'Patrulha do luto' critica famosos por gestos após morte de Marília Mendon?a: 'desservi?o', alertam especialistas
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 22h37)Desde a morte de Marília Mendon?a, na sexta-feira (5), alguns famosos têm sido criticados nas redes
'Patrulha do luto' critica famosos por gestos após morte de Marília Mendon?a: 'desservi?o', alertam especialistas
Desde a morte de Marília Mendon?a,ósmortedeMaríliaMendon?adesservi?o que é shove no poker na sexta-feira (5), alguns famosos têm sido criticados nas redes sociais pela forma como reagiram à notícia: os motivos v?o desde sorrisos durante o velório à roupa usada na ocasi?o, passando por questionamentos de por que sorriram ou n?o choraram (ou choraram demais).
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Especialistas em saúde mental ouvidos pelo g1 explicam que a "fiscaliza??o" ou a "patrulha" do luto alheio é um desservi?o – pois cada um vive a perda à sua própria maneira. Em resumo: o importante, mesmo, é cuidar da própria vida.
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Abaixo, nesta reportagem, você vai entender um pouco sobre o processo de luto:
Sorrir é normalTudo bem n?o ir ao velório (e n?o chorar – ou chorar muito)Usar preto n?o é obrigatórioImportante é n?o patrulhar o sofrimento alheio
Sorrir em um momento t?o triste é normal
Nas redes sociais, pessoas criticaram fotos da cantora Maiara – da dupla com Maraísa – sorrindo após a morte de Marília. Maraísa saiu em defesa da irm?.
Mas o psiquiatra Daniel Barros, professor da Universidade de S?o Paulo (USP), explica que cada pessoa reage de uma forma quando recebe uma notícia, seja triste ou feliz. N?o cabe julgamento. Ele lembra, aliás, que sorrir em velórios e enterros é extremamente comum.
"é uma das maneiras de a gente lidar com essa perda t?o intensa. Lembrar das coisas boas, de 'causos' que vivemos com a pessoa, situa??es engra?adas que tivemos. Lembramos disso e sorrimos. Daí você lembra que a pessoa n?o está mais lá e chora. Esse misto de emo??es faz parte do ritual de despedida", explica.
Daniel lembra que estar sorrindo em um momento t?o triste faz parte:
"No nosso cérebro, tristeza e alegria n?o s?o opostas. Você pode estar muito triste por essa perda e lembrando feliz pelas coisas boas que vocês viveram. Choremos a morte, lamentemos a perda, mas celebremos o que aconteceu, celebremos a vida", diz.
A cantora Naiara Azevedo também foi criticada por estar "animada" ao cantar em um tributo a Marília no "Doming?o com Huck".
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1 de 2 Marília Mendon?a — Foto: Reprodu??o/Instagram
"Era uma maneira de homenagear a vida da Marília Mendon?a, a emo??o que ela passou em vida. N?o necessariamente o choro é a única maneira para a gente demonstrar o pesar", frisa a psicóloga Juliana Correia, especialista em forma??o e rompimento de vínculos, do VOA Instituto de Psicologia, em S?o Paulo.
"Quem está criticando deveria pensar um pouco: o que você gostaria que as pessoas que você ama fizessem quando você morrer? Você quer que todo mundo pare a vida e fique chorando? Ou quer que elas celebrem sua vida e sejam felizes? Vamos lamentar a morte, chorar, sentir essa perda, mas também precisamos seguir a vida, celebrando e lembrando das coisas boas. Provavelmente ela quer que cantem as músicas dela", completa Daniel.
Tudo bem n?o ir ao velório e ao enterro
O sertanejo Cristiano, da dupla com Zé Neto, rebateu no domingo (7) críticas sobre a ausência de Zé Neto na despedida da cantora.
“Cada um tem sua forma de sentir dor, cada um tem seus traumas, suas angústias. Vocês têm que aprender a respeitar isso. Para de achar que o mundo gira em torno dessa merda de rede social. Só o que vocês veem em rede social, só o que a TV mostra é verdade”, disse o sertanejo.
Está tudo bem n?o ir ao velório. O problema é julgar a atitude alheia, sem entender as motiva??es, explica Daniel Barros.
