COP30: Indígenas de Roraima criam plano inédito contra crise climática como modelo para outros países
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14 Sep 2025(atualizado 14/09/2025 às 21h09)Estudo combina conhecimento tradicional e ciência indígena com metodologia que pode ser replicada em
COP30: Indígenas de Roraima criam plano inédito contra crise climática como modelo para outros países
Estudo combina conhecimento tradicional e ciência indígena com metodologia que pode ser replicada em outras regi?es da Amaz?nia e do ígenasdeRoraimacriamplanoinéditocontracriseclimáticacomomodeloparaoutrospaíluvas para goleiro pokermundo.
Trabalho evidencia como os povos indígenas percebem os ciclos do clima no dia a dia e reúne a??es essenciais para mitiga??o.
No Dia da Amaz?nia, a iniciativa destaca importancia de ouvir comunidades tradicionais em eventos como a COP30.
Meta é que o plano sirva de inspira??o para líderes globais replicarem após a COP30, que ocorre de 10 a 21 de novembro, em Belém (PA).
1 de 2 Plano de enfrentamento foi produzido por pesquisadores indígenas organizados pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) — Foto: g1 RR
Indígenas de Roraima elaboraram um plano de enfrentamento da crise climática que será apresentado na Conferência das Na??es Unidas sobre Mudan?as Climáticas de 2025 (COP30), em Belém, no Pará. O trabalho inédito reúne vivência e ciência indígena, evidencia os impactos da crise climática nas comunidades e prop?e estratégias de adapta??o, com metodologia que pode ser replicada em outros países.
?? Neste Dia da Amaz?nia, o g1 mostra como o plano pode orientar estratégias de adapta??o e mitiga??o n?o só na Amaz?nia, mas em qualquer lugar do planeta. Marcada para novembro, a COP30 deve reunir 196 países para discutir metas de enfrentamento à crise climática. é neste cenário que o trabalho em Roraima se insere.
Batizado de "Plano de Adapta??o Indígena", o estudo detalha os impactos da crise climática nas planta??es, na ca?a, na pesca e na disponibilidade de frutas ao longo das últimas duas décadas. O material teve como base relatos de moradores de 20 comunidades em oito terras indígenas.
As informa??es foram coletadas por pesquisadores indígenas que atuam como agentes territoriais e ambientais (Atais). Todos fazem parte do departamento de Gest?o Territorial, Ambiental e Mudan?as Climáticas do Conselho Indígena de Roraima (CIR), chefiado pela cientista e referência mundial nas discuss?es sobre clima, Sineia do Vale.
"No Dia da Amaz?nia, a importancia que a gente traz nesse plano é que as solu??es para o clima podem vir a partir dos próprios povos indígenas, principalmente sobre a adapta??o [às mudan?as do clima]. Quest?es sobre como eles ajudam na manuten??o da biodiversidade da Amaz?nia, por exemplo, com sua sabedoria no manejo de várias espécies, de ca?a e de pássaros", resumiu Sineia.
?? Entenda: adapta??o às mudan?as do clima é o conjunto de a??es e estratégias para lidar com os efeitos da crise climática, como aumento das temperaturas e eventos extremos. é uma prepara??o para impactos atuais ou futuros, com objetivo de reduzir danos e proteger vidas, ecossistemas e economias.
No plano, pesquisadores indígenas ouviram as comunidades para registrar percep??es sobre os impactos das mudan?as climáticas nos modos de vida, com base no conhecimento tradicional e em indicadores naturais.
Parte do processo foi ilustrado com mapas feitos à m?o, mostrando os ciclos da natureza e as transforma??es do ambiente ao longo dos meses. O plano refere-se às comunidades do município de Amajari, mas tornou-se uma referência pelo modo como as quest?es foram explicadas.
?? Calendários etnoecolócios
Além dos mapas, os pesquisadores indígenas produziram calendários etnoecológicos, também chamados de calendários culturais. Eles mostram como os povos sabiam o tempo certo de plantar, colher e realizar outras atividades produtivas. Com a crise do clima, essa precis?o deixou de existir.
Historicamente, os calendários guiavam n?o apenas as ro?as, mas também práticas vitais como a ca?a e a pesca. Além disso, evidenciam a conex?o direta dos modos de vida indígenas com os ciclos do clima - essa percep??o pode ser reconhecida como ciência indígena.
2 de 2 Plano de Enfrentamento une conhecimentos tradicionais de comunidades indígenas com ciência da academia — Foto: g1 RR
"Quando eu trago um pouco dessa quest?o [da ciência indígena] no plano de enfrentamento das mudan?as climáticas, junto com a ciência acadêmica, estou dizendo que precisamos unir as duas ciências [no enfrentamento à crise do clima]", frisou Sineia.
Os relatos descritos no estudo refor?am que a sabedoria ancestral tem sido desafiada pelas mudan?as climáticas. Com o clima cada vez mais imprevisível, as comunidades "n?o sabem mais quando plantar", o que afeta diretamente a qualidade e a produ??o dos alimentos.
