Onde nasce a consciência? A quest?o que op?e neurocientistas
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 21h14)1 de 1 Uma representa??o digital de neur?nios em uma se??o do cérebro de um camundongo — Foto: I
Onde nasce a consciência? A quest?o que op?e neurocientistas
1 de 1 Uma representa??o digital de neur?nios em uma se??o do ênciaAquest?oqueop?asia pokercérebro de um camundongo — Foto: Instituto Allen
No campo científico, poucas perguntas geram tanto debate quanto a origem da consciência humana. Agora, um experimento que levou sete anos para ser realizado colocou à prova as duas teorias neurocientíficas rivais mais proeminentes sobre esse enigma, desencadeando uma controvérsia central na discuss?o: um animal, uma máquina ou um feto teria acesso à experiência consciente?
O estudo, que envolveu 256 participantes e 12 laboratórios colaboradores, conhecido como Consórcio Cogitate, submeteu os participantes a diversos testes visuais enquanto seus cérebros eram monitorados utilizando três técnicas diferentes de neuroimagem.
O objetivo: tentar identificar qual tese está mais próxima da realidade: se a teoria da informa??o integrada (TII) ou a teoria do espa?o de trabalho neuronal global (GNWT, na sigla em inglês). As duas propostas diferem tanto em seus pressupostos que quase parecem falar de fen?menos distintos.
A GNWT sugere que uma rede de áreas cerebrais seleciona informa??es importantes, trazendo-as para o primeiro plano da mente. Quando essas informa??es competem pela aten??o nas regi?es cerebrais e superam outros sinais, elas se difundem amplamente pelo cérebro, gerando a experiência consciente.
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Para a teoria, atividades mentais que n?o foram destacadas correm no cérebro mesmo que de forma inconsciente. Esse processo está principalmente associado ao córtex pré-frontal, mas n?o se limita a ele.
A TII, por sua vez, parte de uma defini??o mais abstrata: prop?e que a consciência emerge da integra??o matemática da informa??o dentro de um sistema. Se diferentes partes do cérebro trocam informa??es de forma altamente conectada e unificada, atuando como um todo, surge a experiência consciente.
Segundo essa teoria, a consciência resulta dessa intera??o entre várias partes do cérebro, especialmente nas regi?es posteriores, e pode ser quantificada por meio de uma medida chamada phi; quanto mais integrada a informa??o, maior o valor de phi e maior a consciência.
"As duas teorias s?o criaturas muito diferentes", explicou à revista especializada Scientific American Christof Koch, cientista cognitivo do Instituto Allen em Seattle e coautor do estudo publicado em abril deste ano na revista científica Nature.
Resultados inconclusivos, mas deixam pistas
Os resultados do experimento, liderado por Lucia Melloni, do Instituto Max Planck de Estética Empírica, foram inconclusivos. Enquanto alguns achados favoreciam a TII – como a decodifica??o de características visuais em regi?es posteriores do cérebro e uma atividade neuronal mais sustentada durante a percep??o consciente – outros padr?es de sincronicidade se alinhavam melhor às previs?es da GNWT.
De fato, como reconhece o professor Anil Seth, especialista em neurociência cognitiva e computacional da Universidade de Sussex, "era claro que nenhum experimento refutaria de forma decisiva nenhuma das duas teorias".
"Dito isso, os resultados da colabora??o continuam sendo muito valiosos: aprendemos muito sobre ambas as teorias e sobre em que parte do cérebro é possível decodificar a informa??o da experiência visual", acrescentou.
Mais do que um duelo técnico, os dados levantam novas quest?es sobre onde, e como, a consciência é gerada. Por exemplo, a pesquisa demonstrou que existe uma conex?o funcional entre neur?nios das primeiras áreas visuais (na parte posterior do cérebro) e áreas frontais, ajudando a entender como nossas percep??es se ligam aos pensamentos.
Além disso, os achados reduzem a ênfase no córtex pré-frontal no processo consciente, sugerindo que, embora seja crucial para raciocínio e planejamento, a consciência em si pode estar mais vinculada ao processamento sensorial e à percep??o. Como resume o estudo do Instituto Allen: "A inteligência consiste em fazer, enquanto a consciência consiste em ser".
Estudo abre controvérsia ética
O empate técnico n?o acalmou os animos. O verdadeiro drama se deu fora do laboratório. Após a publica??o preliminar do estudo em 2023, um grupo de 124 cientistas assinou uma carta aberta acusando a TII de ser uma "pseudociência", argumentando que ela n?o é falseável, ou seja, que n?o pode ser refutada experimentalmente. Nessa mesma linha, um segundo artigo, assinado por 100 pesquisadores, reiterou as críticas: ausência de previs?es precisas e incompatibilidade com as leis físicas.
Além disso, a polêmica ganhou for?a devido às implica??es éticas da TII. Segundo críticos, a teoria poderia sugerir que sistemas como a inteligência artificial, animais e até fetos em estágio inicial poderiam possuir algum grau de consciência.
"Nos casos de pacientes em coma, consciência em IA e abortos, nos perguntamos: 'como sabemos se o paciente, o feto ou a IA s?o conscientes?'. Ainda n?o podemos usar a atividade cerebral para responder adequadamente a essa quest?o e seria perigoso, neste estágio, basear nossas respostas em qualquer teoria que n?o tenha valida??o empírica", alertou Chris Frith, da Universidade de Londres, signatário de ambas as críticas.
Já os defensores da TII, como Christof Koch, do Instituto Allen para a Ciência do Cérebro, atribuem a rea??o negativa a ciúmes profissionais. "A TII foi percebida como mais atraente que outras teorias, recebendo mais aten??o e recursos", afirmou Koch à revista New Scientist. "Qualquer inferência ou implica??o de uma teoria deveria ser irrelevante para a quest?o de se ela está correta ou n?o."
Anil Seth, por sua vez, argumenta que outras teorias revolucionárias – do heliocentrismo à evolu??o darwiniana – foram inicialmente rejeitadas por suas implica??es. "O consequencialismo n?o é uma raz?o válida para rejeitar uma teoria como n?o científica", declarou ao periódico científico.
Diagnóstico neurológico avan?a com estudo
A pesquisa, no entanto, trouxe impactos positivos para além do debate teórico. As descobertas podem ter aplica??es práticas sobre como melhorar a detec??o de "consciência encoberta", por exemplo, quando um paciente parece inconsciente, mas tem algum nível de atividade consciente, ainda que n?o seja detectada externamente.
Segundo estudos recentes publicados no New England Journal of Medicine, a consciência encoberta ocorre em um quarto dos casos de pacientes com les?es graves que n?o respondem a estímulos, como quando est?o em coma, por exemplo.
Melloni, a principal autora da pesquisa, minimiza a controvérsia e, em entrevista à New Scientist, defende uma abordagem mais pragmática. "é apenas uma novela. O que precisamos s?o de mais dados, n?o de mais cartas", diz. Sua equipe planeja tornar públicos os dados para que outros pesquisadores possam testar todas as teorias potenciais sobre o tema.
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