Pele de peixe gigante da Amaz?nia vira bolsa de luxo, mas ganho n?o chega a pescadores
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 20h24)1 de 10 Um pescador carrega um pirarucu na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá
Pele de peixe gigante da Amaz?nia vira bolsa de luxo, mas ganho n?o chega a pescadores
1 de 10 Um pescador carrega um pirarucu na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá,?niavirabolsadeluxomasganhon?numero da vaca no jogo de bicho em Fonte Boa, estado do Amazonas — Foto: AFP via Getty Images/BBC
Bolsas de luxo e acessórios de couro que chegam a custar milhares de reais, no Brasil e em lojas nos Estados Unidos.
O uso da pele espessa e resistente do pirarucu, peixe que já foi considerado amea?ado de extin??o e tem hoje sua pesca e comércio controlados, recebe apoio tanto da indústria da moda quanto de autoridades ambientais.
?? A pesca da espécie já foi proibida por causa da explora??o predatória, mas hoje é vista como exemplo de manejo sustentável: o modelo atual envolve a contagem dos animais e a autoriza??o da captura de apenas uma parte, garantindo a conserva??o das popula??es e remunera??o para comunidades indígenas e ribeirinhas.
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Marcas nacionais e internacionais enfatizam esses ganhos socioambientais a seus clientes. A Osklen, pioneira neste mercado, diz em seu site que a iniciativa colabora com a economia circular, "gerando renda para as popula??es ribeirinhas e contribuindo para a preserva??o da Amaz?nia."
A americana Piper & Skye se define como uma marca criada para unir luxo e sustentabilidade.
Mas representantes de comunidades envolvidas no manejo e especialistas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que, embora defendam que o modelo de fato ajudou a recuperar a popula??o do peixe, a maior parte do dinheiro recebida com esse comércio da pele n?o chega a quem garante essa preserva??o.
O pescador amazonense e vice-presidente da Federa??o dos Manejadores e Manejadoras de Pirarucu de Mamirauá (Femapam) Pedro Canízio diz que se assustou ao ver o pre?o de um desses itens de luxo à venda, pela primeira vez, em uma viagem que fez ao Rio de Janeiro há alguns anos.
"O manejador [aquele que participa do plano de manejo do pirarucu] n?o chega nem perto de comprar um produto desse, porque é muito caro. Pescadores têm muito trabalho, mas o quilo do pirarucu [inteiro] é vendido por aqui, no maior valor, a R$ 11", diz Canízio.
A consultora Fernanda Alvarenga, autora de um estudo sobre o mercado do couro do pirarucu, diz que esse é um problema comum entre os produtos da Amaz?nia.
"A maioria dessas rela??es [da cadeia produtiva] s?o questionáveis", diz Alvarenga.
"Brincamos que, se o manejo do pirarucu n?o der certo como estratégia de conserva??o da Amaz?nia, nada vai. é a atividade econ?mica mais redonda em termos de maior número de benefícios socioambientais", continua a consultora.
"é importante que isso venha à tona n?o como uma maneira de destruir rela??es comerciais, mas de ter um olhar mais cuidadoso e consciente sobre a importancia dessa atividade econ?mica como estratégia de conserva??o."
Empresas do setor ouvidas pela BBC News Brasil dizem que reconhecem os desafios, mas que buscam ativamente o fortalecimento dessas comunidades.
Afirmam também que o mercado de luxo representa só uma pequena parte da demanda e que o segmento teve papel fundamental como vitrine internacional do pirarucu (mais detalhes abaixo).
2 de 10 Acessórios com couro de pirarucu que custam milhares de reais s?o anunciados no site da marca Osklen — Foto: Osklen/Reprodu??o/BBC
Um couro exótico e sustentável
O couro do pirarucu cumpre um papel considerado importante no mercado da moda, por passar essa mensagem de prote??o ao meio ambiente.
Couros, em geral, s?o celebrados por sua durabilidade e também por uma quest?o cultural ligada à ancestralidade, diz Lilyan Berlim, especialista em sustentabilidade na moda e professora de gest?o de luxo na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
"Foi uma das primeiras formas de roupa que tivemos. Há uma associa??o com qualidade e eficiência."
Mas a liga??o com danos ao meio ambiente tem feito com que a indústria virasse alvo constante de críticas.
