O que muda na campanha de vacina??o contra covid-19, doen?a que já matou 3,5 mil brasileiros em 2024
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 22h28)1 de 4 Covid matou mais de 400 mil brasileiros num só ano — Foto: GETTY IMAGES"é como se um
O que muda na campanha de vacina??o contra covid-19, doen?a que já matou 3,5 mil brasileiros em 2024
1 de 4 Covid matou mais de 400 mil brasileiros num só ano — Foto: GETTY IMAGES
"é como se um avi?o caísse toda semana." Essa é a compara??o feita pelo médico Renato Kfouri,??ocontracoviddoen?aquejácartelas de bingo com todos os números vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imuniza??es (SBIm), para lembrar que a covid-19 ainda causa cerca de 200 mortes no Brasil a cada sete dias.
Até o final de maio, o país havia registrado mais de 3,5 mil óbitos relacionados à infec??o causada pelo Sars-CoV-2, o coronavírus por trás da pandemia.
"é claro que tivemos períodos mais graves, em que chegamos a contabilizar 4 mil mortes em um único dia", pondera Kfouri.
Em 2021, o ano mais grave da crise sanitária, o Brasil teve 424 mil mortes por covid-19. Desde ent?o, esses números caíram de forma dramática: foram 74 mil óbitos em 2022, 14 mil em 2023 e 3,5 mil nesses primeiros cinco meses de 2024.
A queda coincide com a chegada das vacinas a partir de 2021 e o aumento do número de pessoas que tomaram as doses preconizadas.
"A vacina??o foi a grande responsável por conseguirmos conter essa doen?a t?o amea?adora", constata a infectologista Raquel Stucchi, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A médica Isabella Ballalai, também da SBIm, concorda: "A vacina??o contra a covid-19 no Brasil foi um sucesso e nos tornamos um dos primeiros países a ter mais de 80% da popula??o imunizada. Isso mostra que o brasileiro acredita nas vacinas".
Os dados recém-divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua revelam que, no primeiro trimestre de 2023, 188,3 milh?es de brasileiros haviam tomado pelo menos uma dose de vacina contra a covid-19. Isso representa 93,9% da popula??o. Cerca de 11 milh?es (ou 5,6% do total) declararam que n?o se imunizaram.
"Hoje, ainda temos muitas mortes por uma doen?a para a qual existem doses disponíveis", lamenta Ballalai.
Passados mais de três anos desde que as primeiras doses que protegem contra o coronavírus come?aram a chegar aos postos de saúde, muita coisa mudou.
Alguns imunizantes — que foram essenciais para conter a pandemia — acabaram aposentados, por diferentes motivos.
As faixas da popula??o que devem tomar refor?os periódicos também sofreram uma série de ajustes.
E ainda há um grande debate sobre quando e como as doses devem ser atualizadas para proteger contra as mais recentes variantes do coronavírus.
A seguir, a BBC News Brasil resume as principais informa??es sobre a nova campanha de vacina??o contra a covid-19, que foi iniciada pelo Ministério da Saúde no final de maio.
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Algumas vacinas s?o aposentadas, e outras entram em cena
Ao longo das campanhas de 2021 a 2023, o Brasil chegou a adotar quatro tipos diferentes de vacinas contra a covid-19: a CoronaVac (Sinovac/Butantan), a Comirnaty (Pfizer), a Vaxzevria (AstraZeneca/FioCruz) e a Jcovden (Janssen).
"Todas foram extremamente importantes naquele momento", avalia Stucchi, que também integra a SBIm.
Mais recentemente, três dessas op??es saíram de cena nos postos de saúde brasileiros: as vacinas CoronaVac, da AstraZeneca e da Janssen n?o s?o mais aplicadas.
Do grupo "original", restaram as doses fabricadas pela Pfizer — que também passaram por atualiza??es para proteger contra as variantes do vírus.
Além delas, o país também come?ará a usar na atual campanha o imunizante Spikevax, produzido pela farmacêutica Moderna.
Pfizer e Moderna usam a tecnologia do mRNA. Isso significa que as doses trazem uma pequena sequência de material genético capaz de instruir as células do nosso próprio corpo a fabricarem a proteína spike, uma estrutura presente na superfície do coronavírus.
Esse material é identificado pelo sistema imunológico, que cria uma resposta para conter uma infec??o pelo patógeno e as consequências mais graves da covid-19 no organismo, que est?o relacionadas à hospitaliza??o e morte.
Há ainda uma terceira vacina recém-aprovada no Brasil: a Covovax, desenvolvida pelo laboratório Novavax e licenciada no país pela Zalika Farmacêutica.
Ela é uma vacina de subunidade proteica, uma tecnologia também usada nos imunizantes que protegem contra o HPV e a hepatite B.
