Tarifas de Trump podem reduzir infla\u00e7\u00e3o no Brasil e ajudar Lula nas elei\u00e7\u00f5es', diz Samuel Pess\u00f4a
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 22h00)De olho nas elei??es de 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem incentivos para n?o re
Tarifas de Trump podem reduzir infla\u00e7\u00e3o no Brasil e ajudar Lula nas elei\u00e7\u00f5es', diz Samuel Pess\u00f4a
De olho nas elei??es de 2026,dice roll niteroi o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem incentivos para n?o retaliar as tarifas impostas por Donald Trump ao Brasil e colher os frutos de uma infla??o mais baixa no país, avalia o economista Samuel Pess?a, pesquisador do banco BTG Pactual e do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Funda??o Getulio Vargas), além de colunista da Folha."Do ponto de vista puramente do cálculo eleitoral, Lula tem um incentivo a n?o retaliar, porque, se ele n?o retaliar, tem aí uma desinfla??ozinha a médio prazo", diz Pess?a, em entrevista à BBC News Brasil."A retalia??o pode, eventualmente, ser um instrumento de barganha. Mas, se a gente se enxerga com pouco poder de barganha, do ponto de vista do interesse do bem estar brasileiro, é melhor n?o retaliar", defende.
Pesquisador do BTG Pactual e do FGV Ibre, além de colunista da Folha, Samuel Pess?a - Divulga??o FGV Para Pess?a, a perspectiva de desinfla??o no Brasil pouco muda com a possibilidade aventada pelo secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, na ter?a-feira (29), de que alguns produtos n?o cultivados nos EUA, como café e manga, possam ter a tarifa de importa??o zerada. Em junho e antes do anúncio do tarifa?o de Trump, o economista da FGV havia escrito em sua coluna semanal na Folha de S.Paulo que Lula deve chegar às elei??es de 2026 com a economia em boa forma. Agora, mesmo com as tarifas, Pess?a avalia que a economia deve jogar a favor do petista na corrida eleitoral."Continuo com o meu cenário, que é um cenário de 'pouso suave'. A economia vai desacelerar —esse ano deve crescer uns 2%, ano que vem deve crescer 1,5%, uma desacelera??o com rela??o aos 3% de crescimento no biênio anterior", calcula."Mas essa é uma desacelera??o que n?o chega a machucar muito o mercado de trabalho. E, com as boas safras, a infla??o de alimentos está cedendo. Eu acredito que as tarifas de Trump n?o mudam esse cenário".Para Pess?a, faz sentido o governo socorrer os setores mais afetados pelas tarifas através de um crédito extraordinário para além dos limites do arcabou?o fiscal, ainda que isso piore a situa??o das contas públicas do país.Mas, segundo o economista, é fundamental que essa política traga limites claros para seu término, evitando se tornar um "direito adquirido"."Tivemos recentemente o caso do Perse, programa desenhado para atender as empresas do setor de eventos, muito atingidas pela pandemia. Mas três anos depois do fim da pandemia, a gente estava discutindo no Congresso, até o ano passado, a manuten??o do Perse. é uma coisa maluca", afirma."No Brasil, a gente transforma tudo em direito adquirido rapidamente. Ent?o, dada essa especificidade nossa, o cuidado maior no desenho desse programa é que a previs?o do fim dele tem que estar muito clara", diz. Tarifa?o Receba no seu email o que você precisa saber sobre a crise entre EUA e Brasil Carregando... à BBC News Brasil, Pess?a comentou ainda o acordo entre Trump e Uni?o Europeia —ele considera que os europeus "ajoelharam no milho" frente ao americano. E explicou por que o presidente chinês, Xi Jinping, pode ser mais duro nas negocia??es com Trump do que seus pares de países democráticos; além de discordar respeitosamente do Nobel de Economia Paul Krugman, que em entrevista recente à BBC News Brasil, defendeu que o Brasil tem pouco a perder retaliando Trump.Confira abaixo os principais trechos da entrevista.Num texto recente, o senhor falou que as tarifas de Trump podem ter efeito positivo para a infla??o no Brasil, se Lula n?o retaliar. Como se daria esse efeito?