Como a Amaz?nia se tornou ber?o do maior rebanho de bois no Brasil
tevnkqjaw
13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 21h37)A pecuária na Amaz?nia tem 402 anos de história, mas a sua rela??o com o desmatamento do bioma é mai
Como a Amaz?nia se tornou ber?o do maior rebanho de bois no Brasil
A pecuária na Amaz?nia tem 402 anos de história,?niasetornouber?resultado loteria federal do dia 02/01/2016 mas a sua rela??o com o desmatamento do bioma é mais recente.
Come?ou por volta dos anos de 1960, quando o governo da ditadura militar atraiu grandes investidores para a regi?o através de incentivos fiscais.
A expans?o da atividade deu início a um processo acelerado de desmatamento da regi?o que se seguiu nas décadas seguintes, apoiado também pela minera??o e agricultura - principalmente pela soja, a partir de meados dos anos de 1990.
A pecuária na Amaz?nia tem 402 anos de história, mas a sua rela??o com o desmatamento do bioma é mais recente. Come?ou por volta dos anos de 1960, quando o governo da ditadura militar atraiu grandes investidores para a regi?o através de incentivos fiscais.
Na época, a maioria dos empresários optou pela cria??o de gado, pois ela permitia uma ocupa??o mais rápida do território, ao demandar menos investimentos em m?o de obra e tecnologia (saiba mais).
Boi com chip na Amaz?nia: rastreamento mostra se a carne está livre de desmatamento
1 de 4 Amazonia Legal. — Foto: Bárbara Miranda
A expans?o da atividade deu início a um processo acelerado de desmatamento da regi?o, que se seguiu nas décadas seguintes, apoiado também pela minera??o e agricultura - principalmente pela soja, a partir de meados dos anos de 1990.
A extra??o de madeira também devastou o bioma, mas ela n?o é classificada como desmatamento por n?o remover toda a vegeta??o.
Apesar de outras atividades contribuírem para a derrubada de floresta, a pecuária sempre despontou como a principal causa de desmatamento da Amaz?nia.
??De 1985 a 2022, 88% das áreas desmatadas viraram pastagem, 11%, agricultura e 1%, silvicultura, destaca a porta-voz do Greenpeace Brasil Ana Clis Ferreira, que consolidou dados da plataforma MapBiomas, que reúne estatísticas de desmatamento dos últimos 39 anos.
??Um recorte temporal mais recente mostra uma dinamica semelhante no que diz respeito à cria??o de gado: 96,4% das áreas desmatadas entre 2018 e 2022 foram convertidas em pastagens, enquanto 0,83% viraram minera??o e 0,68%, agricultura.
Nesta reportagem, você vai ler os seguintes tópicos:
a especula??o de terras na Amaz?nia;o problema dos fornecedores indiretos;como a pecuária se estabeleceu na Amaz?nia;quando ela come?ou a provocar desmatamento;as pesquisas para aumentar a produ??o sem desmatar;o que explica as taxas de desmatamento entre 2000 e 2023.
2 de 4 Florestas Convertidas em Pastagens na Amaz?nia V2 - Mob — Foto: Bárbara Miranda e Ighor Jesus | Arte g1
Especula??o de terras
Segundo o coordenador do Laboratório de Ecologia e Restaura??o Florestal da USP Ricardo Rodrigues, a abertura de pastagens, atualmente, está mais relacionada a um problema de especula??o de terras do que com a necessidade de aumentar a produ??o. Isso porque, hoje, o Brasil já tem técnicas para expandir a cria??o de gado nos pastos que já existem.
"Infelizmente, no mercado da terra no Brasil, principalmente na Amaz?nia, a área sem florestas vale muito mais que a área com florestas. No município de Paragominas, por exemplo, uma área sem floresta vale R$ 30 mil o hectare ou mais. E uma área com floresta vale R$ 3 mil o hectare", diz Rodrigues.
