Como calor e seca afetam alimentos e já deixam o café mais caro
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 21h29)Os cafeicultores brasileiros têm enfrentado um aumento da quantidade de pragas e doen?as nas lavoura
Como calor e seca afetam alimentos e já deixam o café mais caro
Os cafeicultores brasileiros têm enfrentado um aumento da quantidade de pragas e doen?as nas lavouras e mais perdas de safras por causa das altas temperaturas e da falta de chuvas.
O calor faz o cafezal entrar em estresse térmico,ádeixamocaféblaze monster machine saiu da netflix que é quando n?o consegue mais fazer fotossíntese por causa do calor.
O clima já deixou o café mais caro e pode interferir também na qualidade da bebida.
Pesquisas alertam que os principais estados produtores do Brasil, entre eles Minas Gerais e S?o Paulo, podem perder áreas aptas ao plantio por causa da eleva??o da temperatura.
Pragas e doen?as fora de controle, meses sem chuva e lavouras inteiras sendo perdidas: essa é a nova realidade dos cafeicultores brasileiros em meio ao aumento da temperatura global e das ondas de calor.
“é uma condi??o muito severa mesmo, como a gente nunca viveu em anos anteriores”, relata o cafeicultor Pedro Berengani, de Cerqueira César (SP).
A série "PF: prato do futuro" mostrou como ele e outros produtores tentam amenizar esses efeitos recorrendo à técnica de plantar café sob a sombra de árvores, em vez de a pleno sol.
?? O café, assim como a laranja, está entre os alimentos que correm mais risco com o planeta ficando mais quente. Isso porque eles s?o uma agricultura perene, como se chama a categoria dos cultivos em que só é preciso plantar uma vez e a árvore dará frutos todos os anos.
O momento mais crítico para essas culturas é o da florada, que, no caso do café, costuma acontecer entre setembro e novembro.
Nessa época, o calor e a seca podem acabar causando o aborto floral, que é quando as flores n?o geram os frutos.
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Comparada com os níveis pré-industriais, a temperatura do planeta já subiu cerca de 1°C, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudan?as Climáticas (IPCC) da Organiza??o das Na??es Unidas (ONU).
A previs?o é de que, entre 2030 e 2050, o aquecimento será de mais 1,5°C. Parece, pouco, mas n?o é. Para o café arábica, o mais produzido no Brasil, que aguenta uma temperatura entre 18°C e 22°C, o impacto pode ser devastador.
Além dos níveis de temperatura, outro efeito é que os dias em que o calor supera os 35°C se tornaram mais frequentes.
“N?o foi só um mês, n?o é isolado. Foram vários meses, pelo menos 34 meses consecutivos com temperaturas muito acima do normal, junto com seca”, disse Ana Paula Cunha, especialista no monitoramento de secas do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), em entrevista ao g1 em junho deste ano.
Em agosto, o órg?o confirmou que o Brasil enfrentava a maior seca já vista na sua história recente.
Com este cenário, a tendência é de cada vez mais dificuldades para se manter uma boa produ??o do café e que estados tradicionais no cultivo, como S?o Paulo e Minas Gerais, percam área de plantio.
Os impactos já est?o aparecendo. No início da atual safra, a expectativa era de um novo crescimento na colheita. Mas as estiagens, juntamente com altas temperaturas durante as fases de desenvolvimento dos frutos, reduziram a produtividade nacional em 1,9% na compara??o com 2023, aponta a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
E as consequências v?o além do café, considerando a importancia do Brasil no setor, que gera empregos, influencia a economia e dá oportunidades para pequenas empresas.
Saiba mais abaixo:
Como o café é afetado pelo aumento de temperaturaRisco de perda de protagonismo Vai ter café para todo mundo?
Como o café é afetado pelo aumento de temperatura
Com o aumento das temperaturas, parte da flora do planeta deve desaparecer das suas áreas tradicionais, aponta o relatório do IPCC.
No caso do cafeeiro, o calor elevado causa queda nas folhas e, deste modo, diminui a fotossíntese da planta. Esse processo, conhecido como estresse térmico, induz uma perda acelerada de água, explica o pesquisador Carlos Henrique, da Embrapa Café.
“Uma vez que o cafezal n?o tem folha o suficiente, ele n?o faz fotossíntese, ent?o ele n?o consegue, para a próxima colheita, ter produtividade para ter novos frutos e uma quantidade melhor de gr?o”, explica Tatiana Nakamura, especialista em café na Nespresso Brasil.
“Você pode ter o gr?o também com uma de dificuldade para dar a bebida como ele sempre deu. Ent?o, n?o necessariamente você vai perder só em quantidade. é possível que as condi??es do clima oscilaram de tal forma que você perde a qualidade”, explica Priscila Coltri, pesquisadora do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri).
A planta também fica mais suscetível a doen?as e o clima é propício para o desenvolvimento pragas, relata a professora Ana ávila, que também é do Cepagri. Um dos predadores que se desenvolvem no calor é o bicho mineiro, que se instala na folha e causa a sua queda.
Risco de perda de protagonismo
O Brasil é o principal produtor de café do mundo, sendo que apenas Minas Gerais representa mais da metade do total nacional, com uma colheita de mais de 1,7 milh?o de toneladas em 2023, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O café arábica corresponde a 80% da área total de café plantado no país, aponta a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
No mundo, 58% da produ??o é do arábica, segundo estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2019.