"Antigamente, nós tínhamos o tempo de fazer ro?a, planta??o e colheita [...]. Hoje, quando chove, é muita chuva e quando faz ver?o, é muito quente, o que afeta as planta??es e faz com que se estraguem. Por causa do tempo incerto, hoje eu n?o tenho mais ro?as", cita trecho de um dos relatos no plano.
Esses calendários, além de registrarem o conhecimento tradicional, passaram a servir como indicadores dos impactos das transforma??es do clima no cotidiano e na cultura das comunidades indígenas. é nesse ponto que os povos defendem ser modelo para outros países, refor?ando que as comunidades tradicionais precisam ser ouvidas nas decis?es climáticas.
"Cada povo tem sua percep??o diferente. Por mais que o nome seja 'Plano de adapta??o indígena' [de Roraima], cada povo pode construir com sua percep??o, seus indicadores naturais diferentes", resume Sineia.
??A??es para enfrentamento das mudan?as climáticas
O plano sistematiza, a partir do ponto de vista dos indígenas, três a??o consideradas cruciais para o enfrentamento da crise climática:
As mudan?as do tempo;Os impactos nas ro?as, na fauna e na flora;Quais a??es s?o necessárias para lidar com elas.
As mudan?as do tempo identificadas incluem esta??es imprevisíveis; invernos prolongados (com enchentes); focos de incêndio descontrolados; e calor e chuva fora de época. Esses fatores, segundo o estudo, impactam a produ??o agrícola, a variedade de sementes e frutas, e reduzem as espécies de animais.
Para mitigar o cenário, o estudo destaca a??es práticas adotadas pelas comunidades e outras definidas para lidar com os efeitos do clima. Entre elas est?o a manuten??o do plantio em ro?as com planejamento coletivo, a limpeza ao redor das ro?as para protegê-las contra incêndios e a melhoria dos sistemas de irriga??o.
Na pesca, o estudo recomenda respeitar o período da piracema, manter vigilancia contra a pesca ilegal e construir a?udes para piscicultura.
Para proteger a fauna, indica a preserva??o de habitats, educa??o ambiental e preven??o de queimadas. O documento ressalta ainda a necessidade de praticar a ca?a apenas para subsistência e nos períodos permitidos.
O monitoramento feito pelos agentes territoriais e ambientais indígenas e queimas prescritas conduzidas por brigadas indígenas s?o citadas como mecanismos de implementa??o das medidas necessárias.
?? Quem fez o estudo
O estudo foi feito por cinco pesquisadores indígenas: Nilson Thome (Ouro), Vanderly Peres dos Santos (Urucuri), Laiane da Silva Torreias (Anigal), Francileneny Campino Lima (Ara?á) e Josirene Santiago Vanderlei (Guariba).
O grupo foi coordenado por Maria de Fátima da Silva André, professora do curso de Gest?o em Saúde Coletiva Indígena da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e membro do CIR, com Sineia do Vale como facilitadora.
Desde 2011, o CIR elabora planos de enfrentamento às mudan?as climáticas. Sineia do Vale contou ao g1 que a ideia surgiu há 15 anos, após contato com uma organiza??o das Filipinas.
"Come?ou justamente porque tivemos um impacto na Serra da Lua em 2010, quando todas as mandiocas ‘cozinharam’ dentro da terra. Contamos o caso à organiza??o das Filipinas, que já trabalhava com a crise climática e nos apoiou para fazer um estudo e entender o que estava acontecendo" explicou.
Segundo ela, os planos s?o feitos pelos próprios indígenas, com metodologia que identifica altera??es climáticas por indicadores naturais, como cantos de pássaros, aquecimento das águas e sumi?o de peixes. Essa metodologia é complementada pela ciência acadêmica.
"Olhar 20 anos atrás dá muitas informa??es sobre o que mudou: na cultura, na planta??o, na pesca, na ca?a; e indica que solu??es precisamos. Por exemplo: plantar sementes mais resistentes ao inverno e ao ver?o", destacou.
O CIR planeja produzir planos para todas as regi?es de Roraima. Ao final, a ideia é concluir o Plano de Adapta??o de Roraima e apresentá-lo ao Ministério do Meio Ambiente como maneira apoiar políticas públicas relacionadas ao clima.
Sobre a COP30
A COP30 é a 30a Conferência das Partes da Conven??o-Quadro das Na??es Unidas sobre Mudan?a do Clima (UNFCCC), que ocorre entre 10 e 21 de novembro em Belém do Pará. O encontro reunirá representantes de Estado, organiza??es multilaterais e da sociedade civil, além do setor privado.
O objetivo é negociar metas de redu??o de emiss?es e definir regras e mecanismos de transparência e financiamento climático. Em junho, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, destacou 30 metas do Brasil para acelerar a a??o climática. Medidas incluem a recupera??o de florestas, amplia??o de fontes renováveis e fortalecimento da seguran?a alimentar.
A agenda em Belém incluirá debates sobre adapta??o, implementa??o do Balan?o Global do Acordo de Paris e a participa??o de povos tradicionais e outras comunidades afetadas, com eventos paralelos previstos para o período.
Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.
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