O pirarucu entrou como uma exce??o. "Tem toda uma quest?o cultural. Ele é alimento das comunidades ribeirinhas da Amaz?nia. Quando você usa o couro do pirarucu, de certa forma está gerando renda para as comunidades", diz a professora.
Novas marcas surgem neste mercado a cada ano, sempre incorporando a ideia de sustentabilidade ao discurso.
3 de 10 Couro de pirarucu é usado por marcas de luxo, no Brasil e no exterior, para fazer acessórios como bolsas e botas — Foto: Bernardo Oliveira/Asproc/Divulga??o/BBC
"Pensamos em um modelo de negócio que n?o fosse só sobre o couro, mas sobre sustentabilidade e impacto ambiental", diz Bruna Freitas, fundadora de uma dessas novas marcas no mercado nacional, a Yara Couro, baseada em Macapá (AP).
A ideia surgiu depois de ter tomado conhecimento da grande quantidade de resíduos da pesca em sua regi?o. "N?o há um aproveitamento t?o grande da cadeia do pescado como já há na bovina", diz.
No caso do pirarucu, o peixe é consumido como alimento. Até pouco tempo atrás, sua pele era descartada. Com o crescimento desse mercado, essa parte do animal passou a ser reaproveitada.
Freitas diz que o pirarucu se destaca por possuir uma pele com um padr?o difícil de ser imitado, além de ser um símbolo da Amaz?nia. "é um peixe que sobreviveu a muitas quest?es ambientais."
4 de 10 Para Pedro Canízio, falta valoriza??o dos manejadores do pirarucu — Foto: Arquivo pessoal via BBC
Do manejo às vitrines
A pesca do pirarucu ocorre em período fixo do ano nas chamadas áreas de manejo, no estado do Amazonas, e só 30?% dos adultos podem ser capturados; o restante fica para manter os estoques. O controle é do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
No sistema de manejo, as próprias comunidades ficam responsáveis por vigiar e proteger os lagos nas áreas em que vivem para evitar invas?es. Com isso, também complementam suas rendas.
A espécie já esteve entre as amea?adas com risco de extin??o e, por isso, sua pesca extrativa foi proibida no Amazonas nos anos 1990. Com o desenvolvimento dos projetos de manejo, a popula??o de peixes voltou a crescer.
Depois da autoriza??o do Ibama, as comunidades se reúnem para organizar a pesca e a comercializa??o por associa??es comunitárias das áreas de manejo.
5 de 10 Vista aérea de barcos de pesca na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Mamirauá, em Fonte Boa, estado do Amazonas, Brasil — Foto: AFP via Getty Images/BBC
'Falta o reconhecimento do pescador'
Depois da pesca, a maior parcela do pirarucu vai para frigoríficos, onde pele e carne s?o separadas. Só ent?o essas peles podem seguir para curtumes, onde s?o transformadas em couro para fabricantes de cal?ados, bolsas e outros acessórios.
é nesta última etapa que há a maior valora??o do produto, segundo uma pesquisa conduzida pela organiza??o sem fins lucrativos Opera??o Amaz?nia Nativa (Opan) e publicada em 2018.
O estudo explica que o processamento da pele é complexo e envolve várias etapas, como lavagem, molhos e banhos, retirada de escama, epiderme e gorduras, tingimento, secagem, recorte e costura. Também há uma série de exigências legais. Daí a dificuldade em se implementar a confec??o desse material diretamente nas comunidades.
A pesquisa identificou uma concentra??o de mercado: 95% das peles foram comercializadas por sete frigoríficos e só 5% pelas associa??es comunitárias.
"O trabalho com as peles é difícil de aprender. Os manejadores est?o aprendendo como fazer o corte. é um trabalho com muita tecnologia envolvida", diz Cristina Isis Buck Silva, responsável pela coordena??o de uso sustentável da fauna e da biodiversidade do Ibama.
Pedro Canízio, da Federa??o dos Manejadores e Manejadoras de Pirarucu de Mamirauá, diz que consideraria um sistema mais justo no qual os manejadores recebessem uma parte do que é ganho com a venda das peles.
"Mas, hoje, a gente n?o consegue. Com o pouco que lucramos com o manejo fazemos a vigilancia [dos lagos]", afirma Canízio.
