A Coisa Ficou Preta: artista de Maceió resgata lambe-lambe, questiona o racismo e 'dá voz' aos muros do país
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14 Sep 2025(atualizado 14/09/2025 às 22h03)Gleyson Borges, o criador do “A Coisa Ficou Preta”, é um artista visual que usa a arte como instrume
A Coisa Ficou Preta: artista de Maceió resgata lambe-lambe, questiona o racismo e 'dá voz' aos muros do país
Gleyson Borges,óresgatalambelambequestionaoracismoedávozaosmurosdopaíresultado da quina concur?o 4578 o criador do “A Coisa Ficou Preta”, é um artista visual que usa a arte como instrumento de resistência, empoderamento e diálogo, ampliando a presen?a negra nas artes visuais.
Formado em administra??o pela Ufal, desde 2016 usa a arte como instrumento de resistência, empoderamento e diálogo, ampliando a presen?a negra nas artes visuais.
Maceioense, Gleyson já colou sua arte por diversas cidades do Brasil, como Belo Horizonte e Recife, além de fazer interven??es no Rio de Janeiro e S?o Paulo.
Com mais de 55 mil seguidores nas redes sociais, a comunidade de Gleyson é bem engajada no trabalho do artista.
??? Que Alagoas guarda riquezas históricas, artísticas e culturais n?o é segredo para ninguém. As músicas daqui falam, o artesanato conta histórias, os muros da capital alagoana gritam e se expressam das mais variadas formas. Do grafite ao lambe-lambe, Maceió é feita da voz do povo: é dele e para ele.
Nas terras de Zumbi e Dandara, um artista se destaca por suas colagens que empoderam pessoas negras nos muros de Maceió. “Você me vê ou só o que eu carrego?” e “Quantas pessoas negras têm no seu filme favorito?”. Esses s?o só alguns dos trabalhos de Gleyson Borges, o criador do “A Coisa Ficou Preta”, a forma como ele assina suas obras de "interven??es pretas nos muros brancos", como ele mesmo define.
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Formado em administra??o pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), desde 2016 usa a arte como instrumento de resistência, empoderamento e diálogo, ampliando a presen?a negra nas artes visuais. O g1 conversou com Gleyson sobre seu trabalho e a arte do lambe-lambe , que é um tipo de colagem feita em muros.
???A Coisa Ficou Preta
"Político e provocativo", é assim que Gleyson descreve seu trabalho. Há quase dez anos ele trabalha como artista visual. Segundo ele, a ideia de criar o "A Coisa Ficou Preta" veio da ideia de ressignificar express?es racistas, quando o artista passou a fazer lambe-lambe, em 2018.
"Falar que a coisa ficou preta historicamente, socialmente é uma express?o racista. é uma express?o que se refere a alguma coisa que deu errado, uma coisa que que ficou ruim e eu decidi adotar isso para mim, para trazer um novo significado, né?", fala
Maceioense, Gleyson já colou sua arte por diversas cidades do Brasil, como Belo Horizonte e Recife, além de fazer interven??es no Rio de Janeiro e S?o Paulo. Para ele, colar em outros lugares exige mais aten??o, cuidado e adrenalina pelo fato do lambe-lambe, assim como outras formas de arte de rua, é considerado como 'vandalismo'.
"Em Maceió eu tenho no??o de locais, de horários, de rotas para fazer meu trabalho da forma mais segura possível. Em outras cidades eu n?o tenho referência, ent?o é um trabalho que exige um pouco mais de cuidado e aten??o, principalmente por ser algo que costumo fazer sozinho", compartilhou
Com mais de 55 mil seguidores nas redes sociais, a comunidade de Gleyson é bem engajada no trabalho do artista. Ele faz vídeos pontuando e se divertindo com os "melhores piores" comentários dos seus posts, enquanto o público ri dos tênis "excêntricos" usados pelo artista: enquanto ele posta fotos e vídeos mostrando os sapatos do dia, seus seguidores riem e brincam, dizendo que ele é o "rei dos tênis feios". é uma troca bastante significativa para quem faz a arte acontecer.
Ele reconhece esse movimento e gosta das diferentes formas que as pessoas têm de apoiar sua arte. Segundo ele, é bom ver as mesmas pessoas comentando, apoiando e brincando. é um tipo de motiva??o.
"Tem a galera que está sempre compartilhando, comentando e engajando nas minhas redes sociais, o que é importante também que ajuda na minha visibilidade no meu trabalho. Tem a galera que está combatendo comentários racistas que fazem nas minhas publica??es. Ent?o, mesmo sendo tudo isso acontecendo online, é um apoio que reflete no offline, reflete na minha vida", diz.
