Boi com chip na Amaz?nia: como funciona o rastreamento para saber se a carne está livre de desmatamento
ianmnkuhaj
15 Sep 2025(atualizado 15/09/2025 às 01h51)Como maior exportador de carne bovina no mundo, o Brasil sofre press?es para demonstrar que o produt
Boi com chip na Amaz?nia: como funciona o rastreamento para saber se a carne está livre de desmatamento
Como maior exportador de carne bovina no mundo,?niacomofuncionaorastreamentoparasaberseacarneestájogo roleta sexo o Brasil sofre press?es para demonstrar que o produto, principalmente quando vindo da Amaz?nia, n?o esteja ligado a áreas de desmatamento ilegal.
Afinal, a regi?o tem a maior concentra??o de rebanho bovino no país.
Uma das solu??es é rastrear o gado individualmente, em todas as suas fases de vida: o g1 acompanhou um projeto-piloto em uma fazenda, no Pará.
Por enquanto, o que existe s?o iniciativas privadas. Pecuaristas cobram do governo federal uma política nacional que dê incentivos e estrutura para implementar o rastreamento.
"Eu n?o quero construir um elefante branco. A minha vida está no Pará. Tudo o que eu investi está aqui. E eu comecei a pensar que, daqui a pouco, eu posso ficar excluído e ninguém mais querer comprar carne da Amaz?nia", conta o pecuarista e dono do Frigorífico Rio Maria, Roberto Paulinelli.
O g1 visitou a fazenda dele, em Rio Maria, no Pará, o estado com o segundo maior rebanho bovino do país e o maior da Amaz?nia, para conhecer um sistema de identifica??o de bois com chips que tem o objetivo de garantir uma carne livre de desmatamento (veja como funciona no vídeo acima).
?? Este é o episódio de estreia da série "PF: prato do futuro", onde o g1 mostra solu??es para desafios da produ??o de alimentos no Brasil.
Nesta reportagem, você vai ler sobre os seguintes tópicos:
O desafio do Brasil como maior exportador de carneQuando os frigoríficos come?aram a monitorar fazendas O problema do fornecedor indiretoComo é o 'CPF' do boiQuanto custa rastrearSolu??es para pequenos produtoresBrasil precisa de política pública
O desafio do Brasil
Como maior exportador de carne bovina no mundo, o Brasil sofre press?es para demonstrar que o produto, principalmente quando vindo da Amaz?nia, n?o esteja ligado a áreas de desmatamento ilegal. A regi?o tem a maior concentra??o do rebanho bovino no país.
Os principais desafios s?o:
o Brasil n?o tem, hoje, uma política pública nacional para rastrear o gado — o governo federal diz que tem planos para criar uma;um acordo entre frigoríficos da Amaz?nia e o Ministério Público Federal prevê o monitoramento de fazendas, mas a ades?o é voluntária;além disso, a maior parte das empresas só checa a situa??o dos seus fornecedores diretos, ou seja, das fazendas que engordam os bois;n?o existe a mesma verifica??o dos fornecedores indiretos, que s?o, geralmente, as fazendas que criam bezerros e bois magros. é este gargalo que o rastreamento com uso de chips pretende resolver.
O uso dessa tecnologia é uma das possíveis solu??es. Mas, por enquanto, o que existe nesse sentido s?o iniciativas privadas e recentes.
O projeto-piloto de rastreamento adotado na fazenda de Paulinelli, no Pará, foi criado há um ano pela empresa de geotecnologia Niceplanet, em parceria com a certificadora SBcert.
Até o momento, ele abrange 150 fazendas e frigoríficos do Pará, do Tocantins, de Goiás e de S?o Paulo – incluindo grandes empresas, como a Frigol e a Minerva.
Paulinelli compra bois para recriar e engordar em sua fazenda e, portanto, lida com muitos fornecedores indiretos. Por isso, ele tem incentivado que esses produtores também rastreiem o gado.
"A gente está sentindo que a restri??o contra a Amaz?nia está apertando cada vez mais", conta o pecuarista que, além de vender carne para empresas brasileiras, exporta para outros países, principalmente para a China.
