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Com mais de cem nacionalidades, número de estrangeiros nas escolas de S?o Paulo dobra em cinco anos

Os alunos se entreolham,úmerodeestrangeirosnasescolasdeS?horários de ?nibus cassino rio grande um tanto assustados, enquanto a professora explica as diferen?as entre os quatro porquês da língua portuguesa. Todos os 16 estudantes da sala de aula, em uma escola de Perus, na Zona Norte paulistana, s?o haitianos e d?o os primeiros passos com o idioma falado no Brasil. Em S?o Paulo, o número de alunos estrangeiros nas redes estadual e municipal disparou. Nas institui??es da prefeitura da capital, s?o 13.200 matriculados de múltiplas nacionalidades, mais do que o dobro do registrado cinco anos antes. Na esfera estadual, o aumento foi em patamar próximo, passando de 11.500 para 20.400 entre 2019 e 2024. Na cidade de S?o Paulo, s?o mais de cem nacionalidades representadas, como mostram dados abertos da prefeitura analisados pelo GLOBO. A maior fatia desse contingente é de bolivianos: eles s?o 55% dos estrangeiros no ensino básico municipal e 41% na rede estadual. Na capital, concentram-se na Zona Leste, em bairros como Brás e Belenzinho. A área é conhecida pelo varejo têxtil, onde atuam bolivianos, em especial na área de confec??o de roupas. é nessa regi?o que fica a Escola Estadual Amadeu Amaral. Metade dos cerca de 1.110 estudantes matriculados é boliviana, mas a influência dos estrangeiros é ainda maior, já que diversos alunos nasceram no Brasil, mas s?o de famílias do país vizinho. Estudante do último ano do ensino médio, Kelly Thais, de 18 anos, conta que, em casa, a família se comunica em português, espanhol e aymará, língua falada por popula??es indígenas da Bolívia: — Estou procurando bolsas para cursar Neurociência no exterior. Minha m?e só estudou até o quinto ano, e meu pai tem o ensino médio completo. Serei a primeira da família com faculdade. Também do terceiro ano, Leonel Alexsander, de 17 anos, conta que, antes de chegar ao colégio de maioria boliviana, foi alvo de preconceito em outras unidades da rede pública: — N?o conseguia socializar. Mudei de escola aos 10 anos porque sofria bullying, e só ent?o comecei a aprender mais português, antes misturava com espanhol. Hoje estou estudando Contabilidade e quero fazer Engenharia Elétrica. Referência para imigrantes A concentra??o de alunos estrangeiros em algumas unidades faz com que certas escolas virem referência para os imigrantes. é o caso da EMEF Espa?o de Bitita, localizada no Canindé, na regi?o central. Por ali est?o bolivianos e crian?as de países como Angola, Bangladesh, Paquist?o e outras na??es. Em 2011, 10,5% dos alunos da unidade eram de nacionalidades diversas. Neste ano, o índice chega a quase 40% dos 570 matriculados. Diretor da institui??o há 14 anos, Claudio Marques da Silva Neto conta que, ao assumir o posto, se deparou com relatos de extors?o e violência contra os imigrantes. Foram criados, ent?o, diversos projetos para acolher os alunos e melhorar a convivência, numa iniciativa que ganhou reconhecimento da Unesco. A escola também foi laureada em 2018 no Prêmio Faz Diferen?a, do GLOBO, na categoria sociedade e educa??o. — No início n?o tínhamos um trabalho direcionado para esse grupo. S?o bons alunos, que tentam assimilar o currículo com muita avidez. O que pode acontecer é um percal?o com a barreira linguística, mas depois de seis meses isso já n?o é um problema — garante Neto. A unidade tem comitês liderados pelos alunos, que discutem diversos temas relacionados à escola, em áreas como migra??o, esporte e acolhimento de novos estudantes. Leonel Alexsander, de 17 anos: planos para o ensino superior — Foto: Maria Isabel Oliveira/ O Globo Na outra ponta da cidade, na Zona Norte, fica o Centro Integrado de Educa??o de Jovens e Adultos (Cieja I) de Perus, da prefeitura. Dos 800 matriculados, cerca de 350 s?o haitianos aprendendo português e terminando ciclos do ensino básico. Desde o terremoto que devastou o país da América Central, em 2010, o bairro virou um reduto dos imigrantes do Haiti. — Eles come?aram a chegar no fim de 2016. A escola virou um local de encontro, onde falam a própria língua, perguntam sobre emprego, moradia — conta a professora Cristiane Fialho, protagonista da cena que abre esta reportagem. A sala onde ocorrem as aulas