"O manejo do pirarucu deu certo. Falta o reconhecimento do pescador, tanto na venda da carne como dos subprodutos, como a pele. Para que as comunidades tenham qualidade de vida."
Comunidade cria marca própria, mas faltam recursos para processar couro
Há tentativas de fazer o processamento do couro de forma mais próxima às comunidades, mas os envolvidos dizem que faltam recursos.
"é uma indústria cara, seria um novo negócio. No futuro, talvez, além de vender a carne do peixe, também possamos processar o couro", diz Ana Alice Oliveira de Britto, da Associa??o dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), organiza??o que representa 800 famílias em 55 comunidades ribeirinhas.
Uma das formas de fomentar e valorizar o trabalho dos manejadores foi a cria??o do Coletivo do Pirarucu, em 2018, que reúne comunidades locais, institutos de pesquisa e organiza??es governamentais, como o próprio Ibama.
O grupo lan?ou a marca Gosto da Amaz?nia, gerida pela Asproc, com venda para outras regi?es do país, como sul e sudeste, mas com foco na carne.
"O pescador chega a receber 40?% a mais pelo peixe do que a média comercializada na regi?o", diz Britto, da Asproc.
A entidade quer que futuramente esse modelo seja replicado para a pele do peixe. Para isso, Britto acredita que s?o necessárias políticas públicas que invistam no setor, que ajudem os próprios pescadores a desenvolver tecnologia para fazer a convers?o em couro.
"Se essa atividade n?o remunerar com justi?a e deixar de ser atraentes aos manejadores, a sociedade pode perder um importante aliado na conserva??o do território amaz?nico, que poderá migrar pra outras atividades mais danosas ao meio ambiente pra sustentar suas famílias."
6 de 10 Reuni?o do Coletivo do Pirarucu, em Manaus (AM) — Foto: Ibama via BBC
'N?o compramos peixe diretamente de pescadores nem definimos pre?os do peixe ou das peles'
7 de 10 Couro de pirarucu é usado por marcas de luxo, no Brasil e no exterior, para fazer acessórios como bolsas e botas — Foto: Getty Images via BBC
Uma empresa brasileira, a Nova Kaeru, domina o mercado do couro de pirarucu.
Dados da plataforma Panjiva, que contém informa??es sobre exporta??es, obtidos pela BBC News Brasil, mostram que 70% do valor exportado de pirarucu e seus derivados em 2024 e 2025 estava concentrado nesta empresa.
Um outro estudo, com dados do Ibama de 2011 a 2018, chegou a um número semelhante, de 68% das exporta??es.
A marca é fornecedora da maior parte das empresas que fabricam os acessórios com este tipo de couro. Em seu catálogo est?o expostas pe?as de marcas de luxo como Giorgio Armani, Dolce & Gabbana e Givenchy.
A Nova Kaeru surgiu a partir de uma inova??o tecnológica: Eduardo Filgueiras, um de seus fundadores, criou uma técnica para que diferentes tipos de materiais ou couros fossem soldados, criando superfícies amplas e contínuas.
"Ele é desses cientistas que transformam e criam coisas verdadeiramente novas", diz o gerente de marketing André de Castro. "O pirarucu já é um couro grande por si, mas conseguimos fazer algo único, de transformar várias pe?as em uma superfície muito maior."
A inova??o, diz Castro, é o que explica esse pioneirismo. "O mercado demorou pra entrar no pirarucu, até por ser uma tecnologia que n?o existia."
A maior parte da produ??o da Nova Kaeru é voltada à exporta??o, tendo como maiores clientes os EUA e o México, onde s?o fabricadas botas do estilo country para o consumidor americano. O mercado de luxo, afirmam, representa só 5% da demanda.
Essa concentra??o de mercado é vista com ressalvas. Um dos críticos é Adevaldo Dias, presidente do Memorial Chico Mendes, organiza??o sediada em Manaus (AM) que atua no apoio aos manejadores.
"O que mais nos incomoda no mercado da pele do pirarucu é a n?o concorrência", afirma Dias.
"Tem casos em que a pele é entregue e leva mais de seis meses para receber o pagamento. E n?o há outra op??o. é um mercado pouco aquecido."
