Casa 'sem endere?o': saiba como funciona o abrigo para mulheres e filhos vítimas de violência doméstica no ES
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13 Sep 2025(atualizado 13/09/2025 às 19h39)"Ele já me jogou escada abaixo, já me bateu. Já deu um pontapé nas minhas costas, eu caí e até
Casa 'sem endere?o': saiba como funciona o abrigo para mulheres e filhos vítimas de violência doméstica no ES
"Ele já me jogou escada abaixo,?osaibacomofuncionaoabrigoparamulheresefilhosvítimasdeviolênciadoméfilmes do blaze já me bateu. Já deu um pontapé nas minhas costas, eu caí e até hoje sinto dormência nos bra?os… Na verdade, eram poucos dias bem e muitos mal, né? Na última vez, ele pegou uma corrente e me deu uma co?a de corrente. Quando a polícia chegou e me levou para a delegacia, eles me perguntaram se eu queria ajuda ou se eu queria voltar para casa. Aí eu falei que eu queria ajuda".
O relato acima é de uma mulher de 49 anos que por sete anos viveu uma rela??o abusiva e marcada pela violência com o ex-companheiro e hoje está acolhida na Casa Abrigo Maria Candida Teixeira, no Espírito Santo.
Ela é uma das 13 vítimas que atualmente recebem atendimento no local. O abrigo público coordenado pelo governo do estado come?ou a funcionar em 2006 e, desde ent?o, já acolheu quase 900 mulheres.
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Nos últimos dias o g1 mostrou dois casos brutais que refor?am como esse tipo de alternativa pode fazer a diferen?a na vida das mulheres: o de Aline Ribeiro da Rosa, de 35 anos, em Aracruz, e o de Andrea Schimid Berger Ribeiro, de 33 anos, em S?o Roque do Cana?. Ambas foram mortas pelos companheiros nas regi?es Norte e Noroeste do estado.
Endere?o sigiloso
1 de 8 Casa ‘sem endere?o’ já acolheu quase 900 mulheres vítimas de violência no Espírito Santo. — Foto: TV Gazeta
A confidencialidade da localiza??o da casa é a principal regra para que ela exista, como explica a gerente de enfrentamento à violência contra a mulher da Secretaria Estadual das Mulheres (SESM), Fabiana Malheiros.
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“Falamos que é um abrigo secreto, sem endere?o. O sigilo é importante porque a mulher está em risco iminente de morte e alguns agressores n?o s?o presos na hora, est?o sendo procurados. Acontece inclusive de a mulher chegar sem denunciar esse agressor. Ent?o, manter o sigilo é importante para que n?o se encontre essa mulher”, disse.
A vítima que aceita ir para o local corta contato com o mundo externo, fica sem sair, sem celular e conversa com a família de maneira restrita e monitorada. Existe o momento para assistir TV, assistir a palestras e realizar atividades. A ideia é que ela fique protegida, se desintoxique da rotina de agress?es, se sinta segura e receba ajuda para recome?ar a vida.
2 de 8 Casa ‘sem endere?o’ já acolheu quase 900 mulheres vítimas de violência no Espírito Santo. — Foto: TV Gazeta
“Quando a gente recolhe os pertences das acolhidas, principalmente o celular, é para que ela realmente n?o tenha acesso com o externo, para que ela tenha um respiro. Muitas vezes, esse celular tem um localizador que o agressor coloca, ou ent?o mensagens de amea?a chegam uma atrás da outra”, contou Fabiana.
N?o existe tempo determinado para que a mulher fique na casa. A princípio, se trabalha com um período de 90 dias, que é avaliado caso a caso, junto à Seguran?a Pública e aos servi?os de prote??o, além considerar o sentimento de seguran?a da mulher acolhida.
A estadia no local n?o é compulsória. Se, eventualmente, a mulher n?o se adaptar à rotina e quiser sair do abrigo antes de completar os três meses, ela assina um termo e deixa o local.
O caminho para chegar a esse lugar parte das delegacias, dos Centros de Referência de Assistência Social (Creas) e dos Núcleos Margaridas, que encaminham os casos para a equipe multidisciplinar do abrigo, que está apto a receber vítimas 24 horas por dia.
"S?o mulheres que n?o têm para onde ir. Ent?o, nós temos uma casa que é do estado, e a gente pode te levar. No atendimento inicial que é feito, nos Creas, por exemplo, eles perguntam: ‘Você tem a casa de um parente pra ir que você se sinta segura?’, ‘você tem algum outro lugar que queira ir para ter sua vida protegida?'. Se a mulher diz que n?o tem para onde ir, eles falam sobre a casa e que ela pode ser levada", explicou a secretária estadual das mulheres, Jacqueline Moraes.
3 de 8 Casa ‘sem endere?o’ já acolheu quase 900 mulheres vítimas de violência no Espírito Santo. — Foto: TV Gazeta
Para Jacqueline Moraes, o importante é tirar as mulheres do risco imediato, refor?ar as possibilidades de ajuda, sem desistir de acolher uma vítima.
