacionados ao trabalho nas redes sociais. Já o colaborador precisa organizar bem a rotina entre o emprego CLT e a vida de influenciador.
“O que n?o pode é comprometer a atividade principal nem gerar concorrência ou danos à imagem da empresa”, afirma a advogada trabalhista Juliane Facó, sócia do Pessoa & Pessoa Advogados.
A especialista refor?a que o trabalhador n?o deve expor informa??es confidenciais nem conteúdos que prejudiquem a imagem da empresa. Além disso, é fundamental preservar a intimidade e a privacidade de colegas, clientes e prestadores de servi?o.
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