Grávidas correm mais risco com a Covid-19? O que dizem os cientistas
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 20h49)1 de 1 Gestantes apresentam risco aumentado de complica??es pela covid-19 — Foto: Getty ImagesNu
Grávidas correm mais risco com a Covid-19? O que dizem os cientistas
1 de 1 Gestantes apresentam risco aumentado de complica??es pela covid-19 — Foto: Getty Images
Numa coletiva de imprensa realizada na sexta-feira (16),mega sena 31/12/2018 o secretário de Aten??o Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Raphael Camara, recomendou que casais posterguem, se possível, os planos de gravidez em alguns meses em raz?o do agravamento da pandemia.
Grávidas e vacinas contra a Covid no Brasil: entenda as novas regras de vacina??oMortes de grávidas e de m?es de recém-nascidos por Covid dobram e est?o acima da média da popula??o em geral
Camara usou as novas variantes do coronavírus para justificar a nova orienta??o, apesar da falta de pesquisas publicadas a respeito do tema.
"Estudo nacional ou internacional n?o temos, mas a vis?o clínica de especialistas mostra que as variantes têm a??o mais agressiva nas grávidas. Antes, o risco maior estava ligado ao final da gravidez. Mas, agora, vemos uma evolu??o mais grave no segundo trimestre e até no primeiro trimestre", apontou.
O secretário ainda disse que o adiamento da gesta??o deve ser feito dentro da realidade de cada casal.
"Caso possível, postergar um pouco a gravidez para um melhor momento, para que você tenha uma gravidez mais tranquila. é lógico que a gente n?o pode falar isso para quem tem 42 ou 43 anos, mas para uma mulher jovem que pode esperar um pouco, é o mais indicado", explicou.
Mas o que há de evidências sobre o risco de Covid-19 para as futuras m?es e seus filhos? E quais os cuidados devem ser tomados se você estiver grávida?
O que a ciência já sabe
Os nove meses de gesta??o s?o marcados por uma série de mudan?as no corpo da mulher.
O sistema imunológico, por exemplo, sofre várias altera??es. O objetivo é evitar que as células de defesa ataquem o feto, pois metade das informa??es genéticas que ele carrega vem do pai e n?o é familiar ao corpo da m?e.
Seguindo essa lógica, o bebê em desenvolvimento n?o deixa de ser um "corpo estranho", que pode gerar uma resposta imune indesejada. E isso exige certas adapta??es do organismo feminino.
Outra área afetada ao longo dos nove meses é a respira??o. Conforme o útero cresce, ele come?a a pressionar os órg?os do abd?men e o diafragma, o músculo envolvido diretamente no processo de inspira??o do oxigênio e de expira??o do gás carb?nico.
Logo, n?o é de se estranhar que doen?as infecciosas que afetam os pulm?es sejam particularmente preocupantes nas grávidas: esse mix de comprometimento imunológico e respiratório as coloca numa situa??o de relativa vulnerabilidade.
é justamente por isso que essas mulheres fazem parte dos grupos prioritários das campanhas de vacina??o contra a gripe que acontecem todos os anos no Brasil.
E na Covid-19?
Desde que o coronavírus come?ou a se espalhar e virou uma preocupa??o mundial, os especialistas acompanham os efeitos que o agente infeccioso poderia ter nas gestantes.
Após um período de muita incerteza e dados desencontrados, ficou claro que grávidas com covid-19 apresentavam maior risco de agravamento e necessidade de intuba??o quando comparadas às mulheres da mesma idade que n?o esperavam filhos.
Um estudo publicado em setembro de 2020 no British Medical Journal calculou que gestantes infectadas com o coronavírus tinham um risco 62% maior de interna??o em UTI e 88% mais probabilidade de necessitar de ventila??o mecanica invasiva.
O trabalho, liderado pela Universidade de Birmingham, no Reino Unido, reuniu dados de 11 mil grávidas com suspeita ou confirma??o de covid-19 que precisaram ser internadas por qualquer motivo.
Os dados delas foram confrontados com os de outras mulheres da mesma faixa etária que também buscaram atendimento médico, mas n?o esperavam um bebê.