“Muitas vezes, a família da mulher agredida ou violentada já desistiu, entende que já alertou sobre o agressor e que é ela que n?o larga… Essa naturaliza??o do ‘ah, ela que gosta de apanhar’ tem que mudar. Nós precisamos entender que estamos em uma sociedade de machismo muito forte, em que quando a mulher n?o quer mais o relacionamento, o homem agride e mata”, falou a secretária.
Acolhimento dos filhos também é feito
4 de 8 Casa ‘sem endere?o’ já acolheu quase 900 mulheres vítimas de violência no Espírito Santo. — Foto: TV Gazeta
A Casa Abrigo Maria Candida Teixeira oferece às mulheres a possibilidade de irem com os filhos para o local. O número de crian?as que já passaram pelo abrigo é maior que o de m?es, mais de 1.100 ao longo dos anos de funcionamento.
"Têm mulheres que chegam com quatro, cinco filhos. Pouquíssimas mulheres n?o trazem os seus filhos, até porque eles também s?o amea?ados e vítimas da rotina de um relacionamento violento", disse Fabiana Malheiros.
5 de 8 Casa ‘sem endere?o’ já acolheu quase 900 mulheres vítimas de violência no Espírito Santo. — Foto: TV Gazeta
No abrigo, as crian?as em idade escolar recebem aulas de uma pedagoga, para minimizar os atrasos no ano letivo e tentar dar a ela de volta um hábito de convivência saudável.
“é muito sofrido, sabe? Porque a gente precisa dizer para elas o que aconteceu para saberem porque est?o em um espa?o que n?o é a comunidade dela, que n?o é a escola dela, que n?o tem os amigos”, apontou Fabiana.
Suporte na saída do abrigo
6 de 8 Casa ‘sem endere?o’ já acolheu quase 900 mulheres vítimas de violência no Espírito Santo. — Foto: TV Gazeta
Quando chega o momento de deixar o abrigo, a acolhida pode ser enviada para a casa de um familiar, em outra cidade ou até mesmo outro estado. é dado suporte para o transporte da mulher e dos filhos, e o processo é acompanhado, monitorado, para saber se ela chegou até o destino.
é feito ainda contato com os servi?os de prote??o da localidade, como assistência social, pólos de capacita??o, redes de ensino para os filhos, para refor?ar a importancia dessa mulher receber suporte e prioridade no atendimento, se necessário.
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Para Fabiana Malheiros, t?o importante quanto entender a necessidade de abrigar a vítima, é dar a essas mulheres a possibilidade para sair da casa em prote??o.
“A nossa preocupa??o maior é que ela saia em seguran?a. Que ela n?o volte a encontrar o agressor e nem a sofrer amea?as. Isso é importante para nós. Ent?o, a gente faz todo um estudo com ela de possibilidades de onde ela pode residir, onde ela pode ficar, para onde pode ir, entre outros”.
Segundo ela, existem mulheres que foram enviadas para outros estados, como Bahia, Ceará e Rio de Janeiro, para encontrar seus familiares. Algumas também foram incluídas em programas de prote??o.
7 de 8 Casa ‘sem endere?o’ já acolheu quase 900 mulheres vítimas de violência no Espírito Santo. — Foto: TV Gazeta
Além da saída em seguran?a, existe uma preocupa??o em oferecer à pessoa oportunidades para progredir do lado de fora e criar autonomia, principalmente, financeira, já que essa dependência é uma das que mais dificulta o afastamento das mulheres.
“A gente deseja que essa mulher se empodere a ponto de enxergar que ela pode trabalhar. Se ela quiser ter ou n?o uma rela??o, ela decide. Nós temos mulheres que passaram pela casa e que voltaram a estudar. Tá trabalhando numa creche, tá trabalhando em alguma coisa e tá cuidando de seus filhos, tocando sua vida. E que vive uma vida mais tranquila”, lembrou Jacqueline Moraes.
A mulher que deu depoimento no come?o desta reportagem faz planos para quando sair do abrigo. "Eu quero ter minha casa para receber as minhas filhas, meu neto, minha família. Eu quero resgatar minha família de volta", contou.
Números violência
8 de 8 Plant?o da Mulher, em Vitória, Espírito Santo. — Foto: José Carlos Schaeffer
O Espírito Santo é o quinto estado do país com maior propor??o de mulheres vítimas de violência praticada pelo parceiro ou ex-parceiro, segundo levantamento divulgado este ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o Painel de Monitoramento da Violência Contra a Mulher, da Secretaria de Estado de Seguran?a Pública (Sesp), 26 mulheres foram vítimas de feminicídio no Espírito Santo em 2024, até 31 de julho. Em 2023, foram 35 casos ao longo de todo o ano.
Evolu??o mensal dos feminicídios no ES em 2024 Mês Casos Janeiro 2 Fevereiro 4 Mar?o 2 Abril 1 Maio 6 Junho 5 Julho (até 31/07) 6 Total: 26
Quase metade dos casos aconteceram na Regi?o Metropolitana de Vitória. 46,15% dos crimes foram cometidos por armas brancas, 19,23% foram com armas de fogo e 34,62% foram cometidos com outros meios.
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