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Steve Buscemi foi esfaqueado, levou um soco de um estranho e sofreu uma imensa tragédia pessoal. Agora, ele está de volta

Sexta-feira 13 foi um ótimo dia para conhecer Steve Buscemi. Afinal,édiapessoalAgoraeleestároleta de agentes valorant ali estava um ator que interpretou alguns dos personagens mais desafortunados já lan?ados nas telas. Ainda assim, o momento também parecia fortuito, sugeri, por causa da série sobre a qual planejávamos falar: “Wandinha”, a adi??o assustadora, sarcástica e espetacularmente popular da Netflix ao canone da Família Addams. Oscar 2026: saiba quais s?o os filmes brasileiros inscritos para a disputa do prêmio'No céu da pátria': Documentário de Sandra Kogut sobre elei??o de 2022 retrata impossibilidade do diálogo: 'Quis olhar para além dos estereótipos' Buscemi está na segunda temporada como Barry Dort, o novo diretor da Nevermore Academy, internato para lobisomens, vampiros e a eternamente sombria Wandinha Addams (Jenna Ortega). Dort se inspira em Edgar Allan Poe e é “um grande f? da Nevermore”, disse Buscemi. Para o ator, porém, a nossa data do encontro para esta entrevista foi auspiciosa por um motivo adicional. — Sempre adorei sexta-feira 13 — disse ele, explicando que nasceu num dia desses (mais especificamente, em dezembro de 1957). ‘Energia estranha’ A conex?o pessoal de Buscemi com os dias mais azarados faz um sentido poético, dada a lista de personagens com má sorte a que ele deu vida. Também faz um sentido perverso para alguém de origem humilde que já foi esfaqueado, levou um soco de um estranho e sofreu uma imensa tragédia pessoal. Também foi atropelado por um carro e por um ?nibus. E continua trabalhando. Para pessoas acima de certa idade, é difícil imaginar a cultura pop sem Buscemi. Apesar de seu trabalho como diretor e roteirista, ele tem cerca de 200 créditos como ator. No entanto, é ferozmente reservado sobre sua vida privada. Em muitos aspectos, permanece t?o obscuro como quando estreou no cinema independente de Nova York, em meados da década de 1980. — Ele é alguém que você n?o consegue definir, é o que o torna bonito — opina Tim Burton, produtor executivo de “Wandinha”, que dirigiu metade dos episódios da série. — O que falta na indústria cinematográfica hoje em dia é um certo nível de mistério com as pessoas. Ele ainda tem essa qualidade. Do sonho ao pesadelo: astros de Hollywood dividem experiências traumáticas em audi??es Com a segunda temporada de “Wandinha”, milh?es de jovens podem estar conhecendo-o pela primeira vez. Apesar de ter estrelado filmes e programas de TV aclamados dos últimos 40 anos, incluindo “C?es de aluguel”, “Fargo” e “Família Soprano”, Buscemi pode encontrar seu maior público agora. (Segundo a Netflix, “Wandinha” é a sua série em inglês mais popular da história.) — é legal e emocionante estar em uma série que as pessoas realmente conhecem — afirma o ator, com uma risada ir?nica. O ator Steve Buscemi, que está em 'Wandinha' — Foto: Bobby Doherty/The New York Times Com 1,75m de altura e um físico esguio, Buscemi aparentemente n?o é o tipo de cara dur?o. Mas, no início dos anos 1980, Buscemi, ent?o bombeiro, poderia correr para dentro de um prédio em chamas para salvar vidas. — Eu o conheci quando ele ainda era bombeiro — conta o diretor Jim Jarmusch, sobre a época em que Buscemi fazia stand-up e esquetes experimentais de comédia na cena underground de Manhattan, entre os anos 1970 e 1980. Anos difíceis Buscemi viveu os primeiros oito anos de sua vida em East New York, bairro operário no Brooklyn, antes de seus pais se mudarem com ele e os três irm?os para a vila operária de Valley Stream, em Long Island. Foi, “em muitos aspectos, uma cria??o normal, entre aspas”, define. Uma das primeiras lembran?as foi de ouvir o pai, um gari, falar sobre seus filhos “como se talvez n?o f?ssemos material para a faculdade”, prossegue o ator. Ele temia que isso significasse que ele n?o era inteligente: — Isso definitivamente me afetou. Buscemi frequentou uma faculdade comunitária, mas desistiu depois de um semestre. Trabalhou em um posto de gasolina. Dirigia um caminh?o de sorvete. Foram os anos difíceis e cheios de ansiedade, em que se inspirou mais tarde para seu filme silenciosamente trágico “Trees Lounge” (1996), que escreveu, dirigiu e estrelou. Nele, interpreta um jovem alcoólatra de Long Island que se debate entre se libertar do vício e evitar