Neste caso, proteínas do coronavírus s?o injetadas diretamente no corpo, para que as células de defesa aprendam a identificar e a lidar com essa amea?a.
Por ora, n?o há previs?o de quando a Covovax será utilizada na rede pública de saúde brasileira.
Mas, afinal, o que motivou a "aposentadoria" de algumas vacinas e a "promo??o" de outras?
"Hoje, sabemos que as vacinas de mRNA [Pfizer e Moderna] induzem uma resposta imunológica mais robusta e uma maior prote??o", explica Stucchi.
Em compara??o, os resultados obtidos com a CoronaVac se mostraram inferiores — e, por esse motivo, ela foi deixada de lado conforme os estoques foram se esgotando, embora ainda seja recomendada em algumas situa??es para as crian?as.
2 de 4 Vacina da AstraZeneca já n?o é mais utilizada nos programas de vacina??o — Foto: GETTY IMAGES
Além disso, a experiência de vida real revelou que as vacinas de vetor viral (AstraZeneca e Janssen, entre outras) est?o relacionadas a um efeito colateral raro em algumas popula??es, como as gestantes: a trombose com trombocitopenia.
O Centro de Controle e Preven??o de Doen?as (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos calcula que esse evento adverso afeta 4 pessoas a cada 1 milh?o de doses administradas.
"A trombose com trombocitopenia é um efeito colateral raro, mas sério, que provoca coágulos em grandes vasos sanguíneos, além de diminuir as plaquetas", explica o CDC.
Ballalai explica que, em um contexto de pandemia, quando havia um altíssimo número de casos e mortes por covid-19, o uso dos produtos de AstraZeneca ou Janssen era justificado.
"Nesse contexto, essas vacinas continuaram a ser utilizadas, porque a rela??o risco-benefício era muito grande", explica Ballalai.
Os pesquisadores também colocaram na balan?a o fato de que a própria infec??o pelo coronavírus representa um risco relativamente mais alto de desenvolver quadros de trombose quando comparada à vacina??o com essas op??es.
"Ou você simplesmente deixava as pessoas morrerem de covid, ou apenas n?o aplicava essas doses naqueles grupos onde havia mais risco de desenvolver esse evento adverso", destaca a médica.
à época, as autoridades de saúde optaram pela segunda alternativa: as vacinas de AstraZeneca e Janssen seguiram na campanha, mas deixaram de ser utilizadas em mulheres grávidas, por exemplo.
"Com o passar do tempo, passamos a ter mais quantidade de outras vacinas, especialmente da Pfizer. Com isso, as doses de AstraZeneca foram sendo usadas com menor frequência, até que elas deixaram de ser utilizadas nas campanhas", complementa Ballalai.
Esse debate voltou à tona recentemente, quando a AstraZeneca divulgou no início de maio que deixaria de fabricar sua vacina.
A farmacêutica disse que estava "incrivelmente orgulhosa" dos resultados obtidos: "De acordo com estimativas independentes, mais de 6,5 milh?es de vidas foram salvas apenas no primeiro ano de vacina??o".
"Nossos esfor?os foram reconhecidos por governos de todo o mundo e s?o apontados como amplamente decisivos para acabar com a pandemia global", disse o laboratório.
A notícia recente n?o significa, porém, que a AstraZeneca só reconheceu agora que a vacina está relacionada aos (raros) casos de trombose com trombocitopenia, como sugerem alguns textos com informa??es falsas compartilhados em sites e redes sociais.
Há documentos divulgados pela farmacêutica desde 2021 que citavam claramente esse evento adverso — e propunham protocolos para minimizar os riscos ou fazer o diagnóstico precoce dos casos.
3 de 4 Vacina da Moderna fará sua 'estreia' no Brasil na campanha de 2024 — Foto: GETTY IMAGES
Vacina??o contra a covid: quem deve tomar as doses de refor?o?
Se anteriormente os imunizantes contra o coronavírus estavam disponíveis praticamente a todas as idades (com raríssimas exce??es), agora eles ser?o priorizados a alguns públicos-alvo específicos.
Kfouri diz que a defini??o de grupos prioritários tem a ver com o contexto atual. "A vacina??o universal contra a covid n?o faz mais sentido, pois n?o estamos diante do mesmo risco que enfrentávamos há quatro anos", avalia o médico.
"Alcan?amos uma imunidade populacional, e dificilmente um adulto jovem saudável vai parar no hospital por causa dessa doen?a agora."
No entanto, existem alguns grupos que continuam altamente vulneráveis, seja porque eles ainda n?o tiveram contato algum com o Sars-CoV-2 ou porque têm um sistema imunológico mais frágil, que precisa ser lembrado com frequência sobre como combater esse patógeno.
Também há uma diferen?a na periodicidade de aplica??o dos refor?os. Alguns grupos precisar?o receber uma dose por ano, enquanto outros devem tomar a inje??o a cada seis meses.
