Diálogos RJ debate a for?a cultural do estado do Rio de Janeiro; confira como participar
Sob press?o, cidades buscam mais resiliência climática 25 anos Valor Econ?mico.txt
Alagamento causado pela chuva na marginal do ?ocidadesbuscammaisresiliênciaclimáticaanosValorEcon?sonho que ganhou na loteriaTietê, na zona norte da capital paulista — Foto: Ivan Ribeiro/Folhapress Por mais combalido que esteja, o futebol de várzea ainda resiste. O termo ligado ao esporte bret?o remete a um tempo em que, na cidade de S?o Paulo, as margens dos grandes rios estavam livres, prontas para receber campos de grama - nem sempre bem cuidada - ou de terra batida. Quando chovia, o Tietê, por exemplo, que recebe grande parte das águas da cidade, transbordava e inundava tudo. é um processo que continua ocorrendo nas últimas décadas, mas, em vez dos campos, hoje praticamente inexistentes, quem sofre s?o as marginais. Para evitar que a cidade pare, além de um sistema que reverte o fluxo do rio Pinheiros, impedindo que ele jogue água sobre as marginais, s?o necessárias constantes dragagens da calha do Tietê. O que deu errado? window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({ mode: 'organic-thumbs-feed-01-stream', container: 'taboola-mid-article-saiba-mais', placement: 'Mid Article Saiba Mais', target_type: 'mix' }); Em tempos de mudan?as climáticas globais, está cada vez mais óbvio: o concreto ocupou o lugar da natureza. Agora, em todo o mundo, corre-se para fazer o caminho inverso, com os chamados projetos baseados em solu??es da natureza. Os dados científicos e a realidade das ruas escancaram que a fase da mitiga??o passou. Agora, o importante é a adapta??o. Os exemplos de Porto Alegre em 2024 e de Nova York em setembro de 2023, além de dezenas de outros, s?o contundentes. A resiliência climática exige cidades mais amigáveis e reconectadas com a natureza. “Investir na m?e natureza é uma vantagem para todos contra as altera??es climáticas”, afirma Amy Chester, diretora de Gest?o da Rebuild by Design, organiza??o ligada à Universidade de Nova York que busca solu??es locais de resiliência climática urbana. Após a pior tempestade dos últimos 140 anos em Nova York, em setembro de 2023, a organiza??o, em parceria com a consultoria dinamarquesa Ramboll, apresentou um estudo que lan?a luz sobre os custos e benefícios de um bom planejamento climático. Segundo o levantamento, para cada US$ 1 investido em infraestrutura azul-verde, a cidade tem um retorno de US$ 2. A análise estima que até 82% da cidade de Nova York pode se beneficiar de solu??es baseadas na natureza, como plantio de árvores, cria??o de parques e drenagem sem uso de concreto. Além disso, a cidade americana, ao reduzir o uso da infraestrutura cinza tradicional (como redes de esgoto), poderá economizar até 20% em seu or?amento para obras de saneamento. “Quanto mais a cidade se transforma de uma selva de concreto em uma esponja, mais nova-iorquinos podem ficar seguros e secos durante chuvas fortes”, defende Chester. Nova York, em termos de adapta??o, vem fazendo a li??o de casa, apesar das críticas de grupos de urbanistas voltadas para obras civis tradicionais, como a constru??o de muros de concreto. As iniciativas em curso, que v?o consumir bilh?es de dólares, buscam proteger áreas mais vulneráveis da cidade, que tem uma rela??o direta com o Atlantico. O projeto “East Side Coastal Resiliency” (ESCR), por exemplo, está revitalizando a regi?o entre a East 15th Street e o Asser Levy Playground, com o objetivo de proteger 110 mil moradores contra futuras inunda??es. A proposta inclui parques elevados, muros de conten??o, barreiras e 18 port?es de controle de enchentes. A segunda fase, que prevê a reconstru??o completa do East River Park, deve ser concluída até dezembro de 2026. Na Europa, cidades como Copenhague, Londres, Paris e Valência também est?o desenvolvendo projetos semelhantes. A quest?o é: conseguir?o concluí-los antes que as mudan?as climáticas se agravem? No Brasil, o ritmo das transforma??es também está aquém do ideal, mas algumas cidades, como Recife, Niterói e Campinas, vêm incorporando a resiliência climática aos seus planejamentos. A cidade do interior paulista é considerada um “exemplo positivo”, segundo Henrique Evers, gerente de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil, organiza??o da sociedade civil que atua com resiliência urbana. “Campinas mantém há anos um comprometimento com as agendas ambiental e climática. A cidade adota uma vis?o integrada, que reconhece a a??o climática como transversal e indissociável do enfrentamento da desigualdade e de outros desafios urbanos”, explica. Segundo Evers, em 2023, o município atualizou seus planos ambientais, incorporando solu??es baseadas na natureza que promovem tanto mitiga??o quanto adapta??o. “Em 2024, essas a??es foram incluídas, ao lado de outras como a eletrifica??o do transporte coletivo, no Plano Local de A??o Climática, que orienta os diversos setores da administra??o municipal na redu??o de emiss?es, aumento da resiliência e melhoria da qualidade de vida da popula??o. Ao mesmo tempo, Campinas tem conseguido viabilizar financiamento para implementar essas solu??es, o que se deve, em parte, à solidez das políticas públicas locais”, avalia o especialista. Em nível nacional, também há iniciativas em curso. O Programa Cidades Verdes Resilientes, recém-lan?ado pelo Ministério das Cidades, prevê R$ 1,6 bilh?o para projetos selecionados. Além disso, o projeto “Avalia??o e Implementa??o de Instrumentos de Política Urbana na Perspectiva da Adapta??o Climática”, conduzido pelo Observatório das Metrópoles da UFRJ em parceria com o governo federal, vai identificar possibilidades, limites e desafios para integrar políticas urbanas e adapta??o climática em 50 municípios brasileiros, respeitando suas diversidades socioecon?micas e ambientais. Um edital público será lan?ado até o fim do ano para selecionar os projetos mais viáveis. “Mudar essa cultura, para que as mudan?as climáticas passem a ser um instrumento do planejamento urbano e regional, é um desafio - e esse projeto contribui para mostrar que é possível e necessário planejar de outra maneira”, afirma Orlando Santos Junior, professor da UFRJ e coordenador da iniciativa. E até parece impossível diminuir o espa?o das marginais e dos carros, em cidades como S?o Paulo, para a natureza recuperar o seu espa?o, mas cidades igualmente grandes, como Seul, na Coreia do Sul, já enfrentaram o desafio e trocaram uma via expressa pela volta do rio Cheonggyecheon que havia sido enterrado nos anos 1950.