"Você n?o tem a menor ideia das motiva??es e de todos os aspectos da vida da pessoa naquele momento. Você n?o sabe por que ele foi, por que ele n?o foi. N?o cabe ao outro dizer o que é certo ou errado", alerta.
Juliana pondera: "algumas pessoas v?o querer guardar a imagem daquele pessoa perdida fora daquele contexto. Tem pessoas que lidam mesmo mal com o cemitério, com caix?o, e n?o s?o as primeiras pessoas".
"Tem gente que perde a m?e, perde a vó, e n?o vai no velório porque quer guardar a imagem da pessoa com alegria. S?o quest?es pessoais. Estar no enterro n?o significa mesmo amar mais ou n?o. Você também tem uma certa press?o social, como um evento social do luto, né? Qual é o protocolo? O protocolo é ir para o velório, mas os protocolos n?o mostram o nosso amor", refor?a.
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Um outro ponto é que a morte tem um aspecto que é cultural, diz Juliana.
"Velório também é a primeira rede de apoio de quem está de luto. Eu sou a Luísa Sonza de luto, eu encontro a Maraísa, ela compreende a minha dor. A gente chora junto, ent?o isso faz sentido como ritual. Mas nem todo mundo vai precisar ir ao enterro para fazer esse estabelecimento. S?o rituais da nossa cultura, faz sentido a gente criar expectativas de que eles se realizem, mas eles n?o s?o obrigatórios", refor?a a psicóloga.
Preto ou branco? Cor da roupa n?o importa
2 de 2 Luisa Sonza vai ao velório de Marília Mendon?a — Foto: reprodu??o Globonews
Também houve quem criticasse a roupa usada por Luisa Sonza, que vestiu branco no velório e na homenagem a Marília Mendon?a no "Doming?o com Huck".
Juliana lembra que, além de o branco poder sinalizar luz e paz, é possível que muitas pessoas ali, por causa do choque, talvez nem tivessem escolhido a própria roupa.
"Se você veste branco, azul, preto, se você canta feliz, se você canta triste, o que é que as pessoas fazem? Elas te convidam a interpretar o personagem do enlutado. E aí isso também te impede de viver seu luto de verdade, o luto que faz sentido para você. Você para de viver o luto que realmente sente para bancar o personagem. Ent?o eu devo estar de preto e gritar na frente do caix?o; ent?o eu fa?o isso, embora n?o fa?a nenhum sentido para mim. N?o é essa emo??o que me conecta, n?o é isso que eu estou sentindo", pondera.
"N?o tem sentido criticar. A pessoa tem um gabarito do que é certo ou errado e quem n?o segue é condenado imediatamente", comenta Daniel.
O mais importante é n?o patrulhar o sofrimento alheio
Os "patrulheiros morais" est?o sempre on-line. Eles criticam sem se preocupar se isso vai machucar, se vai deixar alguém pior do que está. Daniel Barros explica que essas pessoas s?o as "exibidas morais".
"é um comportamento em que a pessoa n?o só patrulha a vida do outro para identificar algo que ela possa criticar, como também se coloca numa posi??o superior, dizendo: olha, isso n?o se faz, isso eu n?o faria. Ela diminui o outro para parecer melhor e ficar mais bem cotada naquele comentário", avalia.
Segundo Daniel, o exibido moral n?o quer promover debates e discuss?es. "Elas condenam, apontam o dedo. As declara??es têm objetivo de fazer o outro se sentir mal. Quem n?o concorda está errado. O objetivo final é aparecer, ganhar likes, à custa de diminuir o outro para parecer maior", diz.
"A grande quest?o do luto é que ele é completamente singular. Eu fico me perguntando por que a gente julga tanto – a servi?o de que está o julgamento. O julgamento afasta o acolhimento – quem está enlutado quer ser acolhido", completa Juliana.
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"O fiscal do luto faz um desservi?o – muitas vezes ele vai fazer a pessoa [enlutada] se isolar mais ou expressar esse luto como é esperado, e n?o como ela realmente sente. Ela vai se fechar, porque, bom, se o que ela está dizendo está sendo julgado como certo ou errado...", diz.
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