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Como aeroporto de Bogotá desbancou os de S?o Paulo e Cidade do México e se tornou o mais movimentado da América Latina

1 de 5 Desde 2012,ádesbancouosdeS?oPauloeCidadedoMéxicoesetornouomaismovimentadodaAméjogo bichodeu no poste o nome do candidato presidencial assassinado Luis Carlos Galán Sarmiento (1943-1989) acompanha a denomina??o do aeroporto El Dorado em Bogotá, na Col?mbia — Foto: Getty Images

N?o é surpresa que S?o Paulo e a Cidade do México tenham dominado por décadas o tráfego aéreo na América Latina e na regi?o do Caribe.

Seus aeroportos internacionais, incrustados um no sul e o outro no norte do continente, representam as duas cidades mais povoadas e as maiores economias da América Latina.

Mas o aeroporto El Dorado de Bogotá, na Col?mbia, vem crescendo muito — mesmo sendo de menor porte e estando localizado em uma cidade com pelo menos a metade dos habitantes das duas principais concorrentes.

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Este crescimento fez com que, entre 2024 e 2025, ele passasse a ser o aeroporto com maior tráfego da América Latina, pela primeira vez desde sua inaugura??o, em 1959.

Em 2024, 45.802.360 passageiros transitaram pelo aeroporto internacional de Bogotá, segundo o Conselho Internacional de Aeroportos para a América Latina e o Caribe (ACI-LAC, na sigla em inglês).

O Aeroporto Internacional de Guarulhos (GRU), em S?o Paulo, deixou de ocupar a vice-lideran?a e caiu para a terceira posi??o no ranking regional, com 43.565.746 milh?es de passageiros em 2024.

A Cidade do México, que historicamente liderava a lista, ficou em segundo lugar, com 45.359.485 milh?es.

Mesmo com a queda no ranking latino-americano, Guarulhos segue como o maior aeroporto do Brasil. Seu movimento foi muito superior ao de Congonhas (23,1 milh?es), que aparece em sétimo lugar, e quase o triplo do registrado em Brasília (15,1 milh?es), em décimo lugar.

Os números mostram ainda que Guarulhos recuperou o patamar pré-pandemia. Em 2019, o terminal havia registrado 43,1 milh?es de passageiros, praticamente igual ao total de 2024.

Mas a nova lideran?a de Bogotá n?o para apenas no fluxo de passageiros. El Dorado também encabe?a os rankings de volume de carga aérea e de movimenta??o de aeronaves no continente.

Enquanto as autoridades da capital colombiana comemoram o feito, analistas elogiam e, ao mesmo tempo, questionam a alta competitividade do setor e os desafios enfrentados por El Dorado.

Afinal, frente ao aumento do número de passageiros, o aeroporto de Bogotá é considerado pequeno e, às vezes, burocrático.

Mudan?a de percep??o

María Fernanda Sánchez recorda que, apenas 20 anos atrás, El Dorado se mostrava "pequeníssimo, como um grande casar?o, pouco funcional, velho, com apenas seis ou sete portas de saída".

Na época, ele estava longe de ficar de igual para igual com diversos aeroportos das capitais latino-americanas.

"Hoje, há dezenas de portas, uma grande infraestrutura, modernidade, eficiência e tecnologia de ponta", declarou Sánchez à BBC News Mundo (o servi?o em espanhol da BBC). Ela é especialista em turismo e diretora da consultoria Tourism Innovation Consulting.

Sánchez conta que, em 2006, o governo decidiu remodelar, ampliar e transformar progressivamente o aeroporto da capital colombiana.

2 de 5 Aeroporto El Dorado, de Bogotá, é a principal porta de entrada para a Col?mbia, que vive o auge do seu setor turístico — Foto: Alejandro Martínez/AFP via Getty Images

Este projeto coincidiu com a transforma??o da percep??o internacional sobre a Col?mbia. Os especialistas consultados pela BBC afirmam que esta transforma??o caminha lado a lado com a decolagem do setor aeroportuário.

"Era a época da política de seguran?a democrática de álvaro Uribe [presidente da Col?mbia, 2002-2010]", explica Sánchez.

"O país come?ou a transmitir uma percep??o de seguran?a, de que era possível visitá-lo sem que acontecesse nada de grave."

