Marília Mendon?a rejeitava rótulo 'feminejo' e abriu espa?o para nova gera??o de cantoras
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 21h15)Em 2014, o sertanejo era dominado por homens; em 2016, Marília Mendon?a rompeu esse padr?o com o suc
Marília Mendon?a rejeitava rótulo 'feminejo' e abriu espa?o para nova gera??o de cantoras
Em 2014,íliaMendon?arejeitavarótulofeminejoeabriuespa?oparanovagera??resultado do concurso 1733 da lotofácil o sertanejo era dominado por homens; em 2016, Marília Mendon?a rompeu esse padr?o com o sucesso de "Infiel".
Marília rejeitava o termo "feminejo" e lutava por igualdade real no sertanejo, n?o por um espa?o separado para mulheres.
Sua chegada ao palco marcou uma virada: letras femininas, diretas e realistas passaram a ocupar o topo das rádios.
Inicialmente crítica ao feminismo, Marília depois reconheceu o machismo do mercado e passou a usar sua história como exemplo.
O sucesso de novas cantoras como Ana Castela e Mari Fernandez é atribuído ao caminho aberto por Marília no sertanejo.
Em 2014, o sertanejo dominava o top 10 das rádios brasileiras, mas só com vozes de homens. Dois anos depois, quatro músicas cantadas por mulheres apareciam na mesma lista. Uma delas era "Infiel", o primeiro grande sucesso cantado por Marília Mendon?a, que inaugurou uma nova fase do gênero: mais feminina, mais realista, mais direta.
As cantoras que surgiram ali n?o cantavam contos de fadas. Falavam de trai??o, de amor n?o correspondido, de bebedeiras. Contavam histórias que o sertanejo sempre contou — mas agora sob outra perspectiva.
Esse movimento, que a imprensa passou a chamar de "feminejo", incomodava Marília. Ela detestava o termo. "Existe rock feminino? Existe MPB feminino? Ent?o, qual é a tua? Você acha que eu n?o posso concorrer com Zezé Di Camargo, com o Leonardo? Sertanejo é sertanejo, n?o existe feminejo", disse ela em uma reuni?o com a gravadora. Segundo a figurinista Flavia Brunetti, só de ouvir essa palavra, Marília ficava furiosa.
O terceiro episódio do podcast "Marília – o outro lado da sofrência", do g1, mostra como a cantora rejeitou o rótulo "feminejo", enfrentou o machismo do mercado e acabou abrindo espa?o para uma gera??o inteira de mulheres no sertanejo – com letras que falam de trai??o, bebedeira e liberdade sem pedir licen?a (ou?a abaixo ou na sua plataforma de áudio preferida).
1 de 3 Simone, Marília Mendon?a e Simaria em foto para single de 2019 — Foto: Kendy Higashi/Divulga??o
O inc?modo com o termo "feminejo" tinha a ver com a lógica de separa??o. Marília n?o queria um espa?o reservado às mulheres. Queria o mesmo espa?o. Igualdade na prática. E nos palcos, nas rádios, nos cachês.
Antes de Marília, o sertanejo vivia uma hegemonia masculina. O empresário Wander Oliveira relembra que as cantoras de sucesso eram vistas como "pe?as únicas", como Roberta Miranda ou Paula Fernandes. Paula, que estourou no come?o dos anos 2010, representava um perfil mais romantico, com forte influência do country americano.
Na prática, as programa??es das rádios refletiam isso. Wander conta que, quando come?ou a divulgar Marília, ouvia de radialistas que "mulher n?o pede música de mulher". Muitos também disseram que tocar mais uma voz feminina poderia derrubar a audiência.
"Infiel" virou esse jogo. Em uma semana, a música entrou entre as 10 mais pedidas. A partir daí, gravadoras e empresários correram atrás de outras vozes femininas com letras reais e linguagem direta. Mas aquela n?o seria apenas uma moda passageira: era o início de uma transforma??o mais profunda.
Antes de ser voz, Marília era bastidor. Como compositora, já tinha mais de 150 músicas gravadas por outros artistas. Escrevia o que queria ouvir como mulher. "Ela me disse que queria colocar na boca dos cantores o que gostaria de ouvir como mulher. A história de 'Cuida bem dela', por exemplo, nenhum homem teria coragem de escrever", conta o compositor Vinicius Poeta.
2 de 3 Marília Mendon?a canta com Zezé Di Camargo e Luciano — Foto: Reprodu??o/Youtube
Mas a carreira de Marília como cantora foi além da coragem de dizer o que ninguém dizia. Ela também soube cantar com dor, com deboche, com mistério. Seu estilo virou uma estética reconhecível — o “marili?nico”. "Ninguém hoje tem a personalidade para cantar como ela. 'Infiel', 'Amante n?o tem lar'... n?o tem quem peite essas músicas sem ser julgado. A Marília era abra?ada pela elite e pela massa. Porque os conflitos que ela cantava todo mundo sente", diz Poeta.
Sem essa de feminismo
No início da fama, em 2016, Marília disse ao g1 que n?o era feminista. Chegou a afirmar que o feminismo "diminui a mulher" e que nunca havia sofrido machismo. A fala causou espanto, mas também revelou algo importante: Marília ainda estava descobrindo o que significava ocupar aquele espa?o.
Com o tempo, seu discurso mudou. Na TV, reconheceu o machismo do mercado sertanejo e do Brasil. Come?ou a dizer que o melhor jeito de empoderar mulheres era pelo exemplo: mostrar sua história, sua luta, sua resistência.
E isso se refletia nas letras. Em “Troca de Cal?ada”, Marília dá voz a uma mulher marginalizada, uma garota de programa. Em “Você N?o Manda Em Mim”, canta a liberta??o de uma mulher que sai de um relacionamento abusivo. Cada can??o se tornava um retrato de dores reais, vividas por muitas. Por isso mesmo, eram t?o populares.
Simone Mendes resume: “Ela chegou com a voz, com o talento, com a do?ura, com a beleza, rasgou a verdade dela e foi: ‘Eu vou tomar a minha cacha?a sim, eu vou usar a roupa que eu quiser. Eu tenho esse corpo, é assim. Quem quiser gostar de mim que goste’. Isso é muito legal. Acho que n?o haverá outra Marília Mendon?a. O legado dela é único.”
O que veio depois dela
3 de 3 Mari Fernandez e Marília Mendon?a, em encontro nos bastidores, duas semanas antes da morte da cantora sertaneja — Foto: Arquivo Pessoal
Hoje, artistas como Simone Mendes, Lauana Prado e Ana Castela ocupam os rankings de mais ouvidas do país. E muitas delas reconhecem que só chegaram onde est?o por causa das portas que Marília abriu.
Mari Fernandez, que no come?o da carreira era chamada de "Marília Mendon?a do piseiro", lembra: “Quando a Marília chegou, ela trouxe essa nova leva de cantoras. Antes, n?o tinha tantas. Muito do que a gente vive hoje vem do trabalho que ela plantou com toda a essência e a identidade dela.”
Simone Mendes, após o fim da dupla com Simaria, buscou justamente a equipe de Marília para sua nova fase solo — incluindo o produtor Eduardo Pepato. O primeiro lan?amento dessa parceria, "Erro Gostoso", foi um sucesso imediato.
A letra, sobre uma mulher que n?o sabe dizer n?o a um amor que faz mal, carrega a assinatura emocional que lembra as melhores músicas da Marília. "Tudo que você faz que dá certo, você tenta repetir a dose, de acordo com a característica do artista", resume Pepato.
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