Um outro estudo, feito pelo Centro de Controle e Preven??o de Doen?as dos Estados Unidos, encontrou números parecidos: as mulheres grávidas americanas com covid-19 apresentavam um risco 1,5 vezes maior de ir para a UTI e 1,7 vezes superior de necessitar de ventila??o mecanica.
"Um fator que ajuda a explicar esse maior risco tem a ver com a diminui??o da capacidade respiratória, especialmente no terceiro trimestre de gesta??o. O crescimento do útero restringe o abd?men e o tórax", explica o infectologista Ruan de Andrade Fernandes, do Hospital e Maternidade Brasil, da Rede D'Or S?o Luiz, em S?o Paulo.
Portanto, a Covid-19 poderia somar uma dificuldade extra aos pulm?es e levar a um quadro mais grave, que exige maior cuidado.
"Também já sabemos que a Covid-19 aumenta o risco de parto prematuro", acrescenta a infectologista Mirian Dal Ben, do Hospital Sírio-Libanês, em S?o Paulo.
Por ora, apesar de todas as complica??es, os trabalhos publicados mundo afora n?o encontraram uma maior mortalidade pela Covid-19 em mulheres grávidas.
Falta de assistência adequada
Os números do Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 (OOBr Covid-19), porém, mostram que a realidade das gestantes brasileiras durante a pandemia é assustadora.
Ao longo de 2020, foram registradas 453 mortes pela infec??o com o novo coronavírus nas mulheres que esperam ou acabaram de dar à luz a um filho, o que representa uma média semanal de 10,5 óbitos.
Nos primeiros quatro meses de 2021, já foram registradas 289 mortes, o que faz a taxa semanal de óbitos nessa popula??o dobrar.
Na compara??o entre os dois anos, o crescimento de mortes entre grávidas foi de 145,4%, enquanto na popula??o geral esse aumento ficou em 61,6%, calcula o OOBr Covid-19.
A explica??o para esse fen?meno estaria na falta de assistência adequada: com a chegada de tantos pacientes num curto espa?o de tempo, muita gente n?o teve acesso aos leitos de enfermaria ou UTI e, infelizmente, acabou morrendo na espera de um atendimento.
De acordo com as fontes ouvidas pela BBC News Brasil, isso impacta especialmente grupos com a saúde mais vulnerável, como as gestantes.
Uma pesquisa publicada em julho de 2020 já apontava essa tendência: até o dia 18 de junho do ano passado, o Brasil respondia por 77% de todas as mortes de gestantes por Covid-19 do mundo.
Os dados, colhidos por especialistas da Fiocruz e de outras quatro institui??es, indicavam que 23% dessas mulheres n?o tiveram acesso a um leito de UTI e 36% nem chegaram a ser intubadas.
E qual o papel das variantes?
Como o próprio secretário do Ministério da Saúde adiantou, ainda n?o existem muitas informa??es publicadas e validadas sobre o impacto das novas variantes, detectadas em locais como Reino Unido, áfrica do Sul e Brasil.
Por ora, ainda n?o há certeza se elas s?o realmente mais agressivas às gestantes do que as vers?es anteriores do coronavírus.
"Existe uma especula??o de que as novas variantes estejam associadas a uma maior transmissibilidade na popula??o geral, mas mesmo isso ainda n?o é consenso na área", avalia Fernandes.
"Ainda n?o temos estudos específicos sobre o impacto das variantes nas grávidas, mas o fato de essas cepas serem aparentemente mais transmissíveis levaria a um aumento nos casos graves, nas interna??es e nas mortes por Covid-19 em todas as popula??es, incluindo nessas mulheres", aponta Dal Ben.
A última recomenda??o do Governo Federal, portanto, parece estar baseada em relatos e observa??es empíricas colhidas com alguns profissionais que atuam em hospitais e maternidades.
Atualmente, entidades como a Organiza??o Mundial da Saúde (OMS) e o Sistema Nacional de Saúde do Reino Unido entendem que as gestantes s?o um grupo que apresenta risco baixo de desenvolver quadros severos de Covid-19.
Mesmo assim, a possibilidade de agravamento da enfermidade é maior em compara??o com mulheres da mesma idade que n?o gestam uma crian?a.
O risco aumenta mais nos casos em que a gesta??o ocorre numa idade mais avan?ada ou está relacionada a quadros de sobrepeso, obesidade, hipertens?o ou diabetes.