A Uni?o Europeia tem sido mais dura em rela??o a essa quest?o. A partir de 2025, empresas que ficam na UE ser?o proibidas de comprar produtos de áreas com desmatamento.
A China também come?ou a se movimentar. Em 2021, a Associa??o Chinesa da Carne (CMA), que inclui empresas, governo e pesquisadores, publicou regras para evitar a importa??o de produto associado ao desmatamento. As normas, porém, ainda n?o têm uma data para come?ar a valer.
Por causa disso, Paulinelli come?ou a se adiantar.
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'Carne Legal'
Os frigoríficos come?aram a fazer algum monitoramento de seus fornecedores em 2009, ano em que o Greenpeace publicou um relatório conhecido como "Farra do boi na Amaz?nia", denunciando empresas que compravam gado de terras desmatadas ilegalmente.
A publica??o mexeu bastante com o setor: na época, grandes redes de supermercados, restaurantes, marcas de roupas, cal?ados e carros boicotaram a compra de couro e carne da Amaz?nia.
Veja quem faz parte da Amaz?nia legal
Diante da forte press?o, grandes frigoríficos da Amaz?nia assinaram, no mesmo ano, Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) com o Ministério Público Federal (MPF), se comprometendo a n?o comprar bois de áreas desmatadas. A iniciativa ficou conhecida como Carne Legal.
Os acordos s?o voluntários e abrangem somente os frigoríficos — os criadores de gado n?o participam. E, até o momento, o Carne Legal teve a ades?o de 130 empresas de cinco estados que fazem parte da Amaz?nia Legal: Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rond?nia.
"Hoje, o Carne Legal alcan?a 85% dos frigoríficos que têm uma atua??o relevante no mercado", conta o procurador da República Daniel Azeredo, que atua no programa desde o início.
'Boi na linha'
A implementa??o do Carne Legal durante esses 15 anos foi bastante complexa e esbarrou em muitas quest?es técnicas.
"Cada frigorífico, por exemplo, tinha uma forma de olhar para o desmatamento, para a terra indígena. Ent?o, na hora de fazer o monitoramento, tinha fazendeiro que era bloqueado por um frigorífico, mas n?o por outro", conta o engenheiro agrícola Lisandro Inakake, gerente de projetos de Cadeias Agropecuárias do Instituto de Manejo e Certifica??o Florestal e Agrícola (Imaflora).
Por causa disso, em 2018, o Imaflora e o MPF come?aram a unificar critérios de verifica??o das fazendas, o que resultou no lan?amento do Protocolo Boi na Linha, em 2020.
Esse conjunto de normas estabelece que as empresas chequem, além do desmatamento ilegal, se as fazendas têm trabalho escravo e sobreposi??o com terra indígena, quilombola e unidades de conserva??o.
As informa??es s?o obtidas por meio do cruzamento de imagens de satélite com dados de diversos documentos, como os do Cadastro Ambiental Rural (CAR), da Guia de Transito Animal (GTA), de embargos ambientais do Ibama, da lista suja do trabalho escravo, entre outros.
Os dados s?o verificados por empresas de auditoria independentes e analisados pelo MPF, que também realiza investiga??es junto ao Ibama, conta Azeredo.
O problema do fornecedor indireto
Frase - Daniel Azevedo
Hoje, grande parte dos frigoríficos só desenvolveu ferramentas para checar a situa??o socioambiental dos seus fornecedores diretos, ou seja, das fazendas que engordam os bois e os vendem diretamente para eles.
Mas n?o há uma verifica??o das propriedades que criam e recriam os bois, ou seja, dos fornecedores indiretos.
"às vezes, o animal passa em quatro, cinco fazendas antes de chegar na propriedade que vai vender para o frigorífico. Ent?o, a gente só está olhando para a última. A gente precisa olhar para as demais", ressalta o procurador.
Etapas da Pecuária de Corte
Azeredo conta que, nos TACs firmados entre 2009 e 2010, ficou acordado que os frigoríficos também procurariam uma solu??o para monitorar as fazendas de cria e recria. "Mas, como n?o existe hoje uma ferramenta para isso, a obriga??o fica só no [fornecedor] direto", explica o procurador.