"O único detalhe é que a pecuária é a atividade agrícola mais barata e mais fácil de ser tocada nessas condi??es. Ent?o, por isso, ela entra como uma op??o de uso daquela terra”, acrescenta.
“O pecuarista [...] que está na frente do desmatamento, ele n?o está preocupado com a produtividade da sua pecuária, mas em manter aquela área aberta para, no futuro, conseguir vender", conclui Rodrigues.
Segundo ele, esse tipo de situa??o é diferente do pecuarista da Amaz?nia que, realmente, tem na cria??o de gado a sua fonte de renda. "Esses est?o focados na atividade e fazem tudo com nota, pagando imposto".
Brasil tem 9 vezes mais gado e galinha do que gente
Onde está o problema
A diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amaz?nia (Ipam) Ane Alencar diz que, de fato, o desmatamento na Amaz?nia é mais recorrente em terras públicas invadidas ilegalmente do que em propriedades privadas.
Mas o grande nó de tudo isso é que toda a cadeia de produ??o de carne, desde os produtores regulares até os frigoríficos, acaba contribuindo com o desmatamento quando compra animal de áreas desmatadas.
E essa é uma situa??o recorrente. Tanto é que, em 2009, o Ministério Público Federal (MPF) fechou acordos com frigoríficos da Amaz?nia exigindo que eles parassem de comprar bois de áreas desmatadas. A iniciativa foi criada após a divulga??o de um relatório do Greenpeace chamado "Farra do boi na Amaz?nia", que denunciava a situa??o.
Esses acordos, contudo, s?o voluntários e o Brasil ainda n?o tem uma política pública de rastreabilidade da cadeia bovina para fins ambientais.
De 2009 para cá, entretanto, o mercado de carne, principalmente os frigoríficos, tem tentado se adequar, diante de press?es de grandes supermercados, restaurantes e importadores de carne, como a Uni?o Europeia, que irá proibir a entrada de produtos com desmatamento a partir de 2025.
é por isso que, nos últimos 15 anos, frigoríficos e ONGs brasileiras vêm criando formas de rastrear a origem da carne. Mas, até o momento, eles só conseguem monitorar, com precis?o, seus fornecedores diretos, ou seja, as fazendas que vendem boi diretamente a eles.
"às vezes, o animal passa por quatro, cinco fazendas antes de chegar na propriedade que vai vender para o frigorífico. Ent?o a gente só está olhando para a última fazenda. A gente precisa olhar para as demais", conta o procurador do MPF Daniel Azeredo.
Essas outras propriedades s?o conhecidas como fornecedores diretos.
O g1 visitou um pecuarista da Amaz?nia que está implementando um sistema de rastreabilidade individual do seu rebanho com chips e brincos, uma forma que pode controlar melhor as compras das fazendas e frigorífico (veja aqui).
Boi 'pé duro' e carne cara
A pecuária na Amaz?nia come?ou no século 17, quando colonizadores portugueses levaram, para a regi?o, cabe?as de gado oriundas da Península Ibérica. Os animais entraram por Belém (PA) e foram se espalhando para outras regi?es, como a Ilha do Marajó, que se tornou o maior centro pecuário da Amaz?nia até os anos de 1960.
Na época, o gado criado na regi?o era o crioulo, também conhecido como "pé-duro", justamente por sua carne n?o ser nada macia. Além disso, ele levava até 10 anos para ser engordado - hoje se engorda um boi em três anos.
Por esses motivos, os estados da Amaz?nia tinham que comprar carne de outras regi?es do país, conta Moacyr Bernardino Dias Filho, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na unidade Amaz?nia Oriental.
"A carne bovina vinha de avi?o. Eles eram conhecidos como 'avi?es carniceiros' e vinham do antigo Goiás [Tocantins]. Ent?o, imagina o pre?o dessa carne", diz o pesquisador.
Nesse período, as pastagens eram naturais, ou seja, n?o eram plantadas.