Ele acredita que, para que as empresas fa?am uso da imagem de sustentabilidade e responsabilidade social, devem dar maior visibilidade às demandas das comunidades.
"Se há uma comunica??o sobre uma rela??o justa com a comunidade, essa rela??o deveria, de fato, acontecer. As empresas precisam acompanhar o que acontece em toda a cadeia produtiva."
8 de 10 Um dos fundadores da Nova Kaeru, André Filgueiras — Foto: Nova Kaeru/Divulga??o via BBC
'Nosso papel n?o é só comprar a pele, mas investir na Amaz?nia'
José Leal Marques, diretor comercial da Nova Kaeru na Amaz?nia, diz que a empresa iniciou, na década passada, o processo de aproveitamento da pele, antes descartada. E que as comunidades ainda n?o têm capacidade técnica para fazer essa separa??o, algo que esperam viabilizar no futuro, permitindo compras diretas.
"Nosso papel n?o é só comprar a pele, mas investir na Amaz?nia, na qualifica??o de m?o de obra, na pesca e captura do pirarucu", diz.
Ele ressalta que retirar a matéria-prima no Amazonas, transportá-la e transformá-la é um processo demorado e caro, envolvendo semanas de transporte e até seis meses de produ??o antes de gerar retorno financeiro. Segundo ele, diante desses custos, o pre?o pago pela Nova Kaeru é alto em compara??o a outros couros e peles no mercado.
Marques avalia que há sim concorrência, mas que ela vem do exterior: "A Bolívia hoje pesca o ano todo, porque lá o pirarucu é considerado um peixe invasor [um organismo introduzido fora de sua área natural]".
"Eles concorrem conosco no mercado internacional com pre?os abaixo do que trabalhamos. Mesmo assim continuamos mantendo nosso pre?o de compra."
A Nova Kaeru também enviou, por e-mail, duas notas em que diz que n?o define pre?os do peixe ou das peles, e que os valores "s?o negociados localmente entre associa??es de pescadores e unidades de processamento."
O posicionamento da empresa à BBC News Brasil também destacou os seguintes pontos:
Sempre defendeu a remunera??o justa em toda a cadeia produtiva. "O pre?o da pele, quilo por quilo, é superior ao da carne, o que representou ganho real de renda para as comunidades envolvidas no manejo."A empresa compra peles há mais de uma década, antes de haver demanda, investindo em processamento e mercado.Destaca que n?o vê monopólio no mercado e que outros curtumes processam pirarucu, mas que a empresa se destaca pelo pioneirismo e qualidade.Processo envolve custos altos com logística, insumos importados, marketing e trabalho artesanal local.Segmento de moda de luxo representa menos de 5% da demanda do pirarucu. A maior parte vai para as botas do segmento country nos EUA, e que o pre?o de venda do couro é o mesmo em ambas as situa??es. "Os pre?os mais elevados do mercado de luxo n?o refletem qualquer diferen?a no valor recebido pela Nova Kaeru"Mercado de moda de luxo teve papel fundamental como vitrine internacional do pirarucu
'Cadeias complexas exigem a??es coletivas'
Já a Osklen e o Instituto-E, organiza??o sem fins lucrativos parceira da marca, disseram que atuam há mais de 20 anos em diferentes cadeias produtivas sustentáveis. A empresa, pioneira na utiliza??o do couro do pirarucu, destacou que marcas como Rick Owens, Burberry, Giorgio Armani hoje utilizam essa matéria prima, além das nacionais.
Assim como a Nova Kaeru, a empresa destaca a complexidade do processo logístico e cita também os custos desenvolvimento, design, manufatura especializada, logística, dentre outros, para justificar o valor final do produto que é comercializado.
Diz ainda que reconhece que ainda existem "grandes desafios" e que procura fortalecer projetos que atuem na transparência da cadeia produtiva.
Destacou ainda que cadeias complexas como a do pirarucu precisam de "a??es coletivas, que unam institui??es n?o governamentais, poder público, pesquisas científicas e investimentos."
"Ainda existe um grande gap que só poderá ser ocupado de fato por políticas públicas para que os elos iniciais da cadeia consigam adquirir tecnologias de beneficiamentos e, dessa forma", finalizou.