Inakake, do Imaflora, diz que 30% das 50 mil propriedades rurais da Amaz?nia têm alguma inconformidade com o protocolo Boi na Linha.
"Majoritariamente, esses 30% s?o fornecedores indiretos ou fazendas que vendem para um frigorífico sem TAC", destaca.
No Rastro do Boi
Para Azeredo, o Brasil só vai conseguir monitorar, com precis?o, toda cadeia de produ??o bovina com rastreabilidade individual dos animais, desde o nascimento.
Como é o 'CPF' do boi
Roberto Paulinelli, o produtor de Rio Maria, monitora os fornecedores indiretos desde 2010, quando assinou o TAC com o MPF, já que também é dono de um frigorífico.
Mas o controle era feito apenas com documentos: só em julho de 2023, entraram os brincos e chips, que permitem saber de onde veio cada boi.
A iniciativa é conhecida como Primi, sigla para Projeto de Rastreabilidade Individual e Monitoramento dos Indiretos, criado pela empresa de geotecnologia Niceplanet, em parceria com a certificadora SBcert.
??Qual é a importancia da identifica??o individual? Hoje, o único controle de entrada e saída de bois das fazendas é feito pela Guia de Transito Animal (GTA). Porém esse documento só identifica de onde vieram os grupos de bois, mas n?o a origem de cada um deles. Quando os lotes chegam nas propriedades, eles s?o misturados, fazendo com que se perca o controle da origem.
O Brasil até tem um sistema oficial de identifica??o individual, que é o Sistema Brasileiro de Identifica??o Individual de Bovinos e Búfalos, o Sisbov. Mas esse sistema está ligado ao controle sanitário, e n?o ao combate do desmatamento.
O Sisbov foi criado há 22 anos pelo Ministério da Agricultura para atender as regras de exporta??es para a Uni?o Europeia. Quem quer vender carne para UE, precisa de duas coisas: ter autoriza??o do bloco e entrar no Sisbov, que dá um número para cada boi.
Mas quem n?o vende para a Uni?o Europeia pode registrar bois no Sisbov.
Foi por causa dessa facilidade que a Niceplanet decidiu adotar esse "CPF" do gado como ponto de partida para o rastreamento com chips. Jordan Carvalho, diretor da empresa, explica que n?o queria criar um sistema de identifica??o do nada, sem alguma valida??o nacional.
Num sistema chamado SMGeo Indireto, a Niceplanet vincula as numera??es do Sisbov de cada boi aos dados da situa??o ambiental, fundiária e trabalhista da fazenda, com base no Protocolo Boi na Linha.
Quando um produtor entra no SMGeo Indireto, ele pode pesquisar os dados da fazenda de onde ele quer comprar gado. Se essa fazenda n?o tiver nenhum bloqueio socioambiental, ele segue com a comercializa??o.
A partir daí, ele pede para o Ministério da Agricultura emitir as numera??es do Sisbov e manda gravá-las em brincos e chips, que ser?o colocados nas orelhas dos bois.
Na hora de registrar o gado, a fazenda vai incluindo, no mesmo sistema, os dados de cada boi: de qual fazenda veio, peso, data de nascimento, etc (veja no vídeo acima).
Quanto custa rastrear
Como n?o existe uma política pública ou um modelo nacional de rastreabilidade, também n?o há uma estimativa bem estabelecida de quanto custa esse processo.
O que dá para saber s?o os valores das iniciativas individuais, como os do Primi.
Para fabricar os brincos e os chips, o pecuarista Paulinelli teve um custo único de R$ 7 por boi. Já a certifica??o tem um valor de R$ 13 por animal.
O bast?o eletr?nico que lê as informa??es do chip, é mais caro, custa R$ 5 mil.
As fazendas também precisam ter bretes ou troncos, que s?o estruturas que seguram os animais enquanto eles recebem os acessórios. O custo varia muito: os mais simples podem sair por cerca de R$ 20 mil; já os mais estruturados, como o hidráulico, R$ 100 mil ou mais.