Outro fator que exige ainda mais aten??o é quando essa mulher trabalha em servi?os essenciais, como as médicas, enfermeiras e outras profissionais que est?o na linha de frente do combate à pandemia.
Por fim, a Covid-19 costuma ganhar uma dose extra de perigo em grávidas que fazem parte de grupos vulneráveis e minorias étnicas, que têm acesso ainda mais limitado a servi?os de saúde.
E os bebês?
A boa notícia é que as crian?as n?o s?o particularmente afetadas pela infec??o — nem antes e muito menos depois do parto.
Até o momento, um quadro de Covid-19 ao longo da gesta??o n?o parece estar envolvido com casos de aborto espontaneo ou problemas no desenvolvimento do bebê.
A transmiss?o do vírus da m?e para o feto ou para o recém-nascido também é algo raro.
Uma pesquisa conduzida pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, n?o encontrou indícios do coronavírus em 127 amostras de plasma sanguíneo, cord?o umbilical ou placenta.
Os achados foram publicados no Journal of the American Medical Association.
Uma outra investiga??o, realizada na Universidade da Califórnia em S?o Francisco (EUA), também observou que os recém-nascidos n?o apresentam complica??es após suas m?es serem diagnosticadas com Covid-19.
A doen?a n?o alterou parametros importantes na hora do parto e nas primeiras oito semanas de vida, como peso ao nascer, dificuldades para respirar, quadros de apneia ou o aparecimento de infec??es no sistema respiratório.
Vale postergar os planos?
A recomenda??o de adiar uma eventual gesta??o n?o é algo particularmente novo nas histórias das epidemias e das pandemias recentes.
Nas últimas décadas, orienta??es parecidas foram dadas por autoridades em saúde pública diante das emergências da aids (anos 1980 e 1990), da gripe H1N1 (2009) e do zika (2016).
Mas a quest?o levanta preocupa??es éticas relevantes.
Um artigo publicado na revista The New England Journal of Medicine e assinado por três especialistas em pediatria, obstetrícia e bioética dos Estados Unidos questiona fortemente políticas públicas do tipo.
"O exercício da autoridade pública em uma área t?o profundamente pessoal e privada como a decis?o sobre se e quando ter um filho requer forte justificativa, dadas as muitas quest?es éticas que levanta. Existem várias áreas potenciais de preocupa??o. O primeiro está relacionado à autonomia reprodutiva".
As pesquisadoras também lembram que historicamente orienta??es e para postergar a gesta??o representaram "viola??es éticas flagrantes".
"Outra preocupa??o é o potencial de discrimina??o. Mesmo políticas objetivamente neutras podem se traduzir em experiências diferentes de acordo com a ra?a, grupo étnico ou classe social. O conselho público que desencoraja a gravidez também pode transferir indevidamente a responsabilidade pela gravidez somente para os pais, isentando as institui??es que s?o responsáveis ??por mitigar os danos e têm o poder de fazê-lo", concluem.
Até o momento, recomenda??es de adiar os planos de ser m?e e pai n?o parecem ter sido oficialmente adotadas por outros países — no máximo, as autoridades sugerem que o casal converse com especialistas e avalie os riscos e benefícios antes de tomar qualquer decis?o.
Fernandes entende que o tema é controverso e n?o há uma resposta única sobre ele. "Diferentemente do que aconteceu na aids e na zika, agora ainda n?o está claro o risco de transmiss?o de covid-19 pela placenta, da gestante para o feto", compara.
"Talvez a abordagem pudesse ser mais no sentido de oferecer informa??es ao casal sobre riscos e benefícios, e n?o apenas pedir para postergar os planos de gravidez", completa o infectologista.
Já Dal Ben acredita que é preciso ver caso a caso.
"Nessas horas, precisamos pensar em vários fatores. Se a mulher estiver com 38, 40 anos, quase no fim da fase reprodutiva, uma recomenda??o dessas n?o faz sentido. Mas, caso ela tenha entre 20 e 30 anos, talvez pesar prós e contras e aguardar uns dois anos para ter uma gravidez mais tranquila n?o seja um problema t?o grande assim", pensa.
Estou grávida. O que fazer?
