'Muitas mulheres morrem sem confessar que se arrependeram de ter filhos'
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 22h42)1 de 1 Orna Donath entrevistou dezenas de m?es que se arrependeram de terem engravidado — Foto:
'Muitas mulheres morrem sem confessar que se arrependeram de ter filhos'
1 de 1 Orna Donath entrevistou dezenas de m?es que se arrependeram de terem engravidado — Foto: Hadas Eldar
Querer ter filhos e depois se arrepender?mahjong melhores jogos
Essa é a trajetória de muitas mulheres que optam por levar esse "segredo" para o túmulo, diz a socióloga israelense Orna Donath, autora do livro M?es arrependidas: Uma outra vis?o da maternidade (Editora Civiliza??o Brasileira).
Donath, que n?o é m?e, nasceu e foi criada em Tel Aviv, em Israel, um país que tem de longe a maior taxa de natalidade entre os países considerados desenvolvidos, com uma média de três filhos por mulher.
Para efeito de compara??o, as mulheres nos Estados Unidos tinham em média 1,70 filhos em 2019. Já no Reino Unido essa taxa é de 1,65 e, na Alemanha, 1,54.
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A sociedade israelense é ainda muito mais pró-natalista do que as da América Latina, regi?o que foi um dos motores do crescimento populacional mundial no século passado e cujas mulheres tiveram em média dois filhos em 2019, segundo a Comiss?o Econ?mica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
Apesar da estigmatiza??o social que enfrentou, Donath n?o se preocupou em ser rotulada como "louca" ou "egoísta", como muitas mulheres que optam por n?o ter filhos s?o tratadas, diz ela.
Seu livro é um ensaio feminista com entrevistas com mais de uma dezena de mulheres. O objetivo era quebrar um dos maiores tabus do mundo hoje.
Em entrevista à BBC News Mundo, servi?o em espanhol da BBC, a socióloga israelense afirma que ainda é muito difícil n?o ter filhos, explica por que isso ocorre e fala sobre a estigmatiza??o das mulheres que decidem n?o engravidar. Confira a entrevista abaixo.
BBC - é difícil ouvir uma mulher dizer que se arrepende de ter tido filhos, mas isso é mais comum do que a gente imagina. Por que esse tema ainda é um tabu?
Orna Donath - A maternidade é vista como algo sagrado em nossa sociedade. Em muitas sociedades e culturas, acredita-se que ser m?e é a essência da vida de uma mulher.
é difícil para nós levar em conta que a maternidade é um tipo de rela??o humana e, como em qualquer rela??o, pode haver todo tipo de emo??es e sentimentos.
Sempre foi dito que a maternidade muda nossas vidas para sempre. E isso é verdade. Mas, para muitas mulheres, ela n?o muda para melhor.
Ter o mesmo órg?o biológico n?o torna todas as mulheres iguais.
Suponho que, em uma sociedade patriarcal e heteronormativa, a inten??o é "manter as mulheres em seu lugar". Se arrepender de ser m?e é uma história totalmente diferente sobre o que as mulheres podem sentir.
BBC - Você acha que idealizamos a maternidade?
Donath - Sim. N?o sou contra a maternidade nem contra as mulheres que querem ter filhos.
No entanto, acho que toda essa ideia de maternidade foi levada além do que é possível nas diferentes experiências de rela??es humanas. E é muito difícil para muitas mulheres ter de lidar com isso.
BBC - Você estudou profundamente esse assunto. Você diria que é comum as mulheres se arrependerem de ser m?es?
Donath - Acho que nunca saberemos o qu?o comum é esse arrependimento. Há mulheres que se arrependem de ser m?es e nunca diriam isso em voz alta. Muitas acham difícil até mesmo dizer a si mesmas.
Muitas mulheres morrem sem confessar que se arrependeram de ter filhos.
BBC - Muitas das mulheres que você entrevistou disseram que, se tivessem outra chance, n?o seriam m?es novamente. Quais s?o os motivos mais comuns pelos quais as m?es se arrependem?
Donath - Um dos motivos mais comuns é que, retrospectivamente, elas percebem que a maternidade n?o é para elas e que teriam preferido viver suas vidas sem ser m?es, viver outro tipo de vida.