um destino muito menor e mais triste. — Eu tinha esses sonhos de querer ser ator, mas n?o me sentia confortável o suficiente para dizer às pessoas que era isso que eu queria. Havia um medo enorme de dar esse salto — afirma. Confira a lista: cineastas elegem os 50 melhores filmes brasileiros do século XXI Buscemi se mudou para o East Village no fim da década de 1970. Em meados dos anos 1980, come?ou a atuar. Primeiro com cineastas underground como Eric Mitchell (“The way it is”) e Bill Sherwood (“Parting glances”), e depois com queridinhos do indie em ascens?o como Jarmusch (“Trem mistério”, “Sobre café e cigarros”) e os irm?os Coen (“Ajuste final”, “Barton Fink”), entre outros. Naquela época, em 1991, ele recebeu um roteiro para um filme de um cineasta promissor chamado Quentin Tarantino. “C?es de aluguel”, em que Buscemi interpreta o tagarela e anti-gorjetas Sr. Pink, mudou tudo — inclusive permitindo que Buscemi ignorasse as exorta??es de seu agente para se mudar para Hollywood. Ele p?de continuar sendo um ator nova-iorquino, mantendo-se presente no cinema e no teatro independentes locais, como outros atores que ele admirava haviam conseguido, como Willem Dafoe e John Turturro. Visto de fora, um sucesso como o de Buscemi pode parecer quase inevitável em retrospecto; um papel parece levar direto ao próximo. Mas, como a maioria dos atores sabe, n?o há nada de inevitável nisso. — Essas carreiras s?o como se você estivesse no circo, você n?o sabe o que vai acontecer — disse Turturro, amigo que atuou com Buscemi em vários filmes. — Quando as coisas v?o bem, você tem que ser grato e ter sorte. N?o é o que parece. Você também precisa manter os pés no ch?o, ajuda quando nada lhe é dado de m?o beijada. — Quando você olha para todas as pessoas com quem Steve Buscemi trabalhou, vê que foram uns malucos de verdade — disse Catherine Zeta-Jones, a Morticia Addams de “Wandinha”. Mas, de alguma forma, disse ela, ele se manteve equilibrado, “e acho que esse é o paradoxo de estar muito, muito enraizado na realidade deste mundo”. O dia a dia de Buscemi parece notavelmente diferente hoje do que era há alguns anos, quando ele podia ser visto distribuindo doces de Halloween em sua varanda no Brooklyn, ou quando um blog inteiro era dedicado às coisas que apareciam naquela varanda. Lucian, seu único filho, mudou-se para Los Angeles há mais de uma década. A cineasta e artista Jo Andres, sua esposa por mais de 30 anos, morreu em 2019 por complica??es de um cancer de ovário. Ele ainda é dono de sua casa de arenito marrom no Brooklyn, disse ele, “mas n?o é mais o lugar certo para mim. é só que... é grande demais”. Buscemi carrega sua dor visivelmente, fala sobre ela com franqueza; seus olhos se encheram de lágrimas enquanto falava sobre Andres. Fiquei impressionado ao saber que, apenas um mês após sua morte, estreou a primeira temporada de “Miracle workers”, na qual ele interpreta uma vers?o de Deus que é um idiota analfabeto. Mas “o luto n?o é linear”, como ele observou, e pode coexistir com a felicidade em planos distintos. No início deste ano, ele se casou novamente, discretamente. Sua esposa, Karen Ho, n?o trabalha na indústria cinematográfica, e “o gosto dela é totalmente diferente do meu para filmes”, disse Buscemi. Ele se juntou a ela em Manhattan, onde encontraram um novo lugar juntos. Classe em extin??o Aos 67 anos, Buscemi se tornou, de muitas maneiras, um símbolo de uma classe em extin??o de desajustados, artistas e rufi?es que fizeram seus nomes em uma vers?o mais crua e analógica de Nova York. Uma Nova York que existia antes que a nova economia da aten??o tornasse a visibilidade tanto o fim quanto o meio. Ele costuma dizer aos jovens atores para n?o se obcecarem em serem descobertos; apenas saiam e fa?am, diz ele, e “o trabalho virá até você se você tiver algo realmente a oferecer”. Ele me fez ter esperan?a de que isso ainda fosse verdade. A inspira??o que ele deu aos seus colegas mais jovens em “Wandinha” foi, pelo menos, um sinal encorajador. Ortega, de 22 anos, descreveu-o em termos paternais: — Sem querer ser condescendente ou de qualquer forma condescendente, ele é uma grande fonte de sabedoria, conselhos e li??es de vida — disse ela. E ent?o ela o comparou a um carvalho: — Você n?o sabe como ele chegou lá, ou qual é a sua história. Ele viu muita coisa; fez muita coisa. Mas ele está lá, e é lindo e acolhedor. 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