Aposta redobrada em inteligência artificial em meio a cenário de guerra comercial
Em seguran?a alimentar, o Brasil n?o fez toda a li??o de casa Revista Agronegócio Valor Econ?mico.txt
O agronegócio brasileiro,?aalimentaroBrasiln?ofeztodaali??odecasaRevistaAgronegócioValorEcon?jogos para pc medio destaque no mercado global, respondeu por 23,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, consolidando o país no posto de maior exportador de soja, milho, café, a?úcar, suco de laranja e carnes bovina e de frango do mundo. Ocupando 8% de seu território com produ??o de alimentos, o Brasil, segundo a Organiza??o das Na??es Unidas para Alimenta??o e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), está entre os maiores produtores agropecuários do planeta, ao lado da China, índia e dos Estados Unidos, devendo atingir, neste ano, outro recorde na safra de cereais, leguminosas e oleaginosas, de 332,6 milh?es de toneladas, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar dos números alvissareiros, o agro nacional convive com, pelo menos, dois fatos que chamam a aten??o pela gravidade de seus impactos: o avan?o da infla??o dos alimentos, que acumulou alta de 55,91% nos últimos cinco anos, ante os 33,47% do índice Nacional de Pre?os ao Consumidor Amplo (IPCA), e a inseguran?a alimentar grave, sin?nimo de falta de comida por um ou mais dias, que atingiu 8,7 milh?es de brasileiros em 2023, mantendo o país no mapa da fome da Organiza??o das Na??es Unidas (ONU) — os indicadores preliminares de 2024 mostram melhora no quadro. Em resumo, mesmo liderando as exporta??es de vários produtos agrícolas, o Brasil se depara com alta de pre?os de alimentos e com o fato de n?o garantir comida diária para parte de sua popula??o. window._taboola = window._taboola || []; _taboola.push({ mode: 'organic-thumbs-feed-01-stream', container: 'taboola-mid-article-saiba-mais', placement: 'Mid Article Saiba Mais', target_type: 'mix' }); — Foto: Arte/Valor Apesar de séria, a situa??o já foi pior e vem melhorando nos dois últimos anos. Na penúltima pesquisa realizada em 2021 sobre o tema, o número de pessoas com inseguran?a alimentar grave no Brasil chegou a 33 milh?es, recorde da série histórica iniciada em 2004. Na ocasi?o, o levantamento foi conduzido pela Rede Penssan, que utilizou a mesma metodologia do IBGE, que havia interrompido a coleta de dados naquele ano. “A queda pode ser explicada pela rápida retomada de programas sociais, do emprego e da valoriza??o do salário mínimo”, diz Renato Maluf, membro do conselho consultivo da Rede Penssan. A quest?o da oferta de alimentos interna a pre?os adequados envolve um conjunto de fatores. Houve aumento da área plantada que n?o correspondeu à expans?o da disponibilidade interna de alimentos. A área total plantada no Brasil cresceu de 65,4 milh?es de hectares em 2010 para 96,3 milh?es de hectares em 2023, mas essa alta, conforme Francisco Pessoa Faria, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia a Funda??o Getulio Vargas (FGV/Ibre), foi provocada, basicamente, por duas culturas exportadoras: a da soja, cuja área plantada passou de 23 milh?es de hectares para 44 milh?es no período, e a do milho, que saiu de 13 milh?es de hectares para 22,6 milh?es de hectares. Já as culturas para consumo doméstico tiveram desempenho oposto, conforme Paula Packer, especialista da área de meio ambiente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A produ??o per capita de frutas como banana, laranja, mam?o e ma?? caiu entre 2010 e 2023, em alguns casos mais de 20%. O mesmo ocorreu com o arroz e feij?o, que perdem área plantada há anos. “Temos vulnerabilidade nos hortifrútis e nos alimentos básicos. Há sazonalidade de produ??o, porque há épocas em que recebem incentivos e em outras n?o. Quando se fala de arroz e feij?o, existe vulnerabilidade porque s?o culturas localizadas. Quando há aumento de custo, devido aos transportes e fertilizantes, acabam tendo queda de produ??o e da área plantada por falta de incentivo. Perdem a competitividade. Muitas vezes, a exporta??o acaba sendo mais atraente”, diz Packer. Apesar dos dados, alguns