A política de Uribe foi duramente criticada, devido aos relatos de abusos das for?as do Estado e de grupos paramilitares frente à popula??o civil. Mas ela reduziu os índices de violência e debilitou as guerrilhas de esquerda, que estavam em guerra contra o Estado colombiano.

Em 2016, as Farc (For?as Armadas Revolucionárias da Col?mbia) e o governo do país assinaram um acordo de paz histórico, que mudou ainda mais a percep??o internacional sobre a Col?mbia.

"Até aquela época, para muitas pessoas, éramos apenas Cartagena, uma cidade caribenha quase considerada fora de um país taxado de violento e inseguro", relembra Sánchez.

Desde ent?o, o número de turistas que visitam a Col?mbia vem aumentando, exceto pelo colapso causado pela pandemia de covid-19, e atingiu o recorde de 6,7 milh?es de visitantes estrangeiros em 2024.

A maioria destes visitantes entra no país pelo aeroporto El Dorado, que foi reformado e ampliado. Com sua localiza??o vantajosa, ele ultrapassou os aeroportos mais competitivos do continente.

Conectividade e economia

Basta procurar no mapa as cidades de S?o Paulo, Bogotá e a Cidade do México e localizar alguns destinos populares para cidad?os latino-americanos — como Madri, na Espanha, Miami e Nova York, nos Estados Unidos, ou Londres — para perceber que Bogotá, aberta para o Oceano Atlantico, perto do Caribe e da linha do Equador, detém posi??o estratégica como porto de entrada para a América do Sul.

"Estamos a cerca de três horas e meia ou menos de diversos dos principais destinos da regi?o na América Central, do Sul e de Miami, nos Estados Unidos", defende Andrés Santamaría, diretor do Instituto Distrital de Turismo da Prefeitura de Bogotá.

3 de 5 Altitude e localiza??o como porta de entrada da América do Sul, tornam Bogotá uma alternativa competitiva para as companhias aéreas, que podem economizar tempo e combustível — Foto: Anadolu Agency via Getty Images

As companhias aéreas também aproveitam a altitude de Bogotá.

A capital colombiana fica a mais de 2,6 mil metros sobre o nível do mar. é a terceira capital mais alta do continente, atrás de Quito, no Equador (2,8 mil metros), e de La Paz, a capital administrativa da Bolívia, a 3,6 mil metros.

Em aeroportos situados a grande altitude, os avi?es economizam tempo e combustível na decolagem e na aterrissagem, atingindo a altura necessária com mais eficiência, segundo Sánchez e Santamaría.

Esta economia de tempo e combustível também pode repercutir em pre?os de passagens aéreas mais competitivos para os clientes, destacam os especialistas.

"Com condi??es como estas, n?o surpreende que uma companhia aérea de prestígio como a Emirates Airlines tenha criado voos diários entre Bogotá, Miami e Dubai e que tantas companhias com códigos compartilhados fa?am escala no El Dorado", explica Sánchez.

Centro de negócios e turismo

O alto fluxo de passageiros mostrou às autoridades que Bogotá tem um fil?o turístico e de negócios para explorar. Elas acreditam que este campo pode aumentar ainda mais os números de El Dorado.

Cidad?os de Bogotá acostumados a viajar ainda observam com surpresa o boom turístico colombiano e da sua capital. Eles costumavam considerar sua cidade "a capital feia da América Latina" e observavam outras cidades colombianas se tornarem mais atraentes para os turistas internacionais, como Medellín e Cartagena.

"Dos mais de 45 milh?es de passageiros [que passam anualmente por El Dorado], cerca de seis milh?es s?o cidad?os estrangeiros em transito, o que é uma oportunidade para Bogotá", destaca Santamaría.

"é algo que muitas cidades fazem ao redor do mundo: atrair passageiros para que fiquem por mais tempo e que, no futuro, pensem em Bogotá como destino turístico."

Diversas empresas e institui??es parecem estar se coordenando com este propósito.

A empresa aérea colombiana Avianca, por exemplo, é uma das mais antigas do mundo e seu principal hub é Bogotá. Ela mantém uma estratégia chamada stopover, que oferece aos passageiros em transito a troca da sua passagem sem custos para as 24 horas seguintes.