>>>Volte ao topo<<<
Pecuária cresceu na ditadura
A partir dos anos de 1960, a pecuária come?ou a se desenvolver mais intensamente na Amaz?nia, com a inaugura??o da rodovia Belém-Brasília, em 1959, impulsionando a cria??o de gado em áreas próximas da nova estrada.
Segundo Dias Filho, essas fazendas eram de pequena escala, pois muitas n?o tinham recursos para aumentar as pastagens, situa??o que come?a a mudar em 1966, quando o governo militar implementou a Opera??o Amaz?nia, uma política pública para atrair investidores para a regi?o.
A diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amaz?nia (Ipam) Ane Alencar pontua que, nesta época, a Amaz?nia foi vista pelo governo como um "inferno verde", uma terra "que tinha que ser ocupada e desmatada" sob o risco de ser "invadida" por estrangeiros.
3 de 4 Publicidade do governo em que incentivava a migra??o para a Amaz?nia, de dezembro de 1971 — Foto: Reprodu??o/ Acervo O Globo
"A Opera??o Amaz?nia oferecia muitas benesses para os empreendedores: juros praticamente negativos nos empréstimos e diminui??o de imposto de renda", pontua o pesquisador da Embrapa.
Para ajudar a gerir a opera??o, os militares criaram, no mesmo ano, a Superintendência do Desenvolvimento da Amaz?nia (Sudam), além do Banco da Amaz?nia, para administrar os recursos dos empréstimos.
Nesse contexto, a cria??o de gado se destacou. "Mais de 50% dos projetos que a Sudam recebia eram de pecuária. Os empreendedores que vieram para cá eram de S?o Paulo, Minas Gerais e outros estados com forte tradi??o pecuária", destaca Dias Filho.
"Eles chegaram em uma regi?o sem infraestrutura de estradas, de energia elétrica, de saúde ou de qualquer outro tipo. E optaram pela pecuária. Por quê? Porque a pecuária exige menos recursos humanos e menos tecnologia por área", conta.
"Voce chega numa área, derruba floresta, queima, pega o avi?o e joga semente. Depois vem com o caminh?o, coloca o gado e vai embora. Depois de um tempo, você volta e recolhe os animais que a on?a n?o comeu e tu ganha dinheiro", detalha.
Já o plantio de qualquer alimento exige uma prepara??o maior do solo, como aduba??o e uso de defensivos. "Plantar seringueira, plantar dendê, exige que você, pelo menos, esteja na área tomando conta", diz.
Vale destacar que este período foi marcado também pela entrada, na Amaz?nia, do boi zebuíno, que tem uma carne de mais qualidade. Além disso, as pastagens passaram a ser plantadas.
Pastos come?aram a degradar
A expans?o da pecuária na Amaz?nia, portanto, deu início a um processo de desmatamento intenso do bioma que foi estimulado pela degrada??o das pastagens.
Isso porque os pecuaristas come?aram a perceber que os pastos perdiam qualidade depois de três anos de uso pelos bois. Ou seja, o capim n?o crescia t?o bem e plantas daninhas avan?avam sobre o local.
"E, ent?o, o que se fazia? Com a abundancia de terras e dinheiro fácil, se abandonava aquelas áreas, se partia para uma nova área de floresta e come?ava tudo de novo. Ent?o, criou-se um estigma – correto para a época – de que a pecuária era uma atividade danosa e improdutiva ao meio ambiente", afirma Dias Filho.
>>>Volte ao topo<<<
Programa Pró-pasto
Foi nesse contexto que a Embrapa come?ou a estudar as causas da degrada??o do solo e a buscar solu??es. Em 1976, a estatal lan?ou o programa Pró-pasto, com experimentos nos municípios paraenses de Paragominas e Marabá, além de cidades de Roraima, Rond?nia, Amazonas e Acre. "Foi um projeto imenso", lembra Dias Filho, que fez parte da equipe.