A OMS recomenda que a mulher tome algumas precau??es e preste bastante aten??o a possíveis sintomas de Covid-19.
Os cuidados s?o os mesmos que devem ser seguidos pelo resto da popula??o:
Lavar as m?os com frequência com água e sab?o ou álcool gelManter uma distancia segura de outras pessoasEvitar encontros, reuni?es e aglomera??es com indivíduos que n?o fazem parte de seu convívio diárioUsar máscara toda vez que precisar sair de casaEvitar tocar os olhos, o nariz e a bocaPraticar etiqueta respiratória: cobrir boca e nariz com o bra?o ou com len?o descartável toda vez que tossir ou espirrar
Dal Ben destaca que os cuidados n?o devem ser redobrados apenas pelas gestantes, mas por todo mundo que têm contato com elas.
"Chamamos isso de prote??o de ninho. Quem convive com essas mulheres precisa, na medida do possível, usar máscaras sempre, sair o mínimo possível e refor?ar todas as a??es preventivas", sugere a médica.
Outra dica importante é ficar de olho em qualquer sintoma sugestivo de uma infec??o por coronavírus, como tosse, febre, falta de ar, perda de olfato e paladar, problemas gastrointestinais…
Se esses inc?modos aparecerem, vale consultar o médico e pedir orienta??es sobre a necessidade ou n?o de fazer um teste de diagnóstico.
Falando em profissional da saúde, todas as entidades nacionais e internacionais refor?am que o acompanhamento pré-natal é algo que n?o pode ser ignorado: o casal deve passar pelas consultas e exames que garantem o bom andamento da gesta??o.
Algumas dessas orienta??es e atendimentos, inclusive, podem até ser feitos à distancia, por meio de aplicativos de videochamada.
E quando houver a necessidade de ir até uma clínica ou hospital para realizar exames, é necessário que os futuros pais sigam todas as recomenda??es que diminuem o risco de contágio, como uso de máscaras e o distanciamento social.
E a vacina??o?
Essa é uma área com muitas controvérsias. Isso porque a maioria das vacinas contra a Covid-19 n?o incluíram as gestantes como participantes dos testes clínicos.
Com isso, há pouca observa??o sobre a seguran?a e a eficácia dos imunizantes nesse grupo específico.
Mas a experiência de mundo real, nos países onde a campanha de imuniza??o já está mais adiantada, indica que n?o há grandes preocupa??es sobre a aplica??o das doses nessas mulheres.
A OMS entende que as vacinas já aprovadas pelas agências regulatórias n?o apresentam nenhum risco específico durante a gravidez.
Entre as vacinas aprovadas no Brasil até o momento, também n?o há nenhuma preocupa??o maior.
"A CoronaVac é feita de vírus inativado, enquanto a AZD1222 usa a tecnologia de vetor viral. Como elas n?o usam vírus vivos, n?o teriam motivos para fazer algum mal na gesta??o", avalia Fernandes.
No dia 15/03, o Ministério da Saúde atualizou suas diretrizes a respeito do assunto.
As últimas recomenda??es indicam que as gestantes que apresentam comorbidades (portadoras de diabetes, hipertens?o, obesidade, doen?as cardiovasculares, asma, doen?as renais cr?nicas, doen?as autoimunes, imunossuprimidas ou transplantadas) estejam entre os grupos prioritários.
A orienta??o é que essas mulheres confiram o cronograma de vacina??o de suas cidades ou estados e procurem os postos de saúde nas datas estipuladas pelos gestores de saúde locais.
Mas e as gestantes que n?o apresentam nenhuma dessas doen?as?
O ministério admite que elas também poder?o ser vacinadas — elas até foram incluídas recentemente no Plano de Operacionaliza??o da Imuniza??o Contra a Covid-19.
Mas a orienta??o é conversar com o médico de confian?a para fazer uma avalia??o dos riscos e dos benefícios antes de tomar qualquer decis?o.
Vale aproveitar a discuss?o também para refor?ar a necessidade de atualizar a carteirinha de vacina??o com as doses que previnem contra outras doen?as.
A Sociedade Brasileira de Imuniza??es possui um calendário específico para gestantes, com todos os imunizantes recomendados e contraindicados nessa fase.
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