é assim: o Trump aumentou a tarifa dos produtos que nós exportamos para os Estados Unidos, por exemplo, laranja e café. Isso significa que a laranja e o café ficar?o mais caros na mesa do consumidor americano. Aí eles v?o comprar menos.A gente vai acabar exportando menos laranja e café para os Estados Unidos. Exportando menos, vai sobrar mais laranja e café para o mercado doméstico. Uma parte dessa laranja e café que n?o irá para os EUA, a gente direciona para outros mercados, mas uma parte fica aqui dentro do país, pressionando o pre?o um pouquinho para baixo. é isso.Mas esse efeito é certo? Por exemplo, as exporta??es de carne para os EUA já recuaram 80% desde abril, quando as tarifas de 10% entraram em vigor. E n?o vemos queda significativa na infla??o de carnes no IPCA até agora. Por que esses pre?os n?o est?o caindo, se em tese já há mais oferta no mercado interno?Na verdade, a carne deu uma aliviada boa, porque achávamos que ela iria aumentar de pre?o mais do que aumentou [durante a entressafra, período em que a oferta de animais para abate diminui, devido à seca e falta de pasto].Evidentemente, essas coisas s?o multifatoriais. Sabemos que o inverno está sendo menos seco do que normalmente é e tem tido mais pastagem, ent?o o pre?o da carne também n?o está subindo por conta de um choque de oferta positivo.Mas deve ter tido um impacto sim da menor demanda pelos americanos para nossa carne no pre?o da carne brasileira. Agora, você tem um ponto, que é: tanto café, quanto laranja, quanto carne s?o commodities. Têm um pre?o internacional. Ent?o esse efeito de deflacionar aqui dentro pode ser um pouco menor.Por quê? Porque o mercado é internacional. Se os Estados Unidos v?o comprar menos carne [do Brasil], podem comprar mais carne de algum outro fornecedor. E quem iria comprar desse outro fornecedor, compra da gente. E aí o pre?o internacional n?o muda tanto. LEIA MAIS Setores afetados por tarifa?o de Trump procuram op??es para evitar demiss?es Trump anuncia tarifas de 25% sobre a índia a partir de 1o de agosto O efeito do tarifa?o de Trump em 12 gráficos Ent?o, eu acredito que o efeito deflacionário será maior no suco de laranja, porque o peso do mercado americano é muito grande [os EUA importam cerca de 90% do suco que consomem, sendo o Brasil responsável por 80% desse total]. Mas, no café e na carne, também deve ter um efeito importante.é que daí, como a forma??o do pre?o de um produto é sempre multifatorial, tem várias coisas acontecendo ao mesmo tempo. E a gente fala assim: "Ah, o pre?o da carne n?o caiu".Mas eu n?o tenho que comparar o pre?o da carne hoje com o pre?o da carne ontem. Eu tenho que comparar o pre?o da carne hoje com o pre?o que a carne hoje teria se n?o tivesse havido as tarifas americanas. E é possível que a carne aumentasse de pre?o por uma série de fatores. A gente nunca compara o presente com o passado. Sempre comparamos o presente com outro presente que aconteceria se aquele fator n?o estivesse atuando. A discuss?o é complexa mesmo.E esse efeito relativamente positivo n?o é limitado ao curto e médio prazo? Num segundo momento, as empresas n?o devem ajustar a produ??o, reduzindo investimentos e empregos, o que teria um impacto negativo para a economia?Nisso você está inteiramente correta. A médio prazo, é muito ruim. Sabemos que abertura da economia, comércio internacional, s?o coisas boas.Ou seja, se o Trump toma uma medida que vai fechar o comércio, é ruim para o mundo todo. é ruim para o consumidor americano, é ruim para o Brasil, é ruim para o mundo todo.Ent?o, a minha afirma??o [de que as tarifas podem reduzir a infla??o no Brasil] foi no sentido de que, primeiro, do ponto de vista puramente do cálculo eleitoral do Lula, ele tem um incentivo a n?o retaliar, porque, se ele n?o retaliar, tem aí uma desinfla??ozinha a médio prazo. Donald Trump responde a perguntas a bordo do Air Force One no Reino Unido - Brendan Smialowski/AFP Estamos a um pouco mais de um ano das elei??es. Isso pode ajudar eleitoralmente o presidente Lula.Mas tem também a ideia de que comércio internacional é sempre bom e mesmo aberturas unilaterais s?o boas. E, portanto, se um presidente de uma outra na??o parceira nossa resolve aumentar tarifas de importa??o, a gente n?o vai ganhar retaliando.A retalia??o pode, eventualmente, ser um instrumento de barganha. Mas se a gente se enxerga com pouco poder de barganha, do