Muitos reclamam das grandes responsabilidades que a maternidade acarreta.
Mas mesmo sem responsabilidades, algumas das mulheres que se arrependem têm companheiros que cuidam dos filhos.
Outras me disseram que já s?o avós e n?o têm mais responsabilidades cotidianas, mas mesmo assim confessam que se arrependeram.
E isso porque ser m?e é uma coisa que está sempre na cabe?a, existe uma espécie de consciência de quando você é m?e e de quando n?o é. Muitas mulheres querem simplesmente voltar aos dias quando n?o tinham filhos.
As pessoas podem pensar que as mulheres que se arrependem acabam tendo vidas horríveis ou dificuldades particulares, ou por causa dos filhos que têm, mas n?o é o caso.
Algumas mulheres acham que ser m?e, em última análise, n?o vale a pena.
BBC - Muitas mulheres consideram a maternidade um obstáculo ao desenvolvimento pessoal. O que você pensa disso?
Donath - Isso é subjetivo. Para muitas mulheres essa rela??o é verdadeira, mas para outras a maternidade também as ajudou a se desenvolver em várias áreas.
A verdade é que a maternidade definitivamente n?o é para todas as mulheres.
BBC - Você acredita no chamado 'instinto maternal'?
Donath - N?o acredito que biologicamente exista um instinto maternal, mas o que existe é uma história social em torno do chamado instinto maternal.
Ele tem sido usado para nos empurrar para a maternidade. Algumas mulheres simplesmente n?o ouvem aquele relógio biológico e querem ter outro tipo de relacionamento com as crian?as, como tias, por exemplo.
Dar à luz e criar um filho n?o é a única maneira de nós, mulheres, termos um relacionamento com uma crian?a.
BBC - Você diz que existe muita press?o social para a maternidade. Como essa press?o se manifesta?
Donath - Nós, mulheres, somos criadas desde crian?a com a ideia de que a maternidade é a essência da nossa existência.
Ao mesmo tempo, estigmatizam quem expressa o desejo de n?o ter filhos. Essas mulheres s?o tratadas como egoístas, loucas, imaturas, como se n?o fossem mulheres de verdade.
Essa estigmatiza??o causa muito sofrimento.
BBC - Você também sente essa press?o social? Como lida com ela?
Donath - Sim, eu senti isso. Mas n?o me considero um bom exemplo porque conhe?o muito bem o assunto, estudei e sou conhecida por isso.
No entanto, tenho lido coisas horríveis nas redes sociais.
Na minha vida pessoal n?o sinto mais essa press?o, mas, antes, a sociedade esperava que eu fosse uma m?e, como se espera de qualquer outra mulher israelense.
Por algum tempo pensei que esse desejo n?o era normal e que havia algo de errado comigo.
BBC - Por que as mulheres que n?o querem filhos s?o t?o duramente criticadas?
Donath - Porque elas s?o uma amea?a à sociedade patriarcal e heteronormativa. A sociedade e até o governo querem que você tenha filhos para evitar problemas demográficos no futuro.
Outra raz?o é que o capitalismo precisa de nós para gerar crian?as. é preciso controlar essa capacidade que as mulheres têm.
Quando as mulheres dizem que s?o donas e amantes de seus corpos, vidas, sonhos e escolhas, gera-se um medo de perder esse controle.
BBC - Atualmente, com tantos métodos contraceptivos disponíveis, como você explica que ainda existam mulheres que decidiram ser m?es e depois se arrependeram?
Donath - Ainda é muito difícil n?o ser m?e. Há mulheres que decidem ser m?es porque socialmente n?o podem nem pensar em n?o ser.
E aqui falo da sociedade ocidental. Em outras sociedades, as mulheres nem mesmo têm a op??o de decidir por si mesmas.
BBC - As mulheres que você entrevistou vivem a vida inteira com esse arrependimento ou aprendem a valorizar a maternidade depois de um tempo?
Donath - N?o tenho certeza se é possível aprender a valorizar a maternidade.
Acho que elas simplesmente n?o podem fazer nada mais além de aceitar o fato de que tiveram filhos e se arrependem por isso, mas ainda precisam criar os filhos e fazer o melhor possível, sem ferir nenhum sentimento.
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