é decorada com frases em crioulo, um dos idiomas falados no Haiti. Na noite do dia 27 de agosto, uma quarta-feira, Fialho pedia que os alunos repetissem interjei??es usadas no Brasil. Entre as fileiras, somando a voz aos coros de “psiu” e “ufa, ainda bem”, está Robenson Francois, de 28 anos. Fora da sala, Francois, que trocou Porto Príncipe por Perus, tenta equilibrar o português formal com as gírias paulistanas que ouve em canteiros de obras. No país há um ano, ele conta que levou dois meses para arranjar um “trampo”: — No Haiti n?o tem mais tranquilidade, é muita inseguran?a, bandidos. Lá estava trabalhando com entrega, dava aula de inglês. Deixei minha esposa e minha filha de 10 meses, que ainda n?o cheguei a conhecer. Vim em busca de uma vida melhor para nós. Da mesma turma, Stephania Pierre, de 27 anos, se mudou depois de interromper uma gradua??o em Administra??o. Na terra natal, trabalhava na área de comunica??o numa ONG. Aqui há sete meses, atua como empacotadora: Os haitianos Stephania Pierre e Robenson Francois: estudantes de português em Perus, S?o Paulo — Foto: Edilson Dantas/ O Globo — Estou aqui com a minha irm? mais velha, que já morava no Brasil há cinco anos. Ou?o música gospel para aprender português. Avalia??es s?o desafio Outro espa?o que oferece aulas para imigrantes é a Miss?o Paz, entidade filantrópica que apoia imigrantes e refugiados em S?o Paulo. Em 2024, foram atendidos cerca de 600 alunos — este ano, até agosto, já s?o mais de 700. O padre Paolo Parise, coordenador da institui??o, conta que o acesso à educa??o para os estrangeiros foi facilitado nos últimos anos, mas ainda existem problemas. — Temos escolas que trabalham muito bem essa quest?o, com diretores criativos, mas em outras existem dificuldades, e o aluno estrangeiro passa a ser visto quase como um problema. Onde existe baixa densidade demográfica de estrangeiros, os desafios s?o maiores. Por vezes n?o sabem, por exemplo, em qual série inserir o aluno — diz Parise. Outro ponto sensível s?o as avalia??es. A Secretaria Municipal de Educa??o divulgou em maio uma lista de 25 diretores de escolas que deveriam participar de um programa de requalifica??o após uma queda no rendimento das unidades em indicadores como o índice de Desenvolvimento da Educa??o Básica, o Ideb. A a??o, na prática, foi interpretada como um afastamento, já que os diretores agora passam a maior parte do tempo trabalhando fora das unidades, exercendo outras fun??es. Claudio Neto, da EMEF Espa?o de Bitita, estava na rela??o. — A quest?o das notas (no Ideb) atinge frontalmente escolas com grande percentual de alunos imigrantes — argumenta o diretor, acrescentando que esses estudantes precisam de um tempo maior para assimilar o conteúdo, mas acabam participando das avalia??es, o que impacta o desempenho da unidade. A secretaria sustenta que Claudio n?o foi afastado e no momento “participa de uma forma??o inédita destinada a diretores de escolas municipais de tempo integral”. A pasta informa ainda que assegura o acesso a estudantes de outras nacionalidades, independentemente da situa??o da documenta??o do aluno. Já a secretaria estadual frisa que o acesso à rede é livre, independentemente da nacionalidade. O órg?o pontua que cabe a cada unidade aplicar as avalia??es para definir a etapa escolar em que será inserido o aluno. Mais recente Próxima Quatro policiais s?o presos por crime de grilagem no litoral da Bahia Inscreva-se na Newsletter: Jogo Político Inscrever :root { --news-contextualizada-font: OGloboTitleFontBold,OGloboTitleFontFallback; --news-contextualizada-primary-color: #1e4c9a; } Mais do Globo .post-notifier-pushstream{ display:none}.bstn-fd .bastian-card-mobile,.bstn-item-shape,.tag-manager-publicidade-banner_feed_esppub--visivel .tag-manager-publicidade-banner_feed_esppub{ background-color:#fff;contain:layout paint style;margin:16px 0 0;overflow:hidden}.feed-media-wrapper{ margin:24px -24px 0}.bstn-fd-item-cover{ background-color:#ccc;background-position:50%;background-size:cover;height:0;overflow:hidden;padding-top:56.25%;position:relative;width:100%}.bstn-fd-cover-picture{ position:absolute;top:0;left:0;height:100%;width:100%}.bstn-fd-picture-image{ color:transparent;height:100%;width:100%}.feed-post-body{ padding:24px 24px 0}.feed-post-link{ 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