Power Vapor Solution'
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 20h05)Quem se pergunta em qual momento do futuro come?ará a guerra dos chips contra os cérebros n?o conhec
Power Vapor Solution'
Quem se pergunta em qual momento do poker starafuturo come?ará a guerra dos chips contra os cérebros n?o conhece minha máquina de lavar. Comprei faz dois meses. Tela digital. Dezoito fun??es. Dá pra lavar no modo "Roupa de academia azul turquesa pouco suada para usar em treze minutos", se você quiser. Ou melhor: se ela quiser —e o problema é que nem sempre ela quer.O que faz um grupo ou exército sabendo-se muito inferior ao inimigo? Apela pra técnicas de guerrilha. Essa a estratégia da minha máquina de lavar. Ela sabe que n?o é (ainda) mais inteligente do que eu e, portanto, se especializou em sabotagens.
Adams Carvalho No come?o, usava as mais básicas: simplesmente n?o ligava. Aí eu chamava o técnico, ele fazia exatamente o mesmo que eu e guerrilheira ligava. Depois de uns três ataques bem-sucedidos com a mesma técnica, ela evoluiu para uma mais cruel. Ligava, mas bastava eu atingir o ponto exato da sala em que seu ronco de hipopótamo n?o era mais ouvido e "booooinnnn": desligava. Claro que eu só iria descobrir que as roupas n?o tinham sequer come?ado a lavar quando ia lá, pronto para pendurá-las, duas horas depois. (Ou treze minutos depois, caso estivesse no ciclo Roupa de academia azul turquesa pouco suada). O objetivo da minha máquina de lavar n?o é a vitória. Sabe que seus bot?es e sua telinha digital e suas gavetas sab?o/amaciante e mesmo seu poderoso tambor circulatório com "Power Vapor Solution" nada podem contra minha integridade física —e é por isso que ataca, como dizem por aí, "no psicológico". A meta dela é simplesmente me desestabilizar, minar minha aten??o, derrubar minhas defesas. Assim que me encontro exaurido, desesperado, um barril de adrenalina, uma piscina Regan de corticoides, os batalh?es de elite entram em campo: caio nas redes dos algoritmos. Colunas e Blogs Receba no seu email uma sele??o de colunas e blogs da Folha Carregando... Passo horas no Instagram, abduzido por vídeos de pessoas em línguas que desconhe?o, assando carnes que ignoro. "Será pernil de cabrito? Ou paleta de leit?o? Hm, olha lá, que que foi isso, páprica? Deve ser páprica. Vai sem sal, mesmo? Ah, salgou. Agora ele vai botar no forn?o de pizza. Hmmm, se liga nas batatinhas. Ou s?o umas cebolinhas?". Alta madrugada, estou vendo vídeos de uma corretora descolada que vende apartamentos de dezenas de milh?es de reais que jamais terei dinheiro para comprar. "Esse aqui é pra você, herdeiro, você, 'faria-limer', você que vendeu a sua start-up, que antes dos trinta já juntou uma grana pra nunca mais trabalhar. Olha aqui! Vista pro clube Pinheiros, do lado da Vila Olímpia, tu-do!".Quando dou por mim já amanhece. A cr?nica n?o foi escrita. As plantas n?o foram regadas. Esqueci de pagar o condomínio. N?o fiz exercício. Minha namorada deve estar no vigésimo sono e nem dei boa-noite.Os resultados da ofensiva s?o óbvios. Em pouco tempo perco o emprego. Levo um pé na bunda. As artérias v?o entupindo. Acumulo dívidas e as carca?as craquelentas de uma samambaia, quatro violetas e três pacovás. Até o dia em que, óbvio, bato as botas.Posso me imaginar caído na sala, ainda agonizando. Da cozinha vem um barulho, como se três ca?ambas de entulho tropicassem, arrastadas por um caminh?o. S?o a geladeira, o fog?o e a máquina de lavar, marchando em dire??o à porta. Do corredor vir?o a impressora, o notebook, os tablets. Por último, saltando minha barriga, já inerte, uns dezessete carregadores de celular, serpenteando suas longas caudas, feito espermatozoides indo fecundar a nova era.
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