A campanha de 2024 tra?ada pelo Ministério da Saúde estabelece o seguinte.
Duas doses por ano, com um intervalo mínimo de seis meses entre elas para:
Pessoas com mais de 60 anos;Indivíduos imunocomprometidos com mais de 5 anos;Gestantes e puérperas.
Os "imunocomprometidos" s?o pessoas que têm qualquer condi??o que altera o funcionamento do sistema imunológico, como é o caso de pacientes que fazem tratamento contra o cancer, por exemplo.
Já o grupo das puérperas inclui as mulheres que deram à luz nos últimos 45 a 60 dias.
Uma vacina por ano, com um intervalo mínimo de três meses em rela??o à última dose aplicada para:
Pessoas que vivem em institui??es de longa permanência;Trabalhadores de institui??es de longa permanência;Indígenas;Ribeirinhos;Quilombolas;Trabalhadores da saúde;Pessoas com deficiência permanente;Pessoas com comorbidades;Pessoas privadas de liberdade com mais de 18 anos;Funcionários do sistema prisional;Adolescentes e jovens que cumprem medidas socioeducativas;Pessoas em situa??o de rua.
Para quem nunca foi vacinado contra a covid:
Crian?as de 6 meses a 5 anos: duas doses de vacina, com um intervalo de quatro semanas entre elas;Crian?as de mais de 5 anos: uma dose do imunizante;Pessoas imunocomprometidas com mais de 5 anos: três doses. A segunda é aplicada quatro semanas após a primeira. Já a terceira vem após oito semanas da segunda.
"Temos uma preocupa??o grande com as crian?as, porque vemos muitos casos de covid nessa faixa etária que exigem hospitaliza??o e apresentam risco de morte", alerta Ballalai.
"Precisamos aumentar a prote??o desse público."
Os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil aprovam a estratégia adotada pelo Ministério da Saúde contra a covid-19 e observam que ela se assemelha ao que é feito há anos na vacina??o contra o influenza, o vírus causador da gripe.
4 de 4 A vacina??o contra a covid-19 entrou para o calendário infantil — Foto: GETTY IMAGES
Doses que resguardam contra as novas variantes
Por fim, o último aspecto da vacina??o que passou por uma mudan?a relevante tem a ver com a atualiza??o das doses, para que garantam um bom nível de prote??o contra as variantes do coronavírus que circulam com mais intensidade no momento.
Isso é necessário porque o patógeno sofre muta??es genéticas o tempo todo. Algumas dessas mudan?as conferem alguma vantagem a ele — como uma facilidade maior para ser transmitido de uma pessoa para outra, por exemplo.
Os imunizantes, portanto, precisam ser capazes de "treinar" células imunes para as amea?as em voga.
A vacina que será ofertada agora no Brasil foi desenhada para fazer frente à cepa XBB.1.5.
Embora já existam outras variantes de preocupa??o ou em monitoramento, como a JN.1 e a KP.2, as autoridades consideram que essa vers?o do imunizante em uso (contra a XBB) confere um bom nível de prote??o, ao reduzir o risco de hospitaliza??o e morte por covid-19.
No entanto, os médicos entrevistados pela reportagem entendem que esse processo de atualiza??o das vacinas contra o coronavírus precisará passar por ajustes nos próximos anos.
"A Organiza??o Mundial da Saúde recomenda atualmente que as vacinas contra a covid sejam revisadas uma vez ao ano, no mês de junho. Mas essa orienta??o parece privilegiar o Hemisfério Norte, que terá acesso às doses mais atualizadas durante o inverno em compara??o com o Hemisfério Sul", critica Stucchi.
Os especialistas sugerem aqui a ado??o do mesmo modelo utilizado na imuniza??o contra o influenza, em que a composi??o das doses que ser?o usadas nas campanhas é definida em fevereiro para o Hemisfério Norte e em setembro para o Hemisfério Sul.
Kfouri aponta que ainda é preciso observar o comportamento do coronavírus por mais tempo para entender a sazonalidade dele.
"Com o influenza, temos muitos anos de vigilancia, o que nos garante uma previsibilidade das cepas de vírus que v?o circular em cada temporada", compara ele.
"Já com o coronavírus, isso ainda n?o está bem definido. Tivemos picos de casos em pleno janeiro, durante o ver?o", argumenta o médico.
De acordo com o Ministério da Saúde, a meta da nova campanha de vacina??o contra a covid-19 é proteger cerca de 70 milh?es de brasileiros.
"A covid-19 n?o acabou. Ela ainda tem um impacto importante na saúde pública e privada", alerta Stucchi.
"A vacina??o é a estratégia que pode mudar a história ao garantir um quadro mais leve para a grande maioria das pessoas."
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