especialistas evitam fazer correla??o direta entre a prioridade da produ??o de alimentos brasileiros para exporta??o, a press?o inflacionária e a redu??o da área plantada dos produtos da cesta básica. O cenário é complexo e influenciado por uma série de fatores. Por exemplo, a rela??o entre os pre?os domésticos e os do mercado externo, já que muitos produtos têm cota??es referenciadas nas bolsas internacionais, sendo altamente sensíveis ao cambio; e o impacto das mudan?as do clima sobre a produ??o agropecuária, como demonstra o exemplo recente da alta do pre?o do café provocada pela seca. André Braz, coordenador dos índices de pre?os do FGV/Ibre, observa que os eventos climáticos est?o mudando a distribui??o das chuvas no país e, com isso, alterando o mapa da agricultura, reduzindo em alguns momentos a oferta de alimentos e pressionando a infla??o. Para André Braz, coordenador dos índices de pre?os do FGV/Ibre, subir juros n?o fará a comida cair de pre?o — Foto: Leo Pinheiro/Valor “A alta dos pre?os n?o é uma quest?o de aumento de demanda, mas de oferta menor, mesmo com recorde de safra. Onde estamos batendo recorde? No milho, na soja, mas precisamos também de arroz e de feij?o, que s?o cultivados por pequenos agricultores com mais dificuldades na obten??o de crédito. Sem crédito n?o conseguem comprar insumos de primeira linha, importantes para aumentar a produtividade. Com o crédito, eles obtêm renda cultivando produtos básicos, sem necessidade de migrar para exporta??o. A produ??o de feij?o e leite vem basicamente de pequenas propriedades. Havendo uma oferta maior, conseguimos controlar a infla??o”, diz Braz. A infla??o dos alimentos, superior à do índice geral, impacta diretamente no consumo de comida, uma vez que os salários s?o reajustados com base na varia??o do IPCA, que foi inferior à oscila??o de pre?os dos alimentos. “Subir juros n?o fará a comida cair de pre?o, porque a queda depende da oferta”, diz Braz. A??es para reverter o atual quadro est?o em curso, na avalia??o de Elisabetta Recine, presidente do Conselho Nacional de Seguran?a Alimentar e Nutricional (Consea). Uma das linhas de financiamento do Plano Safra, lan?ado neste mês de julho, concederá crédito a juros menores para os produtores de itens que comp?em a cesta básica, de modo a garantir a oferta de culturas relevantes na cesta básica, uma vez que a área plantada repercute na disponibilidade dos alimentos. “Precisamos fazer com a que a produ??o de alimentos para o mercado interno seja competitiva e vantajosa para os agricultores, com garantia de mercado, subsídios e apoio à produ??o”, diz Recine. Além disso, a queda do desemprego, a valoriza??o do salário mínimo e o aumento médio da renda, a seu ver, s?o fatores decisivos para a redu??o da fome no Brasil. Recine também enfatiza a importancia da retomada dos estoques reguladores de produtos básicos, de modo a garantir abastecimento estável e sem press?o inflacionária em momentos de crise nos mercados internacional e nacional, como guerras e quebra de safra por motivos climáticos, cada vez mais frequentes. A infla??o dos alimentos permanece um fator preocupante, embora os últimos meses mostrem uma queda de pre?os de vários produtos. Francisco Menezes, consultor de políticas da ActionAid e ex-presidente do Consea, observa que a infla??o de alimentos, presente há cerca de 15 anos, com exce??o do ano de 2023, tem componente estrutural, com causas que n?o s?o mitigadas com a??es pontuais, mas com um conjunto de fatores. “é preciso compreender o aumento de pre?os como um fen?meno global, embora haja causas locais, resultado de más políticas”, diz. O cenário abrange a rela??o entre pre?os nos mercados global e nacional e as mudan?as climáticas, “que poder?o vir a ser o principal fator de infla??o no mundo”, além do aumento da área plantada de commodities em detrimento das culturas de produtos básicos. “Quando é o mercado que dá as regras para quem produz, esse processo fica um pouco descontrolado. Deveria haver taxa??o maior sobre produtos exportados? Soja e milho gozam de isen??es tarifárias. é uma pergunta que temos que fazer”, conclui.