'N?o conhecia rúcula, salsa, couve': como a agricultura mudou vidas em um deserto alimentar do Brasil
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 22h04)é contraditório pensar que ainda tem gente sem acesso à comida no Brasil, que é um grande produtor e
'N?o conhecia rúcula, salsa, couve': como a agricultura mudou vidas em um deserto alimentar do Brasil
é contraditório pensar que ainda tem gente sem acesso à comida no Brasil,?oconheciarújogos de cortar bigode que é um grande produtor e exportador de alimentos.
No terceiro episódio da série "Prato do futuro", sobre desafios da produ??o do agro, o g1 conta histórias de moradores de Betania do Piauí.
Aquele é um dos municípios brasileiros considerados desertos alimentares, onde as pessoas n?o têm acesso a uma alimenta??o saudável.
Mas um projeto de plantio de hortali?as sem agrotóxicos e com pouco uso de água mudou essa história para 45 famílias.
E mostrou a for?a da agricultura familiar, quando existe estrutura e técnica.
"Antigamente, a gente comia só o feij?o com o arroz. Agora, nós temos as verduras pra comer: tem o coentro, tem a abóbora, a batata... tem tudo aqui."
“A gente passou a conhecer a rúcula, a salsa, a couve. A gente n?o conhecia esses alimentos."
"Eu tinha, assim, tipo uma depress?o. Para falar a verdade, eu já tomei o remédio 'faixa preta' [tarja preta] mas, depois do quintal produtivo, n?o tomei mais."
Os relatos acima s?o de agricultoras que o g1 conheceu em mar?o, no pequeno município de Betania do Piauí (PI), com 6 mil habitantes e que fica a 500 km da capital Teresina.
Os quintais produtivos que elas citam s?o planta??es de hortali?as que desafiam secas extremas, pobreza e fome. Veja no vídeo acima.
é contraditório pensar que há tanta gente sem acesso a comida no Brasil, que é um grande produtor e exportador de alimentos.
Mas esse sempre foi um cenário comum em lugares como Betania.
Em 2010, o município tinha o 3o pior índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Piauí, segundo a ONU, que ainda n?o atualizou o dado.
Quem vive na regi?o conta que políticas sociais melhoraram um pouco as condi??es de vida nos últimos 20 anos, mas muita gente ainda come menos do que deveria, e com pouca diversidade.
?? Este é o terceiro episódio da série "PF: prato do futuro", onde o g1 mostra solu??es para desafios da produ??o de alimentos no Brasil.
Faz só 5 anos que Betania come?ou a ter acesso a frutas, verduras e legumes frescos. E tudo por causa da iniciativa de um paulistano que foi parar na regi?o em 2012, como voluntário.
“Quando eu cheguei aqui, fiquei uns três anos sem comer alface, porque n?o se produzia”, conta José Carlos Brito, que lá virou o Zé da água.
Há 10 anos, ele fundou a ONG Instituto Novo Sert?o em Betania. Em 2019, criou um projeto de plantio de hortali?as organicas, sem agrotóxicos, e com pouco uso de água, chamado Quintais Produtivos.
A iniciativa vem melhorando a alimenta??o e, de quebra, aumentando a renda de 45 famílias daquela cidade.
A seguir, entenda como a agricultura familiar pode ajudar a acabar com a contradi??o de um país que produz muita comida e ainda lida com a fome. E quais s?o os desafios pela frente.
Por que o Brasil tem fome se é um grande produtor de alimentos?Qual é a diferen?a entre fome e inseguran?a alimentar
Desertos alimentares
Cerca de 25 milh?es de brasileiros viviam em desertos alimentares entre 2023 e 2024, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social. Desses, 6,7 milh?es tinham baixa renda ou estavam em situa??o de pobreza.
O termo surgiu em 1995, na Escócia. Nesses desertos alimentares – que podem ser tanto urbanos como rurais – sacol?es, hortifrutis, feiras e mercearias s?o raros ou n?o existem.
No caso de Betania do Piauí, o centro de produ??o de hortali?as mais próximo fica em outro estado, na cidade de Petrolina (PE), a 220 km de distancia.
O que verdura tem a ver com seguran?a alimentar?
Segundo a ONU, inseguran?a alimentar é n?o ter acesso regular a alimentos seguros e nutritivos em uma quantidade suficiente para uma vida saudável, seja por falta de dinheiro ou de oferta. E isso inclui acesso a alimentos essenciais, como frutas, verduras, legumes, cereais e gr?os.
?? Ou?a abaixo o que diz a ex-presidente do Conselho Nacional de Seguran?a Alimentar e Nutricional (Consea) sobre o tema.
“[Quando cheguei a Betania], vi famílias que davam comida ultraprocessada para as crian?as como a única fonte de alimenta??o do dia: biscoito recheado ou biscoito de sal. Ent?o, era uma realidade muito comum, principalmente na zona rural”, conta Zé da água.
O fundador do Instituto Fome Zero José Graziano conta que a falta de acesso a uma alimenta??o saudável é um dos principais problemas da inseguran?a alimentar entre as faixas de renda mais pobres do Brasil.
Isso porque o consumo de ultraprocessados tem sido relacionado ao desenvolvimento de doen?as cr?nicas, como diabetes, hipertens?o e obesidade.