O Sudeste do Brasil tem grande potencial cafeeiro por, em um quadro normal, ter esta??es bem demarcadas, por exemplo, as chuvas concentradas no ver?o e o inverno mais seco, explica ávila.
A pesquisa de Eduardo Assad, da FGV Agro, de 2004, mostrou que, conforme a temperatura aumenta, as áreas aptas para o cultivo diminuem.
Veja abaixo as proje??es que foram feitas para Minas Gerais:
Alta de 1°C: mesmo que aconte?a um acréscimo nas chuvas de 15%, as áreas impróprias ao plantio do café em Minas Gerais se elevariam em 20%, representando 43% da área total do estado; Alta de 3°C: áreas com risco de geada praticamente desaparecem e o total de terras consideradas impróprias sobe para 76,3% do estado; Alta de 5,8°C: a cultura passa a ser possível em apenas 2,6% do Estado, e concentrada em alguns municípios do Sul, nas regi?es montanhosas e de difícil manejo.
Pesquisa aponta que Minas Gerais pode ficar com apenas 2,6% de sua área apta ao café se temperatura subir 5,8°C. — Foto: Otavio Camargo / arte g1
A pesquisa também fez proje??es para S?o Paulo, onde, quase 80% do estado é apto ao plantio de café atualmente:
Alta de 1°C: em 41% do território seria impossível plantar o gr?o. Alta de 3°C: a área imprópria pode subir para 69,6% do estado.Alta de 5,8°C: em 96,6% n?o seria possível plantar café, ficando restrito às regi?es montanhosas.
Pesquisa aponta que S?o Paulo poderia ficar com até 96,6% de sua área inapta ao plantio de café por causa das altas temperaturas. — Foto: Otavio Camargo / arte g1
Em S?o Paulo, áreas que antes sofriam com geadas, hoje já precisam lidar com fortes ondas de calor.
Foi o que aconteceu em Cerqueira César. O produtor rural Pedro Berengan relata que, na década de 70, muitos cafeicultores abandonaram a regi?o ou migraram para culturas como soja e milho, devido ao episódio que ficou conhecido como “geada negra”.
Na atualidade, Berengan já teve que suspender a irriga??o da sua lavoura por causa da seca na represa Jurumirim.
“Porque você pensa: 10 dias fazendo 40° C, os outros 30 dias fazendo 35°C e 42 dias sem chuva, sem uma gota d’água. Ent?o é uma condi??o muito extrema”, diz.
Em paralelo, estados do Sul do país poderiam aumentar seu potencial cafeeiro, justamente por perderem o alto risco de geadas. Por exemplo, a pesquisa apontou que, com o aquecimento de 1°C, o Paraná ainda teria quase 90% da sua área apta ao café.
Contudo, ao aumentar ainda mais a temperatura, também é observada uma queda no potencial, que pode se restringir em torno de 40% da área do estado, no cenário de alta de 5,8°C.
Pesquisa aponta que plantio de café no Paraná poderia ser beneficiado pelo aumento de temperatura. — Foto: Otavio Camargo / arte g1
Além do Paraná, o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, o Uruguai e a Argentina também possuem cenários onde poderiam ser beneficiados por esse aquecimento.
Contudo, essas migra??es ainda n?o s?o uma realidade. Isso porque os agricultores desses estados ainda preferem o plantio de soja e milho, aponta Assad.
“Mas eu continuo insistindo: se quiser manter a produ??o de café, nós temos que buscar áreas com temperaturas mais amenas. Ou seja, o café tem que subir a montanha, para pegar a temperatura mais baixa, e tem que ir para o Sul do Brasil. Se n?o, n?o vai dar. Ele n?o aguenta. Ele realmente n?o aguenta”, afirma.
Contudo, “subir a montanha” n?o é garantia de manter a produ??o, uma vez que muitas áreas s?o preservadas e n?o podem ser desmatadas, aponta Ana ávila, do Cepagri.
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Vai ter café para todo mundo?
Mais de 9 milh?es de toneladas de café s?o consumidas por ano, aponta o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (FDA).
Em 20 anos, esse número cresceu mais de 50% e deve continuar subindo, principalmente considerando que a popula??o mundial pode aumentar em 9,9 bilh?es de pessoas até 2054.
Com mais gente bebendo café e menos área para produzir o gr?o, a expectativa é de que, no futuro, o pre?o do alimento encare?a, limitando o acesso à bebida.
Uma das raz?es para isso é que, com o clima causando mais prejuízos, menos produtores v?o se interessar pelo plantio do fruto.
“Você come?a a perder mais do que ganhar. Ent?o, o que que acontece? Você produz menos. [...] A quest?o toda é você diminuir a quantidade produzida e a qualidade da produ??o, aí você acaba expondo uma quantidade maior de pessoas a uma falta de alimentos e aumenta o pre?o”, explica Avíla.
A qualidade do café também deve cair.
“O que influencia é a quantidade de água dentro do gr?o no momento da torra. Quando você torra um café, a água interna age de uma forma que ela vai conduzir aquela torra. A gente tem notado que os cafés dessa safra de 24 t?o muito difíceis de torrar", explica Marcelo Gasparoto, consultor em qualidade de café e torrefa??o.
Mas n?o é preciso decretar o fim do café. Atualmente, existem pesquisas que buscam desenvolver variedades que s?o mais resistentes ao clima, além de técnicas de manejo mais sustentáveis ajudarem a resfriar a produ??o.
Veja abaixo como produtores tentam amenizar os efeitos do calor:
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