Empresas de turismo, transporte, hotelaria e autoridades trabalham para visibilizar mais a cidade como atraente destino gastron?mico e cultural para passageiros de longa e curta permanência.

Estas estratégias também s?o destinadas ao grande fluxo de passageiros que viajam a negócios.

"Bogotá vem trabalhando há tempos no turismo de reuni?es, com congressos, simpósios, cursos e encontros", afirma Sánchez. "é impressionante a quantidade de eventos acolhidos pela cidade gra?as ao aeroporto."

"Se preciso fazer uma reuni?o com meus executivos, o ponto para todos na América Latina é Bogotá. Existem voos de toda a regi?o e de aeroportos importantes da Europa e dos Estados Unidos."

Os analistas apontam que, quando o aeroporto de Bogotá cresce, a cidade acompanha esse crescimento e vice-versa.

"Se esta coordena??o for bem implementada, ela poderia gerar mais 700 mil a um milh?o de passageiros por ano no futuro próximo", calcula Santamaría.

Concorrência, burocracia e infraestrutura

Mas uma coisa é a inten??o e outra é a realidade, que n?o está livre de desafios. Diversas capitais latino-americanas concorrem pelos céus do continente e a lideran?a de Bogotá enfrenta suas limita??es.

Além do aeroporto Benito Juárez, a Cidade do México inaugurou, em 2022, o Aeroporto Internacional Felipe ángeles.

Este é um fator que a própria prefeitura de Bogotá reconhece como fundamental para a redu??o do número de passageiros no principal aeroporto da capital mexicana e o crescimento de El Dorado no ranking latino-americano.

Por outro lado, Lima, no Peru, inaugurou um novo aeroporto em maio de 2025.

Sua localiza??o é privilegiada para destinos do Canadá e da Argentina, em avi?es de fuselagem estreita. E também está mais próximo de países asiáticos como a China, uma potência que vem fortalecendo suas rela??es de investimento e coopera??o com a América do Sul nas últimas décadas.

A necessidade de moderniza??o e amplia??o é exatamente o ponto que lan?a dúvidas sobre a lideran?a do aeroporto El Dorado a curto e médio prazo.

"Hoje, ele consegue atender o grande número de passageiros, mas precisará ser ampliado para continuar crescendo", explica Santamaría. "é evidente. Existem planos de amplia??o para 2027."

4 de 5 Analistas indicam que El Dorado ficou pequeno para o grande volume de passageiros que passam pelo aeroporto todos os anos — Foto: Getty Images

Com seus dois terminais, El Dorado concorre com os dois do aeroporto Benito Juárez, na Cidade do México, mais o novo aeroporto Felipe ángeles, além dos três terminais de Guarulhos.

"Nós cresceríamos muito com a amplia??o do aeroporto, mas cumprir com este objetivo a tempo é um desafio", reconhece Santamaría.

"A Col?mbia e Bogotá n?o esperavam ter esta percep??o turística que se observa agora."

Outras preocupa??es também surgem no horizonte. A primeira delas é a burocracia, que permeia praticamente todas as institui??es estatais colombianas.

Passageiros e analistas se queixam do longo tempo passado na imigra??o. Nas horas de pico, ela estende a experiência da viagem.

"O boom de Bogotá e seu aeroporto ficou fora de controle na imigra??o", destaca Sánchez. "Existem ocasi?es em que as pessoas ficam três horas paradas, esperando por um carimbo. Isso n?o pode acontecer."

Mas ela reconhece os avan?os tecnológicos, como as portas de reconhecimento biométrico.

5 de 5 Avan?os como a instala??o de sistemas de reconhecimento biométrico aumentaram a eficiência do aeroporto de Bogotá, mas ainda se verificam atrasos na imigra??o — Foto: Juan Barreto/AFP via Getty Images

"Por fim, existe a seguran?a", acrescenta Sánchez.

"A percep??o é muito diferente de décadas atrás, mas percebo uma preocupa??o crescente, devido a casos como o recente assassinato do senador Miguel Uribe Turbay [1986-2025], ocorrido na cidade."

Saberemos nos próximos meses se esses desafios prejudicam o dinamismo de Bogotá como centro turístico e aeroportuário, quando os números e rankings forem atualizados.

Por enquanto, as autoridades e empresas do setor tentam maximizar esse boom. Eles esperam que seja muito mais do que uma moda passageira.