A vantagem é que muitas fazendas de gado já têm bretes porque precisam desses equipamentos para vacinar os animais.
Solu??es para pequenos produtores
Para os grandes pecuaristas, n?o sai caro implementar o sistema de rastreabilidade com chip, pois ele se dilui nos custos das empresas.
Já para os pequenos, há alternativas de identifica??o individual mais em conta, afirma o pecuarista Mauro Lúcio Costa, que também é dono de fazendas no Pará.
" [Pode fazer] a rastreabilidade com brinco e tatuagem. A tatuagem n?o tem custo, você compra um tatuador, que é uma ferramenta barata, e marca a orelha", diz Costa.
"Pode colocar também o brinco e o que a gente chama de botton. O botton é igual o chip, do mesmo jeito, só n?o vai ter o eletr?nico ali dentro", acrescenta o pecuarista, explicando que, qualquer rastreabilidade, precisa ter, necessariamente, dois identificadores, pois, caso algum se perca, tem outro para garantir.
Costa tem andado pelo estado para ensinar pequenos criadores de gado a monitorar fornecedores. O que ele tem dito a esses produtores é que a rastreabilidade traz vantagens na gest?o do negócio.
Quando um criador de gado identifica o boi, ele consegue saber quanto tempo o animal demora para ganhar peso, qual animal costuma ficar mais doente, qual fornecedor tem a melhor genética, entre outros dados, diz Mauro Lúcio. Isso faz com que o pecuarista melhore a sua gest?o.
"O ideal mesmo é colocar o chip. Ele minimiza, zera a margem de erro. O bast?o lê os dados e eles já saem no sistema. Quando você tem só o brinco, é comum ter erro na hora de escrever ou anotar o número", diz.
"O chip encarece o processo por causa do bast?o eletr?nico, mas precisa pensar que ele dura muitos anos. Teria que dar um jeito de viabilizar o bast?o para um grupo de produtores", destaca o pecuarista.
Brasil precisa de política pública
Para que a rastreabilidade se torne acessível a todos, o Estado vai precisar se mobilizar. é o que defendem pecuaristas e ambientalistas ouvidos pelo g1 nos últimos quatro meses.
Segundo eles, será preciso criar uma política pública nacional que dê incentivos e estrutura para o produtor rural.
Em maio, o g1 falou com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, sobre esse tema. Ele disse que o governo abriu um grupo de trabalho, naquele mês, para discutir o assunto.
"Vamos ouvir os produtores, a indústria, os frigoríficos, os curtumes e também os compradores. Porque n?o adianta a gente falar 'esse é o meu modelo' e ele n?o atender os compradores. A gente precisa estar conectado ao mundo para garantir acesso do Brasil a mercados e rentabilidade para toda a cadeia", disse Fávaro.
Durante a Conferência do Clima de 2023 (COP28), em Dubai, o governador do Pará, Helder Barbalho, prometeu rastrear todos os 24 milh?es de bois do estado até 2026 - a COP30, em 2025, terá Belém como sede.
O governo do estado do Pará disse ao g1 que, para atingir o seu objetivo, desenvolveu o programa de Rastreabilidade Bovídea, com previs?o para come?ar neste mês.
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'PF: prato do futuro' é a nova série do g1
Créditos deste episódio da série 'PF: prato do futuro'
Coordena??o editorial: Luciana de OliveiraEdi??o e finaliza??o de vídeos: Gustavo Wanderley e Marih OliveiraNarra??o: Marih Oliveira e Paula SalatiReportagem: Paula SalatiProdu??o: Paula Salati e Giovana ToledoRoteiro: Paula SalatiCoordena??o de vídeo: Tatiana Caldas e Mariana MendicelliCoordena??o de arte: Guilherme GomesDire??o de arte e ilustra??es: Ana Moscatelli, Barbara Miranda, Bruna Rocha, Luisa Rivas, Vitoria Coelho e Veronica MedeirosFotografia: Gustavo Wanderley e Idelson Gomes da SilvaMotion Design: Veronica Medeiros
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