Quem se apresentou primeiro com os rostos pintados: Secos e Molhados ou Kiss?
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 20h32)A celeuma é antiga e voltou à pauta após a estreia de Homem com H, cinebiografia do cantor Ney Matog
Quem se apresentou primeiro com os rostos pintados: Secos e Molhados ou Kiss?
A celeuma é antiga e voltou à pauta após a estreia de Homem com H,jogo do america ao vivo cinebiografia do cantor Ney Matogrosso, dirigida por Esmir Filho.
1 de 2 Cinebiografia de Ney Matogrosso, Homem com H, mostra a ascens?o do cantor com os Secos e Molhados — Foto: Divulga??o/Paris Filmes (BBC)
Ney foi instado a responder, de novo, à mesma pergunta durante a divulga??o do filme: quem foram os primeiros a se apresentar com os rostos cobertos com maquiagem, os roqueiros do Kiss ou o Secos e Molhados, grupo do qual foi líder?
O cantor brasileiro, desta vez, n?o entrou na provoca??o. Só deixou claro que n?o copiou grupo nenhum, mesmo porque nem conhecia a banda de hard rock americana.
Como já contou anteriormente o cantor brasileiro, na década de 1970 ele estava mais interessado, por exemplo, no kabuki — o teatro japonês conhecido por suas performances estilizadas, maquiagem elaborada e trajes coloridos.
"Eu comecei [a maquiar o rosto] porque ouvi dizer que artista n?o podia andar na rua, que artista n?o tinha privacidade. Eu só tinha 31 anos, eu n?o queria abrir m?o da minha privacidade. Baseado no kabuki, eu fui num lugar lá que vendiam as maquiagens brancas e pretas, e eu fiz uma cara para mim baseada neles. Só que eles faziam maquiagens muito coloridas, e a minha eu fazia de preto e branco só", contou Ney Matogrosso ao jornal Correio Braziliense em 2016.
Uma década antes dos Secos Molhados e do Kiss adotarem o uso de maquiagem, artistas como David Bowie e Alice Cooper já haviam sido vistos no palco com os rostos pintados.
Era o caso também da banda The Crazy of Arthur Brown, liderada pelo cantor londrino Arthur Brown no fim dos anos 1960. Esquisit?o, o vocalista apresentava-se nu e maquiado em alguns shows, além de usar um capacete de metal que pegava fogo.
Mas nenhum desses artistas e grupos ficaram t?o associados ao uso de máscaras quanto os Secos e Molhados e o Kiss.
Aliás, os dois contribuíram para a polêmica, com declara??es venenosas nas últimas décadas sugerindo que o plágio veio do outro lado.
Em 2006, em entrevista ao Canal Brasil, Ney declarou: "Fomos ao México [em 1974]. Dois empresários americanos quiseram me levar para os EUA. (...) Inclusive, disseram que minha imagem era boa, mas que o som tinha que ser mais pesado. Eu n?o ia mudar nosso som por causa disso. Uns seis meses depois, come?ou o Kiss, com uma maquiagem como a nossa e um som mais pesado".
Das poucas vezes que falaram sobre o assunto, Gene Simmons e Paul Stanley, os dois fundadores do Kiss, desdenharam do grupo brasileiro.
"Nunca ouvimos falar nessa tal banda. N?o temos ideia do que seja ou de que tocam", declarou Paul Stanley em 1994, em coletiva de imprensa.
Gene Simmons, também em coletiva, debochou: "Conhe?o essa lenda. Já ouvimos falar dessa história. N?o é verdade. Muitas pessoas acreditam nisso, mas também há muitas pessoas que acreditam em discos voadores, n?o?"
Jogada de marketing?
2 de 2 A banda novaiorquina Kiss posando em Londres em 1976; performances combinavam rock de qualidade com efeitos pirotécnicos — Foto: Getty Images
é relativamente fácil desmontar a tese de plágio de ambos os lados, basta se ater ao histórico das duas bandas e como elas se formaram.
O Secos e Molhados nasceu três anos antes do Kiss, em 1970, o que n?o assegura nenhuma vantagem no debate. Até porque os primeiros a se apresentarem com o rosto pintado de branco foram Simmons e Stanley, quando ainda formavam o obscuro grupo Wicked Lester.
Mas é muito improvável que uma banda do circuito alternativo novaiorquino tenha servido de inspira??o para os Secos e Molhados.
Os brasileiros podem usar a seu favor o fato de que foram os primeiros a fazer sucesso em grande escala com o rosto pintado de branco — e, portanto, com grande visibilidade, ficaram mais suscetíveis a plágios.