ponto de vista do interesse do bem estar brasileiro, é melhor n?o retaliar.O governo disse que já há um plano emergencial pronto para apoiar os setores impactados pela tarifa de 50%. O que devemos evitar nesse programa, na sua vis?o?O mais importante é o programa ter regras claras de término. Temos que desenhar o programa pensando no fim dele. Isso é particularmente importante. Porque, no Brasil, você faz alguma coisa, aquilo vira direito adquirido com a maior facilidade.Tivemos recentemente o caso do Perse, que foi aquele programa desenhado para atender as empresas do setor de eventos, muito atingidas pela pandemia. Mas, três anos depois do fim da pandemia, a gente estava discutindo no Congresso, até o ano passado, a manuten??o do Perse. é uma coisa maluca. A mesma coisa com a desonera??o da folha de salários [isen??o fiscal para alguns setores da economia da contribui??o patronal para a Previdência, criada em 2011 por Dilma Rousseff e que nenhum governo conseguiu reverter desde ent?o].Ent?o, no Brasil, a gente transforma tudo em direito adquirido rapidamente. N?o é assim em todo lugar do mundo, mas no Brasil é assim. Ent?o, dada essa especificidade nossa, o cuidado maior no desenho desse programa é que a previs?o do fim dele tem que estar muito clara.O financiamento dessas medidas, se feito por meio de crédito extraordinário extrateto, adiciona press?o à situa??o fiscal do país? Adiciona. Temos um problema fiscal estrutural, que n?o está solucionado.Ele apareceu com mais clareza em 2014, houve alguma melhora até 2021 e, a partir de 2022, voltamos a piorar o fiscal e estamos piorando o fiscal desde ent?o.Mas o senhor acredita que esse socorro é necessário, apesar dessa piora fiscal?Eu acho que, para aqueles setores muito afetados —por exemplo, laranja—, é necessário ter alguma coisa.Entendo fazer por crédito extraordinário esse ano só, com uma cláusula de saída bem clara. Acho que é do jogo. Numa entrevista recente à BBC News Brasil, o [ganhador do Prêmio] Nobel de Economia Paul Krugman disse que as chances de fazer Trump recuar s?o maiores para os países que reagem, do que para os que oferecem concess?es. Você concorda com essa avalia??o? Avalia que o Brasil deve reagir de alguma forma?Olha, quem sou eu para discordar do Krugman. Um dos maiores profissionais de economia em atua??o no mundo. O cara é um gênio, eu estudei nos textos dele.é um cara que tem contribui??es seminais em pelo menos três áreas. E ele ganhou o Nobel pelas contribui??es dele em uma dessas áreas [em 2008, nos campos do comércio internacional e da geografia econ?mica].Mas, se o que ele está sugerindo é que o Brasil deveria retaliar, por exemplo, pondo tarifas de 50% nas nossas importa??es dos EUA, eu vou ter que discordar do Krugman. Porque acho que isso n?o se aplica ao Brasil. SAIBA MAIS SOBRE O TARIFA?O Haddad diz que pode conversar com secretário do Tesouro dos EUA às vésperas do tarifa?o Brasil depende muito mais dos EUA no comércio que o inverso, mostram dados O Brasil é um país que é grande o suficiente para ser interessante para o Trump nos atacar do ponto de vista retórico. Mas nós somos pequenos o suficiente a ponto de que o nosso poder de barganha, de machucar os Estados Unidos, é pouco.Vimos nesta semana a Uni?o Europeia ajoelhar no milho para Trump. Ent?o, a Uni?o Europeia avaliou que era melhor n?o retaliar. Eu acredito que temos que tra?ar uma linha. E aí, é uma linha muito clara: aqueles temas que dizem respeito à nossa soberania, n?o dá para a gente negociar. E aí, se Trump quiser impor um custo sobre nós, vamos ter que nos haver com isso.Vamos ter que absorver internamente esse custo e distribuir entre nós. Uma forma é exatamente o governo [criar um programa de socorro] com crédito extraordinário, que vai bater na dívida pública. A dívida pública é uma forma de você diluir sobre toda a sociedade os custos para atender esse ou aquele setor que foi mais atacado.Mas, tirando as quest?es em que a nossa soberania está claramente sendo atacada pelo Trump e que s?o, portanto, inegociáveis, eu acredito que retaliar generalizadamente e comercialmente é pouco produtivo para nós.
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