Sinto raiva da comida', diz mulher que passou fome e enfrenta obesidade com o filho
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 21h33)Na zona rural de Itambacuri, município do interior de Minas Gerais onde cresceu, Vanilde Campos, 48,
Sinto raiva da comida', diz mulher que passou fome e enfrenta obesidade com o filho
Na zona rural de Itambacuri,fair play slot município do interior de Minas Gerais onde cresceu, Vanilde Campos, 48, via todos os dias a mesa de casa repleta de frutas, verduras e legumes frescos que seu pai colhia da horta.O período de fartura chegou ao fim quando a família trocou a ro?a pelo asfalto para que os sete filhos do casal de agricultor e dona de casa pudessem frequentar a escola. Vanilde tinha oito anos na época."Antes, sempre tinha abóbora, quiabo, jiló. A gente comia carne de porco e frango. Já na cidade, tudo era caro", conta. "Meu pai só comprava pé e pesco?o de galinha ou pele de porco. Na hora da janta, minha m?e misturava sobras do almo?o com farinha."
Vanilde Campos, enfermeira desempregada e moradora da periferia de S?o Paulo, enfrenta obesidade e inseguran?a alimentar - Eduardo Knapp/Folhapress A rotina de priva??o durou até que Vanilde completasse 18 anos e se mudasse para S?o Paulo para trabalhar como auxiliar de cozinha em um restaurante. "Quando cheguei, tinha tanta coisa para comer que dei uma surtada. Comia tudo o que n?o pude na infancia, uns cinco p?es de uma vez. Ficava até emocionada. Um dia, fizeram feijoada no restaurante. Eu nunca tinha provado. Comi tanto que fui parar no hospital."Esse deslumbramento a levou a adotar uma rotina de excessos, o que contribuiu para o excesso de peso. Hoje, ela e o filho, Pedro, de oito anos, s?o obesos e recebem acompanhamento do Cren (Centro de Recupera??o e Educa??o Nutricional).Vanilde, que mede 1,70 m, está com 108 kg. Seu filho tem 1,42 m de altura e pesa 69 kg. Segundo a recomenda??o médica, ela precisa perder 39 kg para atingir um peso saudável, e ele, 34 kg.A seguir, Vanilde compartilha sua história marcada pela transi??o da fome para o sobrepeso e a obesidade —problemas que atingem 56% dos brasileiros, segundo estudo da Fiocruz (Funda??o Oswaldo Cruz)."Vim para S?o Paulo com 18 anos, porque meus irm?os tinham se mudado também. Crescemos em um lar com várias bocas e pouca comida. Nunca sobrava nada.Fui trabalhar como doméstica na casa de uma família na capital. Cozinhava, limpava, lavava e passava. No início, foi bom, principalmente porque tinha bastante fartura.Mas me sentia presa. Naquela época, ainda se morava no trabalho. Eu n?o podia sair, e queriam que ficasse lá até nos finais de semana. Ent?o comecei a trabalhar em um restaurante com uma tia, onde permaneci por um bom tempo. Morava com parentes por parte de m?e. às vezes me perguntavam: 'por que você está comendo tudo isso?'Eu cozinhava um pacote de salsicha, comprava uns dez p?es e comia tudo. Gostava de fazer salada com legumes, verduras, carne, macarr?o. Comia aqueles pratos enormes por prazer.Era emocionante, uma alegria. Comia pastel, coxinha, hambúrguer. Tudo aquilo que via na minha cidade e n?o podia comprar quando era mais nova.Quando passei a poder consumir essas coisas, foi libertador. E nem me dei conta de que estava estragando minha saúde. Naquela época, n?o tinha conhecimento sobre educa??o alimentar e achava que n?o iria adoecer.Sempre tive sobrepeso. Nunca fui magrinha. Mas nunca foi um peso que me impedisse de viver tranquilamente. Obesidade n?o era um problema. Ela se tornou depois, no ano em que desenvolvi diabetes gestacional. E o diabetes permaneceu após a gesta??o. Descobri a gravidez aos 40 anos. Foi um susto, já estava com quatro meses. Tem gente que nem acredita, mas realmente n?o me toquei que pudesse estar grávida, mesmo com todo o conhecimento que tenho.O Pedro nasceu no último semestre da faculdade de enfermagem, e tive que parar o curso por um tempo. Pensava 'como fui ter um filho depois de velha?'. Ainda n?o voltei ao mercado de trabalho, mas pratico o que aprendi na enfermagem cuidando dele. Vanilde Campos ao lado do filho Pedro Henrique Campos Reis; eles recebem acompanhamento do Cren (Centro de Recupera??o e Educa??o Nutricional). - Eduardo Knapp/Folhapress Pedro sempre foi grande. Nasceu pesado e assim continuou. Por volta dos cinco anos, estava comendo bem mais do que uma crian?a daquela idade, ent?o levei ele à pediatra e, depois, à nutricionista do posto aqui do bairro [Parque Peruche, na zona norte], que encaminhou a gente para o Cren.Hoje, o Pedro sofre de obesidade grave. Eles [os nutricionistas do Cren] nos ensinaram a comer. N?o que eu n?o soubesse. Mas é difícil fazer uma pessoa obesa comer da forma certa, ainda mais o Pedro, que se encontra no espectro autista e sofre de compuls?o alimentar.Os episódios compulsivos dele s?o tristes para mim, porque me trazem lembran?as de quando cheguei em S?o Paulo [e comia em excesso] ou de quando era crian?a e pegava até coisa do lixo. Sempre volto para esse lugar. Quando vejo ele comendo sem parar, tenho raiva. Choro escondido. E sofro quando ele me conta que os coleguinhas da escola chamaram ele de gordinho. Sei como é esse preconceito.Já deixei de ser contratada por causa da estatura do corpo, da gordura. Acham que a pessoa gorda n?o tem agilidade e rapidez para o servi?o.Consegui emagrecer um pouco nos últimos meses. Estava pesando 112 kg, e agora estou com 108 kg. Sempre monitoro meu peso e fa?o consultas no posto de saúde por causa do diabetesFui perdendo o prazer em comer. Gostava muito de cozinhar. Além de trabalhar no restaurante, fui cozinheira em buffet para pagar meus estudos. Hoje em dia, fa?o o simples em casa porque sou obrigada. Sinto raiva de comida, de tudo o que tem a ver com comer.Nos dias em que escuto o Pedro falar que alguém xingou ele, isso me entristece ainda mais. Daí eu nem como. Tomo um café com leite. Ou uma laranja, quando já estou me tremendo. Fora tudo isso, tem a quest?o financeira. Você n?o consegue manter uma alimenta??o saudável sem dinheiro. Fruta de pobre é banana, laranja. E ma??, às vezes, se estiver na promo??o. é mais fácil comprar bala ou salgadinho nessas birosquinhas de rua do que um pé de alface. Vanilde Campos Moradora do Parque Peruche, zona norte de S?o Paulo Perto de casa, tem um hortifruti, mas n?o é legal. Geralmente as verduras est?o murchas, já apodrecendo. Os olhos n?o brilham para comprar e comer.Aos domingos, meu companheiro vai a uma feira mais longe, na Inajar de Souza [zona norte], porque lá é bem grande e, no final da xepa, tem várias coisas, mais baratas e n?o t?o estragadas.
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