Os americanos podem rebater, alegando que foram vistos no palco, pela primeira vez usando maquiagem, em mar?o de 1973, três meses antes do lan?amento do álbum Secos e Molhados, o célebre disco em que os brasileiros aparecem na capa com os rostos pintados, servidos em bandejas de prata.
As datas, portanto, n?o servem para esclarecer nada, só para colocar mais pontos de interroga??o na história. Tudo come?a a ficar menos nebuloso quando se entende melhor as motiva??es, o contexto político e influências culturais vividos por cada uma das duas bandas.
Formado em Nova York, o Kiss se tornou uma das bandas mais cultuadas e carismáticas da cena rock. As performances de Paul Stanley, Gene Simmons, Ace Frehley e Peter Criss combinavam rock de qualidade com efeitos pirotécnicos, uma marca do grupo, que vendeu mais de 100 milh?es de discos.
O Kiss dava uma grande importancia ao marketing, na melhor forma de promover a banda — e por isso manteve oculta por anos a verdadeira identidade de seus integrantes.
Isso só foi possível porque todos eles se apresentavam com o rosto pintado de branco.
Cada um representava um personagem. Stanley era Starchild, o artista que sonhava em ser uma estrela rock — e por isso era visto no palco com uma estrela pintada em torno do olho direito.
Simmons encarnava Demon, f? de filmes de terror, sempre fazendo cara de mau.
Ace Frehley, o guitarrista, louco por fic??o científica, aparecia com uma maquiagem futurista, no papel de Space Ace.
Por fim, o baterista Peter Criss, amante de felinos, virava o homem-gato Catman.
Em 2022, o Kiss fez uma turnê de despedida dos palcos, que passou pelo Brasil.
Barra pesada
Enquanto os roqueiros americanos brincavam de história em quadrinhos, aqui no Brasil os Secos Molhados viviam numa realidade totalmente diferente.
Quando o primeiro disco do Secos e Molhados foi lan?ado, em 1973, o AI-5, o mais rigoroso decreto presidencial da ditadura brasileira, ainda estava em vigor.
Ser artista no Brasil da censura e da tortura era t?o arriscado quanto ser militante político.
Ainda mais este grupo, cuja atitude ousada e perfomática chamava a aten??o, assim como seu sucesso — o disco de estreia vendeu cerca de 300 mil cópias, um verdadeiro feito na época para uma banda até ent?o desconhecida.
No ano seguinte, o Secos e Molhados saiu em turnê pelo Brasil, lotando teatros e o ginásio do Maracan?zinho, no Rio de Janeiro (RJ).
"Ninguém nunca tinha cantado e vestido do jeito que eu me vestia. Ninguém tinha cantado com o rosto escondido como eu. Pintar o rosto era uma forma de me poupar do desprazer de n?o andar na rua, porque diziam que artista n?o andava na rua. Como é que eu ia perder o direito de andar na rua com 31 anos de idade?", disse Ney em entrevista ao programa Conversa com Bial, em abril deste ano.
Os integrantes do Secos e Molhados, como muitos artistas de sua gera??o, foram fichados pelo Dops, órg?o de repress?o da ditadura. E vigiados de perto.
"Volta e meia, eu botava a cara para fora da janela e via dois agentes à paisana dentro de um [carro] Dodge Dart com um binóculo", lembrou Gerson Konrad.
Já Ney chegou a receber cartas an?nimas com amea?as de morte.
Em 1974, a banda brasileira gravou mais um LP, mas Ney Matogrosso, por divergências com os outros dois integrantes, Jo?o Ricardo e Gerson Conrad, desligou-se do grupo e partiu para a carreira solo, assim como Jo?o Ricardo.
Os Secos e Molhados voltaram a se reunir outras vezes, com forma??es diferentes, mas sem o mesmo sucesso.
Polêmica sem fim
Polêmicas e lendas à parte, nada parece ter importancia diante da genialidade de duas das mais celebradas bandas da história da música, que certamente fariam o mesmo sucesso maquiados ou de cara limpa.
Recentemente, Oswaldo Vecchione, líder da banda Made in Brazil, foi às redes sociais trazer um novo capítulo para o "buchicho" sobre os rostos pintados.
Ele contou que a banda brasileira de rock havia se apresentado assim em… 1969!
"A gente sempre usou maquiagem em show. Para surpresa nossa, o Secos e Molhados fez três programas do Papo Pop com a gente e nunca usaram maquiagem. Quando saiu o disco deles, p?, um 'tava' usando maquiagem que parecia a do Cornélius, outro 'tava ' usando maquiagem que parecia a do meu irm?o, outro 'tava' usando uma maquiagem que parecia a minha. Foi uma surpresa, né? Foi uma coisa assim, meio estranha".
Vai come?ar tudo de novo.
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