Em nota, a Piper & Skye disse que "está profundamente comprometida com o fornecimento ético, a gest?o ambiental e as parcerias justas". Ressaltou que trabalha exclusivamente com fornecedores confiáveis, como a Nova Kaeru, "cujas práticas s?o monitoradas pelo órg?o ambiental brasileiro e que têm demonstrado apoio de longa data à pesca sustentável e às comunidades locais."
A marca diz que n?o está envolvida em pre?os ou negocia??es na cadeia de suprimentos, mas que apoia "firmemente nossos valores e a integridade de nossos parceiros, cujo compromisso com a inova??o, a rastreabilidade e o fornecimento responsável reflete o tipo de colabora??o em que acreditamos — uma colabora??o que respeita as pessoas e o planeta."
"A Piper & Skye continua dedicada à transparência, à responsabilidade e aos mais altos padr?es de ética nos negócios."
Fiscaliza??o ao contrabando admite falhas
9 de 10 Peixe pode pesar mais de 200 quilos — Foto: Bernardo Oliveira/Asproc/Divulga??o via BBC
Outro problema que preocupa especialistas, além das desigualdades de mercado, é a falta de controle sobre o contrabando do pirarucu.
A investiga??o sobre a pesca ilegal no Amazonas estava entre as motiva??es do assassinato do jornalista britanico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, mortos em 5 de junho de 2022, na regi?o da Terra Indígena Vale do Javari. O crime mirava as atividades de Pereira em defesa dos povos indígenas para coibir viola??es ambientais.
Um levantamento feito pela BBC News Brasil nos dados do Ibama identificou 1,1 mil multas ambientais relacionadas ao pirarucu desde os anos 2000 — 70% delas no Amazonas.
Os casos mais comuns s?o relacionados à pesca ilegal e transporte do peixe sem autoriza??o, mas a BBC também encontrou infra??es por comércio n?o autorizado do couro.
O chefe do Núcleo de Fiscaliza??o da Atividade Pesqueira do Ibama, Igor de Brito, diz que essa área do crime contra Phillips e Pereira tem apreens?es constantes do peixe — uma opera??o foi instaurada depois dos assassinatos para investigar a atividade pesqueira no local.
"A gente tem feito opera??o lá todo ano e, praticamente em todas, apreende pirarucu, tanto no rio quanto no mercado local", afirma Brito.
"Em uma das a??es chegamos a recolher cerca de uma tonelada, num mercado relativamente pequeno."
Ele reconhece que os números de apreens?es podem n?o ser representativos.
"Nos faltam pernas para poder combater toda a irregularidade. A falta de m?o de obra e de fiscais com certeza dificulta muito o enfrentamento efetivo. Queria, por exemplo, poder realizar uma opera??o toda semana no mercado do peixe de Manaus. Mas n?o damos conta, dada a demanda."
'Com tanto peixe ilegal sendo capturado, alguém está recebendo'
10 de 10 Opera??o no Amazonas apreende toneladas de pescado ilegal na regi?o do Médio Solim?es, a 360km da capital. Dentre eles estava o pirarucu — Foto: Instituto de Prote??o Ambiental do Amazonas (Ipaam) via BBC
Brito, do Ibama, avalia que o controle da cadeia produtiva do pirarucu está "muito aquém" do que o órg?o gostaria. Um dos desafios é ter um sistema que acompanhe toda a cadeia produtiva, de ponta a ponta.
Ele explica que quando o peixe sai das áreas manejadas, acompanha uma guia de transporte e um lacre preso ao couro. O problema surge quando o pirarucu é fracionado. "Quando ele vira couro, carne ou língua, perco esse controle. Essa diversidade de usos dificulta um acompanhamento amplo", diz Brito.
Na prática, o trabalho vira uma investiga??o por etapas, sem um sistema que concentre os dados. "Se chego a uma loja, pergunto de onde veio o produto. Vou subindo: fábrica, distribuidor, até chegar ao pescador. é um processo precário, mas é o que temos."
Para Fernanda Alvarenga, autora do estudo sobre o mercado do couro do pirarucu no Amazonas, n?o há seguran?a de que o couro comprado pelas empresas do setor vem exclusivamente do manejo legal. E alerta para a falta de fiscaliza??o nos rios e nos frigoríficos.
"Com tanto peixe ilegal sendo capturado, alguém está recebendo, processando, comprando esse peixe e essa pele".
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