Por meio do Pró-Pasto, pesquisadores desenvolveram capins mais produtivos e técnicas de recupera??o e aduba??o de pastagens, que come?aram a ser aplicadas por alguns produtores rurais a partir da segunda metade dos anos de 1980.
"Come?ou a haver uma mudan?a de mentalidade porque cerca já estava topando com cerca. Ent?o, eu n?o podia mais abandonar uma área e partir para outra porque já tinha outro dono do lado", afirma o pesquisador.
"Além disso, aumentou a press?o governamental e externa em termos de meio ambiente. Ent?o, o produtor se sentiu compelido a aumentar a sua produtividade [ou seja, a produzir o mesmo ou mais em menos terra]".
Produzir mais em menos terra
Dias Filho considera que a pecuária come?ou a passar por uma "profissionaliza??o", que vem se desenvolvendo gradativamente até hoje, mas com uma diferen?a.
Se, a partir da metade dos anos de 1980, recuperar pastagem passou a ser uma preocupa??o, a partir dos anos 2000, aumentou o interesse dos produtores de impedir a degrada??o do solo.
"E isso por quê? Porque custa caro errar. Veja: para recuperar uma pastagem em degrada??o, eu gasto 3 vezes mais do que para manter uma pastagem saudável. Já para recuperar uma pastagem totalmente degradada, eu gasto 5 vezes mais", diz.
Para Dias Filho, a tendência da pecuária na Amaz?nia é produzir mais em menos terra.
"Há uma press?o ambiental. Tem gente vigiando o produtor. O mercado está exigente, n?o só em qualidade do produto, mas também em origem, se n?o é oriundo de desmatamento recente".
Segundo ele, o pecuarista da Amaz?nia tem produzido mais por área do que há 20 anos atrás. "Na Amaz?nia, o rebanho bovino cresceu 43% mais do que as áreas de pastagem", pontua, ao citar dados da Embrapa.
>>>Volte ao topo<<<
Taxas de desmatamento
Ane Alencar, do Ipam, pontua que a implementa??o do Código Florestal, em 2012, foi um grande avan?o no combate ao desmatamento.
A legisla??o obrigou os produtores rurais da Amaz?nia a preservarem 80% da sua propriedade, enquanto os 20% restantes ficaram liberados para a produ??o.
Mas ela ressalta que as mudan?as come?aram a acontecer antes, no início do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, quando Marina Silva assumiu o Ministério do Meio Ambiente.
"O governo come?ou a olhar para a especula??o e come?ou a tirar terras do mercado ilegal, a criar unidades de conserva??o, demarcar terras indígenas", conta.
Segundo ela, esse contexto explica as quedas da taxa de desmatamento da Amaz?nia Legal a partir 2005 e, posteriormente, a sua estabiliza??o, de 2012 a 2018.
4 de 4 Evolu??o do desmatamento na Amaz?nia — Foto: Arte/g1
O desmatamento, contudo, voltou a subir em 2019. "No primeiro ano do governo [de Jair] Bolsonaro, houve uma explos?o de ocupa??o e desmatamento em terras públicas. E isso aconteceu por um enfraquecimento dos órg?os fiscalizadores", diz Ane.
A trégua veio em 2023, quando a taxa de desmatamento da Amaz?nia caiu 36,7%. Segundo Ane, a isso ocorreu por causa de uma retomada dos esfor?os de fiscaliza??o.
"Como a vasta maioria do desmatamento na regi?o tem evidências de ilegalidade, quando o risco de ser pego, penalizado ou mesmo de n?o conseguir se beneficiar do desmatamento, o desmatamento tende a cair", refor?a Tasso Azevedo, Coordenador Geral do MapBiomas.
>>>Volte ao topo<<<
Leia também:
Por que o desmatamento cai na Amaz?nia e aumenta no Cerrado?
NEWSLETTER GRATUITA
BBC Audio Business Daily Turkey's 'Year of the Family'.txt
GRáFICOS
Asia_Cup_2025_-_fixtures_results_amp_scorecards_-_BBC_Sport.txt
Navegue por temas