1 de 2 Gleyson brinca com seus seguidores — Foto: Reprodu??o/Redes Sociais
?????????As obras de Gleyson Borges
De Maceió para o Brasil, as obras do artista já foram reconhecidas em diversos lugares, como quando a obra "Cola??o" apareceu em uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, para ilustrar o número de jovens na universidade e forma??o acadêmica.
"Isso me mostra que eu estou indo pelo caminho certo, acho que é uma forma de valida??o que, querendo ou n?o, é importante para o artista, até como forma de motiva??o e de ter energia para continuar criando", disse.
Para Gleyson, essa é uma forma de visibilidade potente.
"é muito doido ver essas coisas acontecendo, é sempre uma surpresa, e s?o coisas que acontecem e eu fico acabando sabendo por outras pessoas que acompanham o meu trabalho nas mídias sociais e acabam mandando mensagem dizendo 'olha, está aparecendo num jornal', e eu fico 'oxe, como assim?'", brincou.
A obra em quest?o era "Cola??o", que retrata um jovem negro, vestido com uma beca, traje usado em formaturas, atirando um diploma para o alto, tendo a educa??o como 'arma' para a emancipa??o social, política e econ?mica da popula??o negra. Além dela, outras cria??es de Gleyson falam sobre reflex?es sociais e ressignificados.
A série "Pintado de preto", por exemplo, faz releituras de grandes obras que tem personagens principais brancos, como a 'Monalisa', de Leonardo DaVinci. Já "Dona Gil" retrata a frase, "Cansei de ser dona de casa, quero ser dona da rua", dita pela m?e de Gleyson em uma conversa na cozinha de casa.
Veja as obras de Gleyson
De acordo com ele, boa parte do discurso impresso nas suas obras vem do longo processo de se entender e reconhecer enquanto pessoa negra. Ele conta que ouvir o rap, principalmente artistas como Racionais Mc e Emicida, foi algo essencial nessa realidade.
"Algumas artes tem um pouco menos, é menos perceptível essa pessoalidade, outras obras s?o puramente Gleyson, sabe? Algumas eu até já cheguei a pensar que parece que eu criei essa arte pra mim. Parece que eu t? tentando falar comigo mesmo. Ent?o, é uma coisa que eu n?o consigo dividir. A minha história vai junto com a minha arte", fala.
?????Lambe-lambe
O lambe-lambe se desenvolveu bem no território brasileiro. Mais conhecido hoje pelo caráter publicitário, tem a sua característica passageira. Esse tipo de arte é colado nos muros das cidades e n?o se limita a divulga??o de eventos, ele abra?a uma grande variedade de temas, como poesia e manifesta??es políticas, normalmente mirando denúncias e causas sociais. Há quem diga que ele viveu seu auge durante a ditadura militar no Brasil, frequentemente utilizado como forma de denúncia.
Com tesoura, cola e tinta nas m?os, o lambe é simples, acessível e marca presen?a em centros culturais e bairros históricos, como é o caso do Jaraguá, em Maceió. Para Gleyson, escolher o lambe-lambe se deu ao fato da rua ser o maior museu do mundo.
"Eu acho que a rua é o lugar onde as coisas acontecem, é onde as pessoas est?o, é o melhor e maior museu do mundo que está aberto 24 horas por dia, nunca fecha e para mim era essencial estar na rua, n?o queria fazer um trabalho puramente digital por exemplo", disse.
Gleyson contou também sobre o seu processo criativo nesse tipo de arte.
"Eu gosto de pensar que eu tenho uma grande caixa de ferramentas na cabe?a e eu vou juntando várias pecinhas, várias ferramentas, pelas coisas que v?o acontecendo no meu dia a dia. Ent?o, as referências que eu tenho, as coisas que eu observo e o que eu acho interessante, as coisas que eu penso, as conversas que eu tenho com outras pessoas, os encontros na rua, consumo de outras formas de arte, sejam elas visuais, músicas, cinema", disse.
Além disso, ele compartilhou um pouco da retroalimenta??o do seu trabalho. Segundo ele, o apoio é ele mesmo.
"Tento vender alguns trabalhos, fazer alguns trabalhos com a minha arte que geram a renda que eu consigo reinvestir no meu trabalho, ent?o fa?o tudo por conta própria, todas as contrata??es, servi?o, compra de material, é tudo comigo".
Hoje, o lambe-lambe n?o é a única forma de arte com que Gleyson trabalha. Agora madeira, stencil, literatura e bordado também fazem parte do seu portfólio.
*Estagiária sob supervis?o.
2 de 2 Conhe?a Gleyson Borges — Foto: Gleyson Borges/Arquivo Pessoal
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