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Captura de carbono: como transformar ar em combustível limpo

1 de 1 "Metanol verde" é um combustível promissor,resultado do jogo do bicho da loteria dos sonhos de sábado mas ainda tem que se mostrar economicamente viável em larga escala. — Foto: Fernando Mateos/DW

Em um mundo que busca desesperadamente solu??es para as mudan?as climáticas, para um grupo de cientistas, a resposta para a mobilidade sustentável pode estar pairando no ar – literalmente.

Na alem? Lindau, uma cidade no estado da Baviera com vastos vales e lagos que parecem saídos de um conto de fadas, uma empresa está transformando gás carb?nico em combustível verde.

"Acreditamos que o CO2 n?o é somente resíduo, mas pode ser um recurso para todos os tipos de produtos", explica Johannes Prock, químico e diretor de tecnologia do Obrist Group, uma empresa de tecnologia austríaca com mais de 20 anos de experiência em sistemas automotivos.

Eles utilizam o CO2 para produzir o que foi apelidado de "metanol verde", um composto químico que várias indústrias consideram uma alternativa sustentável aos combustíveis fósseis.

Para isso, Prock e sua equipe utilizam a "captura direta de ar", ou DAC, uma tecnologia que filtra CO2 da atmosfera e o torna adequado para fins industriais. Embora pare?a algo saído de um livro de fic??o científica, a tecnologia existe há mais de 10 anos, mas nunca esteve disponível em larga escala e para esses propósitos.

"Funciona bem em pequena escala", diz Prock, "mas a verdadeira dificuldade técnica é construir grandes instala??es e garantir que o processo permane?a eficiente."

O "metanol verde" é uma solu??o viável?

O principal problema pode ser dinheiro. é o que diz a engenheira bioquímica Anna Mas Herrador, que pesquisa a tecnologia de "captura direta de ar" na Universidade Rovira i Virgili, na Espanha: "O obstáculo mais significativo para a implementa??o em larga escala do DAC é o alto custo envolvido."

Apoio e as atuais pesquisas podem acelerar o processo. "Outras tecnologias de baixo carbono, como as baterias ou placas solares, tiveram grande redu??o de custo no passado recente. Espera-se que isso também aconte?a em breve com o DAC", explica Mas Herrador.

Por enquanto, Prock e sua equipe est?o testando carros Tesla modificados para funcionar como híbridos. Eles combinaram uma bateria elétrica menor com um motor a metanol e est?o colocando os veículos para rodar nas ruas de Lindau.

"Veículos elétricos geralmente têm uma bateria cara e pesada. Com nossos modelos híbridos, os custos de fabrica??o s?o reduzidos mais ou menos pela metade", diz Frank Obrist, CEO e fundador do Obrist Group. "A ideia é oferecer veículos desse tipo por 25 mil euros (R$ 138,6 mil) para o cidad?o médio."

Críticas ao "metanol verde"

Para o consultor ambiental Carlos Bravo Villa, permitir o uso de e-combustíveis sintéticos como o "metanol verde" no transporte rodoviário poderia p?r em risco todo o esfor?o de descarboniza??o.

"A descarboniza??o do transporte é um grande desafio, e n?o há espa?o para o uso ineficiente da eletricidade", diz.

De acordo com um estudo apresentado em 2023 pela Transport and Environment e outras organiza??es climáticas europeias, aumentar o uso de e-combustíveis no transporte rodoviário demanda a gera??o adicional de uma grande quantidade de energia renovável. E, para isso, seria necessária a instala??o de um número significativo de novas plantas de energia renovável.

"Se você colocar eletricidade renovável diretamente na bateria de um carro, obtém até cinco vezes mais eficiência energética do que se usar essa eletricidade para produzir combustível verde", ressalta Bravo Villa.

No entanto, carros elétricos n?o est?o ao alcance de todo mundo. O Obrist Group argumenta que eles ainda s?o muito caros, e que modelos híbridos desse tipo podem acelerar a transi??o para carros menos poluentes. "N?o podemos mudar toda a indústria automotiva para carros elétricos. Ent?o, precisamos de uma possibilidade diferente e ecologicamente correta para resolver essa quest?o", defende Prock.

Embora as vendas de carros elétricos venham crescendo nos últimos anos, podemos estar em um ponto de inflex?o. A consultoria econ?mica BloombergNEF estima que as vendas globais de veículos elétricos atinjam 16,7 milh?es de unidades em 2024, mas também prevê uma desacelera??o para o mesmo período. Em abril, a Tesla disse que aceleraria o lan?amento de modelos mais baratos após registrar um número decepcionante de vendas pelo terceiro trimestre consecutivo.

Para o consultor ambiental Bravo Villa, é preciso manter o foco nos carros elétricos. "Carros híbridos n?o fazem sentido algum, nem mesmo usando esse metanol [verde], e ainda menos no momento, com a evolu??o acelerada da tecnologia de baterias, que continuará a melhorar no curto prazo", afirma. "Em paralelo, a implanta??o da infraestrutura pública de recarga necessária já está em andamento."

Promissor para o setor de navega??o

Embora o foco do "metanol verde" geralmente esteja nos carros, o combustível também é promissor em outras áreas. "Pode ser usada como matéria-prima para a indústria química e como combustível para navios", destaca Prock.

Bravo Villa aprova: "Seria uma excelente op??o para o transporte marítimo, onde as possibilidades de usar baterias como as dos carros ainda s?o muito limitadas."

Da mesma forma, a tecnologia DAC pode desempenhar um papel importante na gera??o do combustível. "Tem um potencial promissor, pois oferece a capacidade de capturar CO2 diretamente do ar, independentemente da localiza??o geográfica", explica Mas Herrador. "Pode ser complementar a outras medidas de mitiga??o das mudan?as climáticas, como a redu??o de emiss?es e o uso de energias renováveis."

à medida que o sol se p?e em Lindau, fica claro que uma solu??o definitiva ainda está fora de alcance. Um futuro em que a mobilidade sustentável seja uma realidade pode estar próximo, mas alcan?á-lo exigirá mais do que apenas ar.

Autor: Fernando Mateos Frühbeck