Graziano foi diretor da FAO, a Organiza??o das Na??es Unidas para a Agricultura e Alimenta??o entre 2012 e 2019. E criou o Fome Zero, implementado no primeiro mandato do presidente Lula, em 2003.
Ele vê no incentivo à agricultura familiar, formada por pequenos produtores, um caminho importante para garantir nutri??o e diversidade alimentar à popula??o.
Afinal, esse modelo agrícola é responsável por 62% da produ??o de hortali?as no Brasil, segundo o IBGE.
?? Graziano aponta outras vantagens da agricultura familiar, ou?a abaixo:
Graziano destaca que o consumo de hortali?as no Brasil n?o passa de um ter?o do recomendado pela Organiza??o Mundial da Saúde (OMS), que é de 400 gramas por pessoa por dia.
“Investir na agricultura familiar é justamente investir no que estamos precisando. Se há alimentos que faltam produzir s?o frutas, verduras e legumes. N?o falta produzir arroz e feij?o", diz Graziano.
N?o é só plantar: tem que encurtar distancias
Mas, para que a agricultura familiar consiga ocupar os desertos, é preciso encurtar distancias, criando pontes para que os produtos colhidos cheguem até os centros consumidores.
Segundo Gomes, é comum que ONGs e órg?os assistência técnica rural tomem a frente do transporte de alimentos da agricultura familiar.
Foi o que o g1 viu em Betania do Piauí. Hoje, a ONG Instituto Novo Sert?o é a responsável por coletar os produtos dos agricultores de casa em casa, nas áreas rurais, para levá-los à feira, que fica no centro da cidade.
A feira, batizada de Quitanda dos Quintais, também foi criada pela ONG.
O que faz a agricultura familiar dar certo?
“Vamos pensar um pouco na realidade do agricultor familiar. Ele tem uma produ??o diversificada, mas n?o consegue plantar todos os alimentos que precisa para abastecer a geladeira”, acrescenta.
Além disso, é importante que a renda obtida por meio da atividade agrícola garanta dinheiro para outras necessidades.
“Antes dos quintais, a gente tinha que comprar o cheiro verde, cebola, tomate, alface. E hoje a gente n?o precisa. A gente tem para o consumo de casa e para vender na comunidade", conta a agricultora Geneilza de Sousa e Silva Agricultora, de Betania.
"Aí melhorou bastante a renda da gente. Dá também para comprar a gasolina, o p?o", acrescenta.
Hoje, a Quitanda dos Quintais fatura de R$ 4 mil a R$ 5 mil por mês, e a renda é dividida de acordo com que cada agricultor produz.
Em média, cada produtor tira em torno de R$ 300 a R$ 500 por mês. E R$ 0,50 de cada produto fica com a ONG para custear o transporte.
1 de 1 Agricultora Ana Leide Carvalho da Silva superou uma depress?o após a Quitanda dos Quintais. — Foto: Gustavo Wanderley/g1
Mas como fortalecer a agricultura familiar em nível nacional?
Políticas públicas como a merenda escolar e o Programa de Aquisi??o de Alimentos (PAA) foram justamente elaborados para criar canais de venda para pequenos agricultores, explica Palmeira, da Rede Penssan.
Por meio do PAA, por exemplo, agricultores familiares vendem seus alimentos para o governo federal, estados e municípios, que, por sua vez, distribuem para escolas, hospitais e pessoas em vulnerabilidade social.
Hoje, produtores de Betania também participam desse programa.
Mas o PAA passou por fortes cortes no or?amento entre 2016 e 2022, e vem sendo retomado desde 2023 (veja abaixo).
O governo federal prevê aumentar o número de agricultores familiares beneficiados pelo programa de 85 mil, em 2025, para 95 mil, em 2027, segundo o Plano Nacional de Seguran?a Alimentar e Nutricional (Plansan).
O Plansan foi aprovado em mar?o e contempla uma série de estratégias para reduzir a fome no Brasil.
Bruno Lucchi, diretor técnico da Confedera??o da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) afirma que é importante apoiar a agricultura familiar, uma vez que ela é formada por pequenos produtores.
"Nas políticas públicas, a agricultura familiar precisa de crédito mais barato e um melhor seguro [rural], por quê? Porque ela tem menos poder de barganha com os bancos, menos poder de barganha com a indústria", afirma.
Fome e falta de água
Um outro problema do município do Piauí sempre foi a escassez de água, uma condi??o que é muito relacionada a quadros de pobreza e fome em zonas rurais de semiárido, diz Palmeira.
Segundo o IBGE, a propor??o de domicílios particulares com inseguran?a alimentar moderada ou grave nas zonas rurais foi de 12,7% em 2023, contra 8,9% nas áreas urbanas.
“Quando a gente fala da supera??o da inseguran?a alimentar numa regi?o rural do semiárido, a gente fala de levar água, de criar condi??es de irriga??o da terra”, afirma Palmeira.
No caso de Betania do Piauí, o Instituto Novo Sert?o teve que realizar pesquisas e consultorias junto a universidades e à Embrapa para entender as melhores técnicas de plantio de hortali?as com pouco uso da água.
Vários métodos foram implementados de acordo com a estrutura dos quintais de cada agricultor, conta Simara Coelho, coordenadora da ONG.
Como perfura??o de po?os artesianos, constru??o de cisternas-cal?ad?o, irriga??o por pote de barro, além de sistemas de reuso de águas cinzas para plantio de frutas